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Anteprojeto em estudo no governo prevê restrições a oligopólios e novas regras para toda a radiodifusão; texto está na Internet
Vem aí a lei que pode mudar a TV brasileira
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
A lei é muito complexa. A frase é
do ministro das Comunicações,
Pimenta da Veiga, sobre a esperada e muito adiada Lei de Comunicação Eletrônica de Massa. Na
descrição de Laerte Rímoli, assessor especial do ministério, "a coisa está estagnada".
A lei vai determinar as novas regras de propriedade, programação e outras para a radiodifusão.
Radiodifusão quer dizer, no que
mais importa, a TV aberta: Globo,
Bandeirantes etc.
Em janeiro, quando Pimenta
tomou posse, não gostou do que
encontrou. "Foi a partir do que tinha aqui", diz Rímoli, "que ele
constatou que era melhor ir à sociedade, ao contato com os segmentos interessados". Desde então, afirma Rímoli, não foram feitas novas versões para um eventual projeto de lei.
O ministro, que considera o
projeto o mais importante de sua
pasta, promete amplo debate,
com "consultas públicas". Não é o
que acontece desde que começaram os estudos, há dois anos, na
gestão Sérgio Motta.
E não foi o que aconteceu em
maio último, no seminário organizado com o intuito de abrir o
debate -e que resultou em frustração e teorias de conspiração. O
anteprojeto foi mantido em segredo, para poucos olhos.
Não mais. Pimenta diz que não
leu e não pode dizer se é verdadeiro, mas um texto que chegou à Internet, num site de Porto Alegre, é
um esboço do projeto em desenvolvimento. Foi o que o jornal
apurou no ministério.
Quem teve acesso ao texto e colocou no ar foi Daniel Herz, coordenador do Fórum Nacional pela
Democratização das Comunicações e editor do site (http://www.acessocom.com.br/lei-comunica.htm). Diz que o fez para derrubar a "cortina de silêncio
criada pelo ministério em torno
da elaboração dessa lei" e para
contribuir com um "verdadeiro
debate público".
O senador Pedro Simon
(PMDB-RS), presidente da subcomissão permanente de Rádio e
TV no Senado, também questiona a falta de discussão. "Tem que
ter", diz. "Se não tiver debate lá,
vamos ter que fazer um longo debate aqui no Congresso."
Mas Simon, a exemplo de Herz,
vê pontos positivos no anteprojeto. "Ele estabelece restrições à formação de monopólio", diz o senador, referindo-se especificamente à proibição da propriedade
cruzada de TV aberta e cabo.
O texto, que estava então na
quinta versão, datada de 10 de dezembro de 98, ou seja, semanas
antes da posse de Pimenta, é muito extenso, atingindo cerca de 60
páginas quando impresso. E é
muito abrangente.
"É um catatau, muito amplo e
confuso", avalia Antônio Telles,
vice-presidente da Bandeirantes.
"É o tipo de lei feita para não ser
cumprida." Embora avisando que
precisa se debruçar um pouco
mais sobre o texto, Telles já distingue deficiências.
Quanto às concessões: "O anteprojeto fala em infrações gravíssimas que permitiriam o cancelamento da concessão por via judicial e depois dá quase 30 "infrações gravíssimas". Por outro lado,
fica quase impossível não renovar. Seriam necessários 240 votos
no Congresso, a descoberto, para
não renovar a concessão".
O anteprojeto entra em áreas
como TV por assinatura, mudando muitas das regras previstas na
lei do cabo (8.977/95). Mudanças
que, para o advogado Fernando
Fortes, especialista em telecomunicações e consultor jurídico da
TVA e da TV Cultura, trazem
"enormes retrocessos".
Destaca a falta de licitação: "Não
há previsão de licitação e, mais
grave, não há previsão de pagamento pela autorização. É loucura. Para operar uma estação de
FM, tem que pagar. Para operar
cabo ou DTH (satélite) em todo o
território nacional, não".
Em outros campos, como o da
propriedade cruzada, o anteprojeto é considerado liberalizante,
até contrário aos interesses das
empresas do setor. Segundo Herz,
porém, com a mudança no ministério "a linha de elaboração sofreu
uma guinada, mostrando-se muito mais permeável às posições do
empresariado".
Não segundo o ministério. Lá a
coisa está estagnada.
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