|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"TALVEZ SONHAR"
Nova coreografia foi apresentada em SP pelo grupo, que atualmente excursiona pelo interior de MG e Rio
Companhia Cisne Negro dança sonhos de sonhos
Lalo de Almeida/Folha Imagem
|
A Cia. Cisne Negro em ensaio do espetáculo "Talvez Sonhar..." |
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
A Companhia Cisne Negro
de Dança estreou, dia 12 de
setembro, a coreografia "Talvez
Sonhar..." de Denise Namura e
Michael Bugdahn investindo
num novo estilo. Com alta qualidade técnica, o grupo se propõe a
trabalhar com a dança-teatro, incomum em seu repertório.
Antes de começar a dança, uma
conversa solta, de sentido impreciso, ou (entre aspas) "surrealista". No limite do sentimental: "o
mundo gira rápido em volta de si
mesmo", "já morri, mas...", "você
se sente feliz?". Até que a cortina
se abre e o grupo aparece em cena,
movimentando-se em pequenos
blocos, com gestos cortados e repetidos, redesenhando o espaço.
A combinação dos vários movimentos tem uma força que, de cara, impulsiona o espetáculo.
A dança aqui se cruza com outras formas de expressão, como a
mímica, a fala e o teatro. Namura
e Bugdahn são donos de um movimento muito característico, difícil de ser assimilado com pouco
tempo. Seus gestos carregam sentido próprio. Seus corpos se dão
ao espaço com uma naturalidade
de muitos anos de cena.
Aqui, contudo, o ambicionado
mundo de imagens alegóricas talvez ainda esteja preso demais às
marcações. Os gestos são flutuantes, sem o peso corporal característico. As falas, de sua parte, ainda soam meio impostadas -com
exceções que divertem a platéia.
Aliás, o humor é outra característica forte dos dois criadores.
Por outro lado, o desafio da novidade estimula os bailarinos. Se o
grupo ainda não consegue explorar essa linguagem teatral mais do
que timidamente, já dá indícios
de que a coreografia poderá alcançar logo seu acento e sua cor.
Travesseiros, pijamas, sonhos: a
dança tematiza as relações com o
outro. Seu espelho, desejos reprimidos, cada um se expressando
por uma variedade de modos. Cada bailarino tem de construir, aos
poucos, uma personalidade. A cada cena, o grupo se reúne e dança
em coro: o coro dos contentes, o
coro dos descontentes.
Vale o sonho, que deve durar
uma vida toda. A sentença tem a
verdade (de sentido) e a vulnerabilidade (de registro) que equilibram essa nova produção de uma
de nossas melhores companhias.
Avaliação:
Texto Anterior: Crítica: Quem se importa com a audiência? Próximo Texto: Televisão: Gugu se viu em uma pegadona Índice
|