|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Livro revela amores e ódios em torno de Walter Avancini
MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Como estaria a desafortunada
Sol (Deborah Secco) -a protagonista de "América", que não obteve aprovação pública- nas mãos
de Walter Avancini (1935-2001),
um dos mais controversos magos
da televisão brasileira, se estivesse
vivo e na direção da novela?
Eis a reação à leitura de "Walter
Avancini - O Último Artesão"
(326 págs., ed. Gryphus, R$ 49),
uma "biografia" estabelecida a
partir de mais de 50 depoimentos
de amor e ódio ao diretor das históricas "Gabriela", "Selva de Pedra", "Saramandaia", "Grande
Sertão: Veredas" e "Xica da Silva".
"Ele eliminava quem não gostava, mas eu não acompanho a novela porque tenho que ver a reprise de "Xica da Silva'; não sei se ele
mataria a Sol ou investiria nela
por causa da atriz", diz a autora
Ângela Britto, 37.
Os textos trazem respaldo para
a afirmação. Quando ele não gostava do desempenho ou travava
alguma rivalidade com o ator, demitia e mandava matar o personagem -ou o colocava doente
numa cama pelo resto da novela.
Numa época em que não se seguia roteiro definido e que se experimentava, Avancini era respeitado. A maioria dos depoimentos
revela que o diretor assombrava
elencos e equipes técnicas.
Entrou para a história pela ousadia na realização de projetos
com baixo orçamento, especialmente na extinta Manchete, e pela
forma natural de fazer televisão.
É o que conta, abaixo, a autora
do livro, que será lançado hoje em
São Paulo na Livraria da Vila (r.
Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena).
Folha - Por que Walter Avancini?
Ângela Britto - Ele foi um gênio.
Disciplinador; anjo e demônio;
generoso e extremamente duro;
fascinante e irritante; insubstituível. Tudo o que temos de linguagem e estética na TV é graças a ele.
Folha - Que marca ele deixou?
Britto - Ele foi o maior formador
de atores da televisão brasileira.
Ele batia o olho em meninas que
viraram grandes atrizes como Regina Duarte, Nívea Maria e Lucinha Lins, entre outras. É uma
oportunidade de novos atores
buscarem nele a disciplina, a relação de trabalho e como se posicionar no set. Ele não gostava que o
ator se deslumbrasse com o sucesso, porque isso atrapalhava o
ambiente de trabalho.
Folha - A TV mudou depois de sua
morte?
Britto - Hoje em dia a coisa ficou
muito industrial. As novelas vão
muito pelo ibope. Se o Avancini
acreditava no que estava fazendo,
ele continuava. Ele tinha coragem
e coerência. Mas tem muita gente
que segue bem a cartilha dele, é
caprichosa.
Folha - Ele era um carrasco dos estúdios, como contam os artistas?
Britto - Era, mas não gratuitamente. Se a cena não acontecia,
ele puxava pelo lado pessoal e fazia o ator se superar.
Folha - Você falou apenas com
profissionais. Por que não procurou familiares?
Britto - Conheci o Avancini
quando eu era repórter na Manchete. Nunca fomos amigos, mas
éramos encantados um com o outro. Quando a Manchete acabou,
voltei ao teatro e busquei ter aulas
com quem aprendeu com o
Avancini. Escrevi o livro para
mim. Fui buscá-lo na memória de
quem trabalhou com ele, profissionalmente. Acho que ele merece
mais que um livro. Não tive a pretensão de fazer uma biografia.
Texto Anterior: Outro lado: Autora lembra ataques sofridos pela internet Próximo Texto: Patrimônio: Memorial sinaliza revitalização em meio às rachaduras Índice
|