São Paulo, sábado, 21 de maio de 2011

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"Ele achava que nunca seria lido", lembra filha

Marília de Andrade cita abandono de Oswald e busca interesse de jovens

Litígio entre herdeiros faz com que juiz assuma inventário e decida sobre toda negociação relativa à obra do autor

Coleção Marília de Andrade
Oswald com Marília em casa na Bela Vista, SP,em 1958

DE SÃO PAULO

O nome dela fala por si mesmo: Antonieta Marília de Oswald de Andrade. "Meu nome é uma dedicatória do meu pai à minha mãe [Maria Antonieta d'Alkmin, quinta e última mulher do escritor]. Quer dizer: Antonieta é a musa do Oswald de Andrade", explica ela, lembrando o poema de Tomás Antonio Gonzaga.
Oswald teve quatro filhos. Nonê (com a francesa Kamiá), Rudá (com Pagu) e Marília e Paulo Marcos (com Maria Antonieta). Única viva, Marília, 65, é apontada pela curadoria da Flip como fundamental na concepção e organização da homenagem que a festa literária fará ao modernista.
Abriu seu arquivo pessoal e mostrou o caminho para o centro da Unicamp que guarda o acervo do autor.
Psicóloga com doutorado na Universidade Columbia (EUA), é figura de proa na dança nacional -implantou o curso de dança da Unicamp e integrou nos 70 o Ballet Stagium, pelo qual ajudou a conceber e levar ao Xingu o espetáculo "Kuarup".
"Dos 4 aos 60, nunca parei de dançar", conta. Uma disputa com outros herdeiros (o sobrinho Rudazinho e as cunhadas, viúvas de Nonê e Rudá) fez com que um juiz passasse a responder pelo inventário, decidindo sobre qualquer negociação relativa aos direitos da obra.
A homenagem na Flip, portanto, só foi possível graças ao despacho do juiz. Marília, que por causa do litígio pede reserva sobre detalhes do processo, diz que a cisão familiar é sofrida, mas se diz realizada pela celebração em torno do pai.
(FABIO VICTOR)

 


Folha - Por que acha que escolheram Oswald agora?
Marília de Andrade
- Fui pega totalmente de surpresa. Voltei para a psicologia há dez anos e passei a clinicar numa área que trabalha trauma e corpo. Estava num trabalho intensivíssimo de psicologia aplicada ao trauma quando o Manuel [da Costa Pinto, curador da Flip] me ligou, em novembro. Foi tão emocionante, eu não previa, não tinha nenhum indício de que ele era cogitado, nunca tinha pensado.
Vivi um momento difícil da vida do Oswald, foi muito doloroso vê-lo abandonado, muito frágil e descrente até que seus livros fossem publicados. Como eu era criança [estava prestes a fazer 9 anos quando o pai morreu], fiquei com essa impressão muito marcada, de que ele não seria lido nem reconhecido.
Foram anos e anos e anos de esquecimento. Meu desejo é que Oswaldo finalmente possa ser lido e compreendido pelos jovens.

Como ele era no papel de pai?
Foi um pai muito presente. Éramos uma família muito unida. Era extremamente caseiro, adorava ficar em casa com minha mãe, trabalhando no escritório. Não era o furacão que pensavam -era um furacão de ideias.

Ôswald ou Oswáld? Por que, embora família e amigos sempre usassem Oswáld, de repente todo mundo passou a chamar Ôswald?
As pessoas chamavam Oswáld ou Oswaldo. Acho que [a mudança] foi quando chegou a cultura americana ao país. Nos anos 60, o Lee Oswald matou o Kennedy, esse nome apareceu muito na mídia. Na época do meu pai, ser culto era falar francês.
Eu me aborrecia quando ouvia. Aí Antonio Candido me disse: "Marília, deixa isso de lado, porque o Ôswald é o deles, o Oswaldo é o nosso".


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