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São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2003

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TITÃS DO IÊ-IÊ-IÊ

Coleção reúne 14 discos originais da banda em nove CDs

No palco e atrás dele, Fevers informaram desinformando

DA REPORTAGEM LOCAL

A coleção "The Fevers" prima pelo capricho e pelo cuidado de edição ao agrupar em nove CDs 14 discos originais, dezenas de faixas-bônus e textos históricos. À primeira vista pode-se pensar, no entanto: por que reeditar The Fevers?
As razões são de duas naturezas. A primeira delas é a importância ofuscada que o grupo teve na história do iê-iê-iê. Seus discos individuais nunca chegaram a empolgar por qualidade ou originalidade, mas há um rio de história por trás deles.
Acompanharam Roberto Carlos nos clássicos "Eu Te Darei o Céu" e "Eu Estou Apaixonado por Você" (66), a Wanderléa de "Prova de Fogo" (67), Erasmo Carlos em dois discos inteiros, Leno & Lilian etc.
Não eram só iê-iê-iê. Tocaram com Wilson Simonal em "Mamãe Passou Açúcar em Mim" (65, incluída como bônus). São a banda de apoio de Jorge Ben em "O Bidu" (67), disco de influência essencial sobre o nascente tropicalismo. Era coisa à beça.
Aí vem o segundo segmento da relevância de reavaliar os Fevers em 2003. Seguindo os truques aprendidos no iê-iê-iê, o grupo seguiu obcecado pelo sucesso. Graças a isso, estiveram por trás da maioria das modas musicais dos anos 70 e dos 80.
Nos 70, foram pontas-de-lança do hábito de gravar sucessos gringos em versões ou em inglês, suprindo parcialmente (e sem brilhantismo especial) a carência brasileira por se antenar ao que acontecia no pop-rock mundial.
Serviam à indústria, rendendo lucro imediato e barateando o preço de importar sucessos de fora. Informavam, desinformando.
Miguel Plopschi e Michael Sullivan, em especial, aplicaram mais esse know-how na construção do sucesso atrás dos panos, nos 80. Popularizaram e "acafonaram" Gal Costa, Tim Maia, Sandra de Sá etc. etc. etc. Criaram o mito Xuxa. O cajado do sucesso os abençoou, amaldiçoou e exilou.
Alicerçando-os, havia a fome pelo lucro fácil e voraz, é inegável. Mas havia também o faro artístico (e não só comercial) acumulado de figuras tão díspares quanto Roberto Carlos, Jorge Ben, Tim Maia e Caetano Veloso.
E havia, para os Fevers músicos (e não os magos de estúdios e escritores), doces e simplórias rocks-baladas como "Você Morreu pra Mim" (70), "Mar de Rosas" (71), "Alguém em Meu Caminho" (73) etc. Deus e o diabo moravam no mesmo corpo, desde aquela época. As reedições dos Fevers permite que o Brasil brinque de novo com ambos.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Coleção The Fevers    
Grupo: The Fevers
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 16, em média, cada CD (preço sugerido)



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