São Paulo, Sexta-feira, 21 de Maio de 1999
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MÚSICA ÉTNICA
O brasileiro Ed Motta e o argelino Kadda Cherif Hadria são as atrações de hoje em festival no Sesc Pompéia
Convidados promovem duelo de ritmos

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

A festa vai ser boa. Quem garante são as duas atrações de hoje no festival Todos Os Cantos do Mundo, no Sesc Pompéia: o brasileiro Ed Motta e o argelino Kadda Cherif Hadria, dois músicos que, curiosamente, apesar dos milhares de quilômetros que os separavam até ontem, possuem várias coisas em comum (leia quadro abaixo).
O suingue do brasileiro você já conhece. Acompanhado por uma "big band" de sete músicos, Ed Motta apresenta um repertório baseado no último CD, "Manual Prático para Bailes, Festas e Afins -Vol. 1", em que o cantor ampliou seu leque sonoro. Motta passeia pelo reggae, bossa nova, baladas românticas e, por que não, pelos bons e velhos funk e soul.
Ed Motta esquenta a platéia para o argelino Kadda Cherif Hadria, um dos novos nomes da música rai (o pop árabe produzido principalmente na França). Ganhou notoriedade no país a partir de 1994, quando compôs a canção "Tigidi" para a trilha sonora de "1, 2, 3, Soleil", do francês Bertrand Blier, em que faz um dueto com Cheb Khaled, o embaixador da música rai no mundo.
Mas Hadria não se limita às fronteiras da música rai e investe em ritmos pouco usados pelos seus conterrâneos. Assim como Ed Motta, à beira-mar, mas olhando para o mundo, o argelino revitalizou o rai.
Ao reunir percussão africana e caribenha e cordas árabes e ciganas à sua potente voz, Hadria coloca sangue novo na música franco-árabe.
Com Hadria, é possível ouvir salsa, soul, reggae, música flamenca, jazz, soul e chaabi marroquino. Só falta mesmo ele incluir batidas tecno, hip hop e, é claro, drum'n'bass.
Mas mesmo que não tivesse ido a Paris, onde está radicado, Hadria não teria dificuldades para compor seu repertório, que apresenta acompanhado por uma banda de seis músicos (repare no potente naipe de sopros, a base da banda).
Orã, sua cidade natal, na costa do Mediterrâneo, é conhecida como a capital da Andaluzia fora da Espanha, por suas intensas relações com a música flamenca e cigana.
O argelino trocou Orã por Paris em 1989, mas foi apenas em 1995 que saiu seu primeiro CD, "Diri Kitabri", que é a base do show.
Mas enquanto os arranjos se insinuam para várias culturas, as composições se prendem à tradição árabe. Hadria canta com refinamento histórias de amores não correspondidos, traições e ilusões perdidas.
A trilha ganhou o prêmio César. Depois do show, o espectador mais animado pode continuar o programa assistindo à estréia da companhia de dança do espanhol Joaquín Ruiz, na choperia do Sesc Pompéia, que, como Hadria, investe em coreografias flamencas e de origem cigana.




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