São Paulo, sexta-feira, 21 de agosto de 2009

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CINEMA/ESTREIAS

Crítica/"A Teta Assustada"

Mistério de filme peruano se encerra rápido demais

Premiado em Berlim, longa trata de jovem que possui batata na vagina

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Raridade nas salas brasileiras, o cinema peruano surge entre nós com um título estranho, "A Teta Assustada", lançado sem nenhuma preparação. O que envolve este filme, no entanto, tem algo de ilustre, a começar pelo Urso de Ouro ganho em Berlim neste ano. Não atrapalha em sua reputação o fato de Claudia Llosa, a diretora e roteirista do filme, ser sobrinha do escritor Mario Vargas Llosa.
O filme começa, com efeito, jogando elementos não estranhos ao realismo cultivado pela literatura latino-americana contemporânea. Num subúrbio de Lima, a jovem Fausta prepara-se para enterrar a mãe, quando, sentindo-se mal, é levada ao hospital, onde o médico informa que ela tem uma batata na vagina. O diagnóstico do tio é um pouco diferente, ela teria o mal da teta assustada.
Que diabo é isso? Mal da teta assustada? Batata na vagina?
Digamos que é intrigante.
Digamos que é uma pena, também, que esses elementos misteriosos logo comecem a ser devidamente mastigados.
O mal da teta assustada é (ou seria) uma doença transmitida por mães que foram estupradas (por militares, supõe-se), durante o combate ao terrorismo.
A transmissão seria pelo próprio leite materno. A batata também se explica: Fausta a introduz na vagina para evitar que seja violentada.
Com dez minutos de filme, aproximadamente, os mistérios do início estão resolvidos. Sentido dado, sentido morto, como diria Antonin Artaud.

Sucessão de macetes
Em grande medida, o filme morre aí. Pois todo o resto, adivinha-se, diz respeito à tensão entre o desejo de viver de Fausta e a sua negação da vida decorrente do trauma materno.
Estamos, em resumidas contas, diante de uma sucessão de macetes do filme de arte, que incluem desde as questões da feminilidade até a oposição mais ou menos permanente entre Fausta e as várias cerimônias de casamento popular (interessantes, no mais) que o filme acompanha. É pouco, considerando-se o que tem de promissor a abertura do filme. Mas é inegável que o longa-metragem tem uma boa narrativa e, perto da média cinematográfica brasileira atual, entre televisiva e publicitária, está longe de fazer feio.


A TETA ASSUSTADA

Direção: Claudia Llosa
Produção: Espanha/Peru, 2009
Com: Magaly Solier, Susi Sánchez, Efraín Solís, Marino Ballón
Onde: Cine UOL Lumière, Espaço Unibanco Pompeia, Frei Caneca Unibanco Arteplex e Reserva Cultural
Classificação: não indicado para menores de 14 anos
Avaliação: regular




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