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TITÃS DO IÊ-IÊ-IÊ
Coleção reúne 14 discos originais da banda em nove CDs
No palco e atrás dele, Fevers informaram desinformando
DA REPORTAGEM LOCAL
A coleção "The Fevers" prima pelo capricho e pelo cuidado de edição ao agrupar em nove CDs 14 discos originais, dezenas de faixas-bônus e textos históricos. À primeira vista pode-se
pensar, no entanto: por que reeditar The Fevers?
As razões são de duas naturezas.
A primeira delas é a importância
ofuscada que o grupo teve na história do iê-iê-iê. Seus discos individuais nunca chegaram a empolgar por qualidade ou originalidade, mas há um rio de história por
trás deles.
Acompanharam Roberto Carlos nos clássicos "Eu Te Darei o
Céu" e "Eu Estou Apaixonado por
Você" (66), a Wanderléa de "Prova de Fogo" (67), Erasmo Carlos
em dois discos inteiros, Leno &
Lilian etc.
Não eram só iê-iê-iê. Tocaram
com Wilson Simonal em "Mamãe
Passou Açúcar em Mim" (65, incluída como bônus). São a banda
de apoio de Jorge Ben em "O Bidu" (67), disco de influência essencial sobre o nascente tropicalismo. Era coisa à beça.
Aí vem o segundo segmento da
relevância de reavaliar os Fevers
em 2003. Seguindo os truques
aprendidos no iê-iê-iê, o grupo
seguiu obcecado pelo sucesso.
Graças a isso, estiveram por trás
da maioria das modas musicais
dos anos 70 e dos 80.
Nos 70, foram pontas-de-lança
do hábito de gravar sucessos gringos em versões ou em inglês, suprindo parcialmente (e sem brilhantismo especial) a carência
brasileira por se antenar ao que
acontecia no pop-rock mundial.
Serviam à indústria, rendendo
lucro imediato e barateando o
preço de importar sucessos de fora. Informavam, desinformando.
Miguel Plopschi e Michael Sullivan, em especial, aplicaram mais
esse know-how na construção do
sucesso atrás dos panos, nos 80.
Popularizaram e "acafonaram"
Gal Costa, Tim Maia, Sandra de Sá
etc. etc. etc. Criaram o mito Xuxa.
O cajado do sucesso os abençoou,
amaldiçoou e exilou.
Alicerçando-os, havia a fome
pelo lucro fácil e voraz, é inegável.
Mas havia também o faro artístico
(e não só comercial) acumulado
de figuras tão díspares quanto Roberto Carlos, Jorge Ben, Tim Maia
e Caetano Veloso.
E havia, para os Fevers músicos
(e não os magos de estúdios e escritores), doces e simplórias
rocks-baladas como "Você Morreu pra Mim" (70), "Mar de Rosas" (71), "Alguém em Meu Caminho" (73) etc. Deus e o diabo moravam no mesmo corpo, desde
aquela época. As reedições dos
Fevers permite que o Brasil brinque de novo com ambos.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Coleção The Fevers
Grupo: The Fevers
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 16, em média, cada CD
(preço sugerido)
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