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Bienal do Livro mostra hoje Lygia por Lygia
A escritora Lygia Fagundes Telles é homenageada na feira literária de SP
Aos 87, autora trabalha na reedição completa de sua obra; "Só não morri ainda por causa da literatura", afirma ela
MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO
No último dia 13, ao participar de uma homenagem a
Monteiro Lobato na Bienal
do Livro de São Paulo, a escritora Lygia Fagundes Telles
foi abordada por Rafael, garoto de 8 anos.
Era o dia da feira literária
dedicada ao vampirismo.
Após pedir um autógrafo, o
garoto emendou: "A senhora
também escreve livro de
vampiro?".
Lygia ri ao relembrar a história. "E não é que eu realmente já escrevi?", diz ela.
Trata-se do conto "Potyra", do livro "Invenção e Memória" (2000). É a história de
um antigo vampiro europeu
que confessa a uma estudante seu amor pela índia que dá
nome ao texto.
O vampirismo à la Lygia,
porém, nada tem de assustador; é antes uma melancólica
história de solidão.
A escritora volta hoje à Bienal, desta vez vez para ser homenageada. A mesa "Lygia
por Lygia", às 17 horas, terá a
participação do jornalista
Paulo Markun e da escritora
Maria Adelaide Amaral.
Lygia completou 87 anos
em abril. "A velhice é um horror", diz. Aparenta, porém,
bem menos idade. Da juventude, conserva intactas a elegância e a vaidade.
IDADE DA PEDRA
"Sou da idade da pedra
lascada. Me cuido para as
crianças não fugirem de
mim", brinca. Hoje Lygia dedica-se a revisar os próprios
livros. A obra completa da
autora está sendo reeditada
pela editora Cia. das Letras.
Ela cuida agora de corrigir
pequenos erros cometidos
em edições anteriores de "A
Disciplina do Amor" (1980),
seu livro predileto.
Ao contrário de muitos escritores, Lygia tem prazer em
ler o que escreve. "Entro nas
mais diferentes personagens: gays, lésbicas, velhos,
jovens. Vivo outras vidas. É
muito bom." Tem especial
carinho pelo gato Rahul, de
"As Horas Nuas" (1989).
Sarcástico, o gato foi um
militar do império romano
em uma vida passada. Ela diz
que foi o personagem mais
difícil que já criou.
De inédito, a escritora prepara um conto, já quase maduro em sua cabeça, mas sobre o qual não revela nada.
"A ideia é como uma fruta.
Você não colhe uma manga
verde. Tem que ter paciência.
De repente a manga cai na
sua mão," explica.
O sorriso constante só fica
amuado quando fala do segundo marido, Paulo Emílio
Sales Gomes, crítico de cinema, e do filho Goffredo, ambos já mortos.
"Minha vocação me salvou. Acredito que só não
morri ainda por causa da literatura", segreda.
BIENAL INTERNACIONAL DO
LIVRO DE SÃO PAULO
QUANDO até amanhã
HORÁRIO hoje, das 10h às 22h;
amanhã, das 10h às 20h
ONDE Anhembi (av. Olavo
Fontoura, 1.209, tel. 0/xx/11/
3060-5000)
QUANTO R$ 10
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