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MÚSICA ERUDITA
Masur volta a SP com sua Filarmônica
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
O maestro alemão Kurt Masur,
69, estará em junho, em São Paulo,
com a Filarmônica de Nova York.
Fará dois concertos, com produção da Sociedade de Cultura Artística, e um terceiro, no Ibirapuera,
onde, em 1987, a mesma orquestra, conduzida por Zubin Mehta,
atraiu 100 mil paulistanos.
O concerto gratuito ao ar livre
será no dia 15, e será patrocinado
pelo Citibank. Sua montagem
-novo palco e um equipamento
de som que promete decência na
reprodução do som dos instrumentos- consumirá US$ 360 mil
dos US$ 850 mil que o banco está
gastando na co-produção da turnê. No Cultura Artística, os concertos serão nos dias 16 e 17, ambos
apenas com ingressos pagos (de
R$ 35,00 a R$ 190,00). Ou seja, não
há poltronas previamente ocupadas por assinantes da temporada.
Masur falou à Folha anteontem
por telefone. Eis sua entrevista.
Folha - O sr. concordaria que as
orquestras norte-americanas têm
hoje um padrão técnico superior
ao das européias?
Kurt Masur - Eu não me arriscaria a comparações. Acredito que
não se pode utilizar com as orquestras sinfônicas os mesmos parâmetros aplicados aos times de
futebol. Há por certo diferenças
entre certas orquestras. Se a gente
ouve a Filarmônica de Berlim, sabe-se que se espera uma sonoridade grandiosa. Se a gente ouve a Filarmônica de Nova York, é uma
outra forma de brilhantismo que
está presente, com um frescor
muito nítido.
Folha - Já lhe aconteceu de ficar
enciumado, porque uma outra orquestra apresentava um desempenho melhor que o da sua?
Masur - Certamente que não.
Eu aprecio ouvir todos aqueles que
se desempenham satisfatoriamente, da mesma forma com que outros maestros também apreciam o
que eu faço. Não creio que se deva
fazer esse tipo de comparações.
Folha - Por que a Filarmônica de
Nova York não tem executado com
tanta frequência peças de Olivier
Messiaen, Elliott Carter, William
Walton, autores contemporâneos?
Masur - Isso é um perfeito
"non sense".
Folha - Como então satisfazer o
gosto de quem compra a assinatura da temporada, para quem Mozart tem uma sonoridade mais familiar que a de Messiaen.
Masur - Isso não é verdade. Fizemos recentemente um Messiaen, regido por Zubin Mehta. Fizemos também Elliott Carter e outros compositores contemporâneos norte-americanos. Temos
programadas peças de Sofia Gubaidulina. Essa desconfiança sua
não possui base concreta.
Folha - Para equilibrar seu orçamento, o governo norte-americano cortou os subsídios federais.
Com menos dinheiro, não haveria
um risco de queda na qualidade
técnica das orquestras norte-americanas?
Masur - O prejuízo das orquestras não será tão grande, porque os
subsídios recebidos do governo federal e das administrações municipais nunca representaram uma
parcela significativa em nossos orçamentos. A situação não é tão delicada quanto na Alemanha, onde
as orquestras são 100% financiadas pelo governo. Qualquer corte
no subsídio provoca alterações rápidas e radicais. Por aqui, nos Estados Unidos, estamos todos
conscientes de que precisamos de
todas as orquestras, inclusive as
pequenas, das cidades menores,
que têm uma grande identificação
com seus músicos. Essas pequenas
orquestras sobrevivem graças à
tradição norte-americana de doações privadas.
Folha - Depois de três décadas de
interrupção, o sr. relançou este
ano os concertos da Filarmônica
transmitidos pelo rádio. É porque
as transmissões pela TV não mais
permitiam ampliar o público?
Masur - Acredito ter havido
uma mudança nas pessoas. Peguemos os cidadãos que dirigem no
trânsito. Entre eles, aumenta cada
vez mais a audiência das emissoras
que só transmitem música clássica. O mesmo ocorre entre as donas-de-casa. Há inclusive uma experiência bem-sucedida de educação dos ouvidos do público, comandada por uma emissora de rádio de Boston, que todas as manhãs retransmite concertos gravados ao vivo.
Concertos: Orquestra Filarmônica de Nova
York, dir. Kurt Masur
Quando: 15 de junho, às 11h; 16 e 17 de
junho, às 21h
Onde: parque Ibirapuera (15/6); teatro de
Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196,
tels. 011/256-0223/257-3261) (16 e 17/6)
Quanto: à venda a partir do dia 29, entre
R$ 35,00 e R$ 190,00; grátis (Ibirapuera)
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