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CRÍTICA LIVRO
Domingos de Oliveira faz apanhado de uma vida dedicada à criação artística
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
A arte de transformar o vivido em obra aberta. "Minha
Vida no Teatro", de Domingos de Oliveira, não é uma
autobiografia comum. Uma
curta introdução que resgata
sua história como ator, dramaturgo e encenador não esgota o assunto.
Por exemplo, a menção a
"Do Fundo do Lago Escuro",
talvez seu melhor drama, só
aparece tímida no fim, no ensaio republicado em que propõe sua poética teatral.
Mesmo a reunião das nove
peças escritas na última década, parte principal do livro, não configura uma antologia convencional.
Textos curtos e bem-humorados de ligação expõem
o contexto de criação das peças, mas sem precisar datas.
Tudo nesse volume de letras
garrafais e efeitos gráficos
duvidosos é idiossincrático.
Artista que, aos 74 anos, já
assinou cerca de 150 realizações entre escritos, encenações dirigidas e atuadas e filmes rodados, Domingos imprime nesse apanhado de
uma vida dedicada à criação
dramática as mesmas características de toda sua obra.
Irreverência e humor cáustico temperados em frases recorrentes de efeito.
De fato, a narrativa de Oliveira revela a si mesmo como
um personagem solar, sem
preconceitos e pleno de experiências ricas, e minimiza
os aspectos sombrios.
Essa alegria manifesta e o
modo leve como encara suas
criações transbordam dos
textos confessionais para essas suas últimas peças.
Em todas elas, das mais
dramáticas às mais farsescas, há um travo cômico comum, o que as insere numa
linhagem que tem João Bethencourt e Millôr Fernandes
como principais referências.
Eclético como autor, Domingos também trabalhou
bastante na TV, dirigindo todo o tipo de produções.
É esse olhar de dentro da
Globo para o meio teatral do
Rio que o habilita, na sua breve estética, a desancar astros
globais como irremediavelmente perdidos para a cena.
Seu olhar para o teatro, em
reflexões oferecidas aos iniciantes, reflete, pois, essas
influências e circunstâncias.
De algum modo, Oliveira
perfila ainda com a escola da
crítica na primeira metade do
século 20, para quem teatro é
texto e o poeta dramático o
seu artífice. Como um dramaturgo e encenador de muitos
sucessos ele fala de cátedra.
Porém, considerando-se a
teatralidade que se impôs
desde os anos 60, essa visão
desvela, afinal, o traço conservador do personagem libertário em quem se projeta.
MINHA VIDA NO TEATRO
AUTOR Domingos de Oliveira
EDITORA Leya Brasil
QUANTO R$ 59,90 (416 págs.)
AVALIAÇÃO bom
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