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Alice no país das maravilhas
Com turnê no Brasil a partir de junho, roqueiro lembra show em SP em 1974 para 80 mil pessoas e decreta: "Faltam vilões no rock"
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Alice Cooper gosta de falar de
seu passado. E gosta muito de
falar sobre o Brasil. Ele esteve
aqui em 1995, no festival Monsters of Rock, mas, principalmente, ele esteve aqui em 1974.
Foi o primeiro grande show internacional de rock no país. O
norte-americano tocou para
cerca de 80 mil pessoas no Palácio de Exposições do Anhembi, em São Paulo.
"Sempre adoramos o Brasil.
E o show de 1974, em São Paulo,
foi incrível, nunca me esqueço
daquela apresentação. Nunca
tinha visto um público daquele
tamanho. Até hoje falo desse
show para os meus amigos."
Aos 59 anos, Cooper conversou com a Folha por telefone a
respeito de sua nova turnê pelo
Brasil, que passa por São Paulo
(3 de junho, no Credicard
Hall), Belo Horizonte (5/ 6),
Rio (6/6) e Curitiba (8/6).
Autor de álbuns clássicos como "Love It to Death" (1971) e
"Billion Dollar Babies" (1973),
em que reunia a rapidez do
hard rock com os exageros do
glam rock (plumas, androginia
e roupas extravagantes), Alice
Cooper contextualiza sua relevância para o rock atual:
"Alice Cooper é como Bowie,
Elton John, Mick Jagger", diz o
roqueiro, na terceira pessoa
(Alice Cooper está para Vincent Damon Furnier assim como Pelé está para Edson Arantes do Nascimento...).
"Somos os roqueiros clássicos. Viemos de um período
clássico. E as bandas daquela
época ainda têm grande autoridade. Todos temos uns 30 discos lançados...", diz.
E ele pensa em se aposentar?
"Talvez nos próximos 30 anos."
Entre os anos 60 e 70, Cooper foi um dos primeiros roqueiros a incorporar técnicas
teatrais em suas apresentações. Ao vivo, encarna vários
personagens, e, com o apoio de
jogos de luzes, fumaça, guilhotina e até de uma cobra viva,
encena suas letras como num
"circo de horrores", como sua
performance é conhecida.
"Faço isso desde o final dos
anos 60. Depois muitos foram
atrás. Bowie, Rob Zombie, Marilyn Manson, Slipknot. Mas
fomos nós que começamos."
Cooper justifica as encenações de tortura e sadismo afirmando que "faltam caras maus
no rock and roll".
"O rock é um mundo com
muitos heróis, mas não tem vilões suficientes. Não tem caras
maus, caras que você compararia a Jack, o Estripador, ou Drácula, ou Dr. Jekyl e Mr. Hyde.
Precisamos de bons vilões no
rock. Por isso comecei com Alice Cooper, como um vilão do
rock, um personagem completamente diferente de, digamos,
Paul McCartney. Um personagem que não fosse como os "caras legais"."
As apresentações de Cooper
são como um filme de "terrir".
"O show também tem muita
comédia. Se você vai fazer coisas como enforcamentos e levar cobras vivas ao palco, deve
fazer isso com humor."
Devido a suas letras absurdas
e nonsense, desde os anos 70
Cooper já foi tachado de alienado. "Sou antipolítico. Não gosto
de misturar política com rock.
Política deveria ser deixada
com os políticos", afirma.
"O rock é mais emocional,
trata de amor, morte, comédia,
tragédia, coisas do tipo. O rock
deve ser unidimensional, falar
sobre sexo, estilo de vida, sobre
como somos hipócritas e
cruéis. Seres humanos são
cheios de dicotomia e inconsistências. Daria para falar disso
por um dia inteiro..."
Três décadas atrás, Alice
Cooper era colocado entre os
artistas mais hedonistas e irresponsáveis do rock.
"Na época de "Billion Dollar
Babies", tínhamos nosso avião
particular. E, se estávamos na
Europa e queríamos beber cerveja americana, simplesmente
mandávamos buscar um carregamento de cerveja nos EUA.
Seria muito mais fácil ir ao supermercado, mas não. Gastávamos milhares de dólares mandando um avião buscar caixas
de cerveja... Não nos importávamos em gastar dinheiro. E
era dessa forma que encarávamos as garotas", relembra.
"Vivíamos num período de
excessos. Se você estava numa
banda, você tinha que entrar
nessa vida. Era como um rockstar deveria viver", completa.
E hoje? "Hoje o rock and roll
é um mundo mais esperto. Não
é mais boêmio como antes. As
pessoas estão mais interessadas em fazer dinheiro e guardá-lo, em vez de gastá-lo. Os roqueiros têm cuidado com groupies. É uma época diferente."
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