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São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

"Manifestos" de Veronese ganham novo olhar em Paris

BETTY MILAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois de uma primeira exposição em julho na Capela da Humanidade em Paris, "Os Rostos do Silêncio", que retrata os menores dos presídios brasileiros, Antonio Veronese faz uma segunda exposição neste mês. Por ter tido sucesso de crítica -artigos no "Le Figaro" e no "Le Monde"- bem como sucesso de venda. Dos 61 quadros apresentados, 41 foram vendidos na França.
A mostra abriu na mesma Capela da Humanidade e agora apresenta "Choro", pequena tela que pertence à rainha Silvia da Suécia e que se transformou num ícone mundial da denúncia da violência contra as crianças no Brasil e no mundo -a tela já esteve em exposição no Canadá, nos Estados Unidos, na Suíça e em Portugal.
Veronese é um pintor autodidata com uma obra considerável. Quarenta exposições individuais, além de painéis e polípticos em lugares chaves : "Save the Children", nas Nações Unidas, "Tensão no Campo", no Congresso Nacional, em Brasília, "Dormindo na Rua", na Universidade de Genebra, "Brasileiros", no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, "Just Kids", símbolo mundial do Unicef.
Sua pintura é estranha, como é estranho o objeto da mesma, o rosto da criança que cresce à margem da vida. Trata-se de um figurativismo expressionista, que tem raízes no expressionismo alemão e procura revelar a singularidade de uma criança que nunca é olhada como tal. Somente como quem nasceu destinado ao crime e à morte. Condenado a passar da rua para o presídio e, finalmente, para a vala comum.
Através do olhar (que cada um dos retratos supõe), o pintor dá vida à criança. Porque a faz existir com uma particularidade nunca antes percebida. Como o analista a faria existir através da sua escuta. A arte de Antonio Veronese é indissociável da vida e, por isso, ele fala da sua pintura como se fosse um manifesto, acrescentando que não é importante as pessoas gostarem dela, quererem olhar rostos que são a expressão mesma da perplexidade, do medo e da impotência. O que importa para Veronese é a sua arte não passar desapercebida.
E ela não passa. O que aconteceu em Paris é a prova incontestável disso. Mas antes, Tom Jobim disse que nessa pintura "estão os protagonistas da guerra civil carioca" e Jô Soares declarou que ela "pega pelos olhos e bate fundo no estômago".


Betty Milan é escritora, psicanalista e autora de "A Paixão de Lia", entre outros


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