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CINEMA/ESTREIAS
Crítica/"A Teta Assustada"
Mistério de filme peruano se encerra rápido demais
Premiado em Berlim, longa trata de jovem que possui batata na vagina
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Raridade nas salas brasileiras, o cinema peruano surge entre nós com
um título estranho, "A Teta Assustada", lançado sem nenhuma preparação. O que envolve
este filme, no entanto, tem algo
de ilustre, a começar pelo Urso
de Ouro ganho em Berlim neste
ano. Não atrapalha em sua reputação o fato de Claudia Llosa,
a diretora e roteirista do filme,
ser sobrinha do escritor Mario
Vargas Llosa.
O filme começa, com efeito,
jogando elementos não estranhos ao realismo cultivado pela
literatura latino-americana
contemporânea. Num subúrbio de Lima, a jovem Fausta
prepara-se para enterrar a mãe,
quando, sentindo-se mal, é levada ao hospital, onde o médico
informa que ela tem uma batata na vagina. O diagnóstico do
tio é um pouco diferente, ela teria o mal da teta assustada.
Que diabo é isso? Mal da teta
assustada? Batata na vagina?
Digamos que é intrigante.
Digamos que é uma pena,
também, que esses elementos
misteriosos logo comecem a
ser devidamente mastigados.
O mal da teta assustada é (ou
seria) uma doença transmitida
por mães que foram estupradas
(por militares, supõe-se), durante o combate ao terrorismo.
A transmissão seria pelo próprio leite materno. A batata
também se explica: Fausta a introduz na vagina para evitar
que seja violentada.
Com dez minutos de filme,
aproximadamente, os mistérios do início estão resolvidos.
Sentido dado, sentido morto,
como diria Antonin Artaud.
Sucessão de macetes
Em grande medida, o filme
morre aí. Pois todo o resto, adivinha-se, diz respeito à tensão
entre o desejo de viver de Fausta e a sua negação da vida decorrente do trauma materno.
Estamos, em resumidas contas, diante de uma sucessão de
macetes do filme de arte, que
incluem desde as questões da
feminilidade até a oposição
mais ou menos permanente
entre Fausta e as várias cerimônias de casamento popular (interessantes, no mais) que o filme acompanha.
É pouco, considerando-se o
que tem de promissor a abertura do filme. Mas é inegável que
o longa-metragem tem uma
boa narrativa e, perto da média
cinematográfica brasileira
atual, entre televisiva e publicitária, está longe de fazer feio.
A TETA ASSUSTADA
Direção: Claudia Llosa
Produção: Espanha/Peru, 2009
Com: Magaly Solier, Susi Sánchez,
Efraín Solís, Marino Ballón
Onde: Cine UOL Lumière, Espaço Unibanco Pompeia, Frei Caneca Unibanco
Arteplex e Reserva Cultural
Classificação: não indicado para
menores de 14 anos
Avaliação: regular
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