Após concerto emocionante anteontem, violinista israelense volta a reger orquestra hoje na Sala São Paulo

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Quem assistiu ao concerto de câmara dos Zukerman Chamber Players, domingo na Sala São Paulo, poderia até prever que a serenidade expressiva do violinista e regente israelense Pinchas Zukerman pudesse, ao longo da semana, contagiar a Osesp. Mas seria difícil imaginar essa musicalidade inundada de tanto prazer e emoção, como ocorreu no concerto de quinta-feira passada. No domingo, os cinco músicos do grupo radicado no Canadá haviam tocado Brahms (1833-1897), Schumann (1810-1856) e de novo Brahms (no bis); já o programa de Zukerman com a Osesp incluiu Bach (1685-1750), Haydn (1732-1809), Max Bruch (1838-1920) e, mais uma vez, Brahms.
A violinista Jessica Linnebach e a violoncelista Amanda Forsyth - que integram o grupo de câmara - foram também solistas da Osesp. Zukerman atuou ao mesmo tempo como regente e solista no "Concerto para Dois Violinos" BWV 1043 de Bach e no "Concerto para Violino" em dó maior de Haydn.
Quase não precisou reger: a Osesp seguia sozinha, atenta a cada intenção, guiada sutilmente pelo spalla Emmanuelle Baldini, um dos responsáveis pelo nível - sem precedentes no país - conquistado pelas cordas da orquestra. Cada grau adicional de relaxamento e leveza sugerido por Zukerman resultava em som mais encorpado e equalizado, e um dos destaques foi a brilhante interpretação de Forsyth nas obras com cello solista de Bruch.
Mas o ponto culminante foram as "Variações sobre um Tema de Haydn", de Brahms, exemplo de como a música pode colocar em perspectiva a sua própria história: a partir de um tema clássico, o compositor manipula a harmonia romântica com técnica barroca, e o finale usa um simples baixo de cinco compassos para construir derradeiras "variações sobre variações".
Era possível ver a alegria estampada no rosto de todos. Foi então que, entre aplausos, Zukerman catou um instrumento na orquestra para solar a singela "Berceuse", do mesmo Brahms. O público cantarolou junto, ao que o maestro exclamou: "Bravo!", e saiu sorrindo, abraçado com os músicos.