São Paulo, terça-feira, 21 de agosto de 2007

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"Chet Baker era ícone de estilo e atitude"

Bruce Weber afirma que seu filme sobre o lendário trompetista de jazz nunca quis "expor as entranhas" do personagem

Festival Iguatemi FilmeFashion homenageia o fotógrafo, que também é cineasta, e exibe o inédito "Let's Get Lost", de 1988

Bruce Weber/Divulgação
O trompetista norte-americano Chet Baker (1929-1988), que é retratado no documentário "Let's Get Lost", de Bruce Weber


VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele não liga para roupas, mas seus filmes e fotografias, carregados de uma sensualidade ora explícita, ora ingênua, tiveram influência definitiva na publicidade de moda a partir dos anos 80. Campanhas como as que fez para grifes como Calvin Klein e Abercrombie & Fitch, nos anos 90, foram amplamente copiadas e são, até hoje, polêmicas por seu suposto apelo homoerótico. Homenageado pelo festival Iguatemi FilmeFashion, que acontece no shopping Iguatemi (SP) de sexta ao dia 30, o fotógrafo e cineasta americano Bruce Weber, 61, ganhará uma retrospectiva com sua produção em cinema e vídeo.
O destaque é o filme "Let's Get Lost" (1988), sobre o trompetista Chet Baker. Weber, que fará uma videoconferência durante o festival, no dia 26, falou com a Folha; leia a seguir.
 

FOLHA - Em "Let's Get Lost", vários entrevistados comentam o poder de sedução de Chet Baker. Como isso influenciou o documentário?
BRUCE WEBER -
Quando comecei a fazer o filme, eu já era fã de Chet. Ele foi um ícone de estilo e atitude, era extremamente cool. Começamos o documentário um ano antes de sua morte. Chet já estava envelhecido, mas ainda tinha capacidade de seduzir a todos com seu charme. Uma vez que você entendia esse traço de sua personalidade, tudo ficava mais fácil. Às vezes, as pessoas dizem coisas lindas, duras ou interessantes e todos se perguntam se aquilo é verdade. Não quero saber se o que Chet disse era 100% verdade, minha intenção nunca foi expor suas entranhas. Só importa que ele tenha tido coragem de se expor à sua maneira. Não faço documentários tradicionais, não tenho esse tipo de pacto com a verdade.

FOLHA - Quando Chet morreu, em 1988, você estava editando o filme. Como reagiu à notícia?
WEBER -
Eu estava na sala de edição quando alguém chegou com a notícia. Eu e minha equipe deitamos no chão e ficamos em silêncio, alguns choraram. Levantamos e fomos para casa.
Depois de duas semanas, eu disse: "Vamos terminar, em homenagem a ele". Chet tinha problemas com drogas e bebidas, e eu alimentava a fantasia de que poderia salvá-lo. Houve boatos sobre suicídio, mas a versão oficial, na qual acredito, é que ele caiu de uma janela.

FOLHA - Você é colaborador da revista "Vanity Fair". O que achou da edição da revista sobre o Brasil, focada no Rio, que gerou polêmica ao dizer que os brasileiros só querem saber de bundas e festas?
WEBER -
Não é a atitude brasileira que conheço. Nos anos 80, estive no Brasil e fiz um livro de fotos chamado "O Rio de Janeiro". Fiquei impressionado com a cultura de rua. Não me lembro de ir a boates, de gente se aprontando para grandes festas. Eu andava na rua e pensava: como essas pessoas são naturalmente bonitas, espero que nunca se tornem modelos. Na revista, a impressão é que todos querem parecer top models.

FOLHA - O que você acha da fotografia de moda atualmente?
WEBER -
Ainda faço fotos e anúncios de moda, mas estou sempre focado nas pessoas. As roupas não me interessam, porém acho que registrá-las pode ajudar a documentar e entender os hábitos de uma época.

FOLHA - Suas fotos são freqüentemente classificadas como homoeróticas. O que você pensa disso?
WEBER -
Fotografo muitos homens, alguns deles bastante atléticos e bonitos. Algumas imagens têm elementos sexuais. Outras são tão doces quanto podem ser, mostram homens em atitude fraternal. A tensão sexual pode estar no olhar de quem vê. Quanto aos anúncios, como os da Calvin Klein, são sensuais e viraram parâmetros para um certo tipo de publicidade fashion. O fato é que detesto rótulos. Fotografo crianças, velhos, animais. Não procuro modelos que fazem plásticas, injetam botox. Gosto de qualquer beleza natural.

FOLHA - Entre suas fotografias, qual é a que você mais gosta?
WEBER -
Gosto de uma série que fiz com meus pais, que já estavam velhos e descobriram que estavam se apaixonando um pelo outro novamente. Além deles, Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni, que deixaram um vazio no cinema.

FOLHA - Qual foi a pessoa mais sexy que você já fotografou?
WEBER -
[O ator] Robert Mitchum. Quando eu o fotografei, ele tinha mais de 70 anos e ainda transmitia energia sexual.

FOLHA - E a mais bonita?
WEBER -
Nelson Mandela.


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