São Paulo, quinta, 21 de maio de 1998

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DANÇA
Ver Kirov é como estar diante de um Rembrandt

ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

Desde que o Ballet Kirov se apresentou no Brasil pela primeira vez, dois anos atrás, criou-se a expectativa de que cada nova apresentação da companhia russa no país funciona como a vinda de um museu, cujo acervo contém peças raras e preciosas.
Anteontem, quando inaugurou sua segunda temporada em São Paulo, com "La Bayadère", o Kirov mais uma vez proporcionou a sensação de que seus espetáculos são como obras de Giotto, Raffaello ou Rembrandt, colocadas ao alcance de uma apreciação ao vivo.
Com o Kirov, "La Bayadère" ganha a dimensão que muitas companhias ocidentais deixam escapar. Coreografado em 1877 por Marius Petipa, esse balé inspirado numa personagem que estimulou a imaginação de Goethe possui uma narração que pode se tornar exaustiva nos dois primeiros atos.
No entanto, a competência do Kirov faz a obra fluir, revelando toda sua harmonia e esplendor. Sustentando o brilho da encenação, o casal principal de bailarinos -Altynai Asylmuratova e Igor Zelensky- dançam com o domínio daqueles que convivem com os segredos de "La Bayadère" desde os tempos de escola.
Considerada a melhor bailarina russa, Altynai costuma dizer que "La Bayadère" está em seu sangue. No palco, essa afirmação se confirma. Em cada fração de gesto, Altynai carrega de nuances a personagem título, mostrando o que é ser uma intérprete completa.
Zelensky, por sua vez, persegue a maturidade de Altynai. Mas consegue ser um par à altura, exibindo um controle técnico que concede suavidade mesmo aos saltos mais exigentes.
Na "Bayadère" do Kirov, o famoso último ato -intitulado "O Reino das Sombras"- é um presente aos sentidos. Sob luz prateada, 36 bailarinas introduzem no palco o mundo fugidio dos sonhos.
Com naturalidade, elas revivem a atmosfera que cercou a criação de "La Bayadère". Nascida no teatro Mariinsky, sede do Kirov, a obra de Petipa capta a luminosidade típica das noites russas, que contam com a claridade diurna misturada a sombras até altas horas. Preservando a autenticidade de seu rico acervo, o Kirov é um patrimônio que inspira a mais sensível apreciação.

Espetáculo: Ballet Kirov
Quando: hoje e amanhã, às 20h30; sábado, às 16h e 21h; domingo, às 11h
Onde: Teatro Municipal (pça Ramos de Azevedo, s/nš, tel. 222-8698, região central)
Quanto: R$ 55 até R$ 486 (três espetáculos). Vendas: Cia. dos Ingressos (tel. 3068-0164 e 853-8499) e Alpha Ingressos (tel. 3361-2688)
Patrocinadores: IBM e Telebrás



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