|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Trauma político leva voz embora
da Reportagem Local
A barra não é nada mansa. Os
episódios que engolfaram Wilson
Simonal são pesados e continuam
envoltos por grossa neblina. Pertencem a uma era de extremos, e
talvez até por isso parece conveniente a todo mundo esquecer os
extremos sofridos e superados. É
solução escapatória, e aí tanto ele
quanto seus (inúmeros) inimigos
incorrem num mesmo equívoco.
Simonal tenta apagar o passado,
negando o que diz que não houve,
mas que quase todo mundo pensa
que houve. Presa da própria estratégia, é tratado de forma análoga:
já que o passado incomoda, melhor fingir que o passado -ou seja, Simonal- não existiu.
O equívoco se torna histórico.
Tenta-se apagar, no roldão das
mazelas, o passado musical brasileiro. Seja quem for, possui caudalosa obra, definidora dos contornos da música popular brasileira.
Se optava por certo convencionalismo e pelo populismo, nem assim sua importância pode se reduzir à de esqueleto no armário. Ele
reinventou o suingue vocal, numa
síntese que, como ele declara, une
Jackson do Pandeiro a Miltinho.
Levou bossa nova ao grande público, suingando "Lobo Bobo"
(64). Gravou samba -"As Moças
do Meu Tempo" (65), que há pouco Paulinho da Viola decretou inédita, fora gravada por ele em 65.
Ajudou a moldar a persona artística de Elis Regina. Gravou um Gilberto Gil ainda anônimo. Deu voz
à musicalidade infernal de Jorge
Ben. Lançou parâmetros ao soul
brasileiro com "Nem Vem Que
Não Tem" (67), regravada -em
francês!- por Brigitte Bardot.
O homem que infantilizou a
MPB com bobagens como "Meu
Limão, Meu Limoeiro" (66), "Pára,
Pedro" e "Escravos de Jó" (67)
criou depois desconcertante LP
chamado "Ninguém Proíbe o
Amor" (75), manifesto soul de solidão e desamparo -merecidos ou
não, renderam música bela e influente em largo espectro.
Por quais razões forem, musicais, históricas ou políticas, a voz e
os discos de Simonal precisam ser
entendidos, pesquisados, ouvidos.
Sua voz não pode ser extirpada do
mundo real, sob pena de o Brasil
musical ser confinado a república
tropicalista de bananas.
(PAS)
Show: Wilson Simonal
Onde: teatro Crowne Plaza (r. Frei Caneca,
1.360, tel. 011/289-0985)
Quando: hoje e amanhã, 21h; dom., 20h
Quanto: R$ 20
Texto Anterior: Proscrito, Simonal tenta cantar em SP Próximo Texto: Show - RJ, 19 de maio: Chemical Brothers pensam em música para os palcos Índice
|