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Palma de Ouro se afasta das mãos de Lars Von Trier
do enviado a Cannes
Já por duas vezes o diretor dinamarquês Lars Von Trier viu a Palma de Ouro escapar de suas mãos.
Em 1991, "Europa" levou o Prêmio Especial do Júri. Há dois anos,
"Ondas do Destino" teve de se
contentar com o Grande Prêmio.
"Idioterne" (Os Idiotas) não merece melhor sorte.
Trier era esperado na noite de
ontem para a exibição pública de
"Idioterne" na competição. Faltou à entrevista coletiva da equipe
do filme, logo após a projeção de
imprensa, durante a manhã. Fez
bem em se poupar.
"Idioterne" é o segundo concorrente de Cannes 98 realizado
sob a inspiração do manifesto
Dogma 95. A
defesa de um cinema mais espontâneo e improvisado, com produção leve, inspirou também "Festen" (Festa de Família), de Thomas Vinterberg, 29. O discípulo
superou o mestre.
"Festen" é um poderoso drama
sobre o esfacelamento de uma família da alta burguesia dinamarquesa. A celebração dos 60 anos
do patriarca serve de palco para a
revelação de seu passado de estuprador de dois dos quatro filhos
ainda quando crianças. O roteiro
tem problemas, mas, no fim das
contas, "Festen" bate longe o desarticulado e infantil filme de Lars
Von Trier.
Também "Idioterne" concentra-se em torno de um grupo restrito de personagens. São trintões
que passam o tempo "combatendo a burguesia", fingindo sofrer
de deficiência mental em lugares
públicos. Vão a um restaurante e
não pagam, aproveitam um clube
para um deles ser banhado pela
namorada nos chuveiros para mulheres, fazem um marmanjo tatuado segurar o pênis de um deles para urinar num bar. É esse o nível
do humor e da contestação de
Trier.
Para adicionar um tempero dramático, a mais nova sócia da gangue revela, perto do final, ter se
afastado da família devido à morte
do filho. É um golpe baixo e inócuo. A superficialidade de "Idioterne" apenas se ressalta com essa
tacada.
Não fosse "Festen", o Dogma
95 pareceria mera molecagem publicitária. Trier anuncia ainda dois
novos filmes de colaboradores seguindo seu decálogo. Serão dirigidos por Soren Kragh-Jacobsen e
Christian Levring.
Ele mesmo já partiu para outra.
Prepara-se para rodar uma "comédia musical" intitulada provisoriamente "Dancer in the Dark"
(Bailarino no Escuro).
A revisita aos gêneros clássicos,
como fizera anteriormente com o
thriller ("Elemento do Crime") e
o melodrama ("Ondas do Destino") originou os pontos mais altos de sua filmografia. Vai partir
do mais baixo.
(AL)
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