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SABATINA
FOLHA
JUCA FERREIRA
"Reforma na Lei Rouanet não é contra os artistas consagrados"
Ministro da Cultura afirma que eles não podem ser "discriminados" se a legislação não prevê distinção
O MINISTRO da Cultura, Juca Ferreira, 60,
disse anteontem, em sabatina da Folha,
que não há "impedimento legal nem
moral" para que artistas como Caetano
Veloso e Gilberto Gil recorram a patrocínio via
Rouanet. Voltou ao tema mesmo quando questionado sobre outros assuntos, como o fato de shows
patrocinados ocorrerem em locais de difícil acesso
para quem vai de ônibus. Disse que a lei "é permissiva" e que não estimula contrapartidas maiores dos
artistas, mas que não podem ser "discriminados".
DA REPORTAGEM LOCAL
Ferreira admitiu que a afirmação de Lula de que o Itaú
não gasta "um tostão" com os
projetos do Itaú Cultural estava "factualmente errada". "Não
diria injusta, porque é em torno
de 80% de dinheiro público."
O ministro foi sabatinado pelos jornalistas Sylvia Colombo
(editora da Ilustrada), Gilberto Dimenstein (do Conselho
Editorial da Folha), Marcio
Aith e Ana Paula Sousa.
REFORMA DA LEI
Não é uma reforma contra os
consagrados. Você não estimula o desenvolvimento se não
atende a diversos segmentos.
A decisão passa por várias
etapas. O proponente entra
com a proposta, o Ministério
avalia a legalidade e envia para
um órgão do sistema avaliar. O
parecer vai para a Comissão
Nacional de Incentivo à Cultura [Cnic], que metade é do Ministério, metade é da sociedade
e dos produtores culturais. Foi
aí que houve rejeição ao projeto
do Caetano. [...] A Cnic já tinha
aprovado três projetos da Ivete
Sangalo, o maior fenômeno da
história da música no Brasil.
Como aprovar um e não aprovar outro? Você só pode restringir se a lei prevê essa distinção. [...] A lei é permissiva.
GILBERTO GIL
Quando o Estado, a lei, a sociedade acha inconveniente
que alguém que já fez parte do
Estado tenha acesso, há uma figura que é a quarentena. Não
há impedimento legal nem
acredito que haja um impedimento moral.
CONTRAPARTIDA
São [pequenas as contrapartidas dos artistas]. A lei não
permite uma exigência maior,
mas todos que utilizaram a lei
deram uma contrapartida de
barateamento do custo, para
que pessoas que não teriam
acesso tivessem. É um ganho.
LOBBY
O que ela fez [Paula Lavigne,
ao ligar para o ministro questionando a restrição ao uso da
Lei Rouanet por Caetano] foi
normal. Ela disse: "Caetano está escrevendo um artigo sentando o pau no MinC". Liguei
para ele, que ia a uma sessão de
pilates, e falei: "A gente se fala
depois", porque sei que o pilates relaxa [risos]. Quando ele
voltou, falou: "Pode ser provocação para nos intrigar". Falei:
"Estão usando armas indevidas". O lobby deixa de ser legal
e passa a ser questionável
quando estabelece uma relação
promíscua de privilégios, de beneficiamento de quem decide.
ESTADO X MERCADO
O que temos hoje não é parceria público-privada. Em 18
anos, houve aparência de contribuição da área privada, mas
nove entre dez empresários só
trabalham com 100% de renúncia fiscal. Parceria é associação
de dois ou mais entes que buscam se fortalecer para realizar
um objetivo comum. No caso
da Rouanet, nós entramos com
o dinheiro, e a área privada,
com a decisão. Isso não é parceria, é escândalo.
ITAÚ CULTURAL
O Lula protestou contra isso
[uso só de dinheiro público] e
usou um exemplo que não é o
mais adequado, porque quem
ele citou [o Itaú Cultural] de alguma maneira coloca algum dinheiro. [...] Não diria injusto.
Foi factualmente errado, mas
não injusto, porque é em torno
de 80% de dinheiro público.
CNIC
Recebemos milhares de projetos por setor, e não há possibilidade de uma avaliação mais
profunda. A Cnic será setorizada. Eu às vezes tenho vergonha
de avaliações produzidas pelo
Ministério, que estão aquém
dos projetos que estão avaliando. [...] No caso do Caetano, havia um erro de avaliação. A Cnic
não percebeu que ele propunha
redução do preço do ingresso.
Você há de convir que foi raro
[a intervenção do ministro].
Perante o Estado quem é responsável por qualquer erro é o
ministro, então a última palavra é do ministro. [A comissão]
É consultiva, e não decisória.
VALE-CULTURA
[Questionado sobre se o governo não deveria orientar o
gasto do Vale-Cultura pela população, permitindo formação
de plateia no lugar de uso em
shows de funk, por exemplo]
Somos tratados com uma
suspeição recorrente de dirigismo cultural. Na hora que a
gente lança um instrumento
democrático, vêm demandar
que a gente diga o que a população vai consumir? Os editoriais
da Folha e do "Estadão" foram
uma surpresa. Não pode o Estado dizer: "Isso é meritório, isso não é". Me surpreendeu dois
órgão de imprensa de marca liberal demandarem do Estado
esse tipo de censura.
Não tenho nada contra o
funk. Todas as manifestações
populares foram incompreendidas. É uma manifestação cultural enraizada nas populações
pobres do Rio. Se tem proximidade com a criminalidade é
porque [isso vale para] qualquer coisa que se mexa naquele
ambiente, onde o Estado é frágil. O funk tem mérito do ponto
de vista cultural, é um gênero
cultural como outro qualquer.
IMPRENSA
A imprensa faz uma guerra
de trincheira com o governo. Se
mexeu, toma tiro. A imprensa
vê as árvores, mas não vê a floresta. [...] Eu me dou bem com a
imprensa porque ambos trabalhamos na esfera pública, mas
as vezes ela escorrega um pouco no deslumbramento com o
próprio poder.
CANDIDATURA
Eu não sou candidato, dizendo peremptoriamente. Gosto
desse trabalho e quero ir até
onde puder nisso.
Folha Online
Assista à íntegra da
sabatina
www.folha.com.br/092313
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