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ARTES PLÁSTICAS
"Manifestos" de Veronese ganham novo olhar em Paris
BETTY MILAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
Depois de uma primeira exposição em julho na Capela
da Humanidade em Paris, "Os
Rostos do Silêncio", que retrata os
menores dos presídios brasileiros,
Antonio Veronese faz uma segunda exposição neste mês. Por
ter tido sucesso de crítica -artigos no "Le Figaro" e no "Le Monde"- bem como sucesso de venda. Dos 61 quadros apresentados,
41 foram vendidos na França.
A mostra abriu na mesma Capela da Humanidade e agora
apresenta "Choro", pequena tela
que pertence à rainha Silvia da
Suécia e que se transformou num
ícone mundial da denúncia da
violência contra as crianças no
Brasil e no mundo -a tela já esteve em exposição no Canadá, nos
Estados Unidos, na Suíça e em
Portugal.
Veronese é um pintor autodidata com uma obra considerável.
Quarenta exposições individuais,
além de painéis e polípticos em
lugares chaves : "Save the Children", nas Nações Unidas, "Tensão no Campo", no Congresso
Nacional, em Brasília, "Dormindo na Rua", na Universidade de
Genebra, "Brasileiros", no Museu
Nacional de Belas Artes do Rio de
Janeiro, "Just Kids", símbolo
mundial do Unicef.
Sua pintura é estranha, como é
estranho o objeto da mesma, o
rosto da criança que cresce à margem da vida. Trata-se de um figurativismo expressionista, que tem
raízes no expressionismo alemão
e procura revelar a singularidade
de uma criança que nunca é olhada como tal. Somente como quem
nasceu destinado ao crime e à
morte. Condenado a passar da
rua para o presídio e, finalmente,
para a vala comum.
Através do olhar (que cada um
dos retratos supõe), o pintor dá
vida à criança. Porque a faz existir
com uma particularidade nunca
antes percebida. Como o analista
a faria existir através da sua escuta. A arte de Antonio Veronese é
indissociável da vida e, por isso,
ele fala da sua pintura como se
fosse um manifesto, acrescentando que não é importante as pessoas gostarem dela, quererem
olhar rostos que são a expressão
mesma da perplexidade, do medo
e da impotência. O que importa
para Veronese é a sua arte não
passar desapercebida.
E ela não passa. O que aconteceu em Paris é a prova incontestável disso. Mas antes, Tom Jobim
disse que nessa pintura "estão os
protagonistas da guerra civil carioca" e Jô Soares declarou que ela
"pega pelos olhos e bate fundo no
estômago".
Betty Milan é escritora, psicanalista e
autora de "A Paixão de Lia", entre outros
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