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São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2003

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"TALVEZ SONHAR"

Nova coreografia foi apresentada em SP pelo grupo, que atualmente excursiona pelo interior de MG e Rio

Companhia Cisne Negro dança sonhos de sonhos

Lalo de Almeida/Folha Imagem
A Cia. Cisne Negro em ensaio do espetáculo "Talvez Sonhar..."


INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

A Companhia Cisne Negro de Dança estreou, dia 12 de setembro, a coreografia "Talvez Sonhar..." de Denise Namura e Michael Bugdahn investindo num novo estilo. Com alta qualidade técnica, o grupo se propõe a trabalhar com a dança-teatro, incomum em seu repertório.
Antes de começar a dança, uma conversa solta, de sentido impreciso, ou (entre aspas) "surrealista". No limite do sentimental: "o mundo gira rápido em volta de si mesmo", "já morri, mas...", "você se sente feliz?". Até que a cortina se abre e o grupo aparece em cena, movimentando-se em pequenos blocos, com gestos cortados e repetidos, redesenhando o espaço. A combinação dos vários movimentos tem uma força que, de cara, impulsiona o espetáculo.
A dança aqui se cruza com outras formas de expressão, como a mímica, a fala e o teatro. Namura e Bugdahn são donos de um movimento muito característico, difícil de ser assimilado com pouco tempo. Seus gestos carregam sentido próprio. Seus corpos se dão ao espaço com uma naturalidade de muitos anos de cena.
Aqui, contudo, o ambicionado mundo de imagens alegóricas talvez ainda esteja preso demais às marcações. Os gestos são flutuantes, sem o peso corporal característico. As falas, de sua parte, ainda soam meio impostadas -com exceções que divertem a platéia. Aliás, o humor é outra característica forte dos dois criadores.
Por outro lado, o desafio da novidade estimula os bailarinos. Se o grupo ainda não consegue explorar essa linguagem teatral mais do que timidamente, já dá indícios de que a coreografia poderá alcançar logo seu acento e sua cor.
Travesseiros, pijamas, sonhos: a dança tematiza as relações com o outro. Seu espelho, desejos reprimidos, cada um se expressando por uma variedade de modos. Cada bailarino tem de construir, aos poucos, uma personalidade. A cada cena, o grupo se reúne e dança em coro: o coro dos contentes, o coro dos descontentes.
Vale o sonho, que deve durar uma vida toda. A sentença tem a verdade (de sentido) e a vulnerabilidade (de registro) que equilibram essa nova produção de uma de nossas melhores companhias.


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