São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Livro revela amores e ódios em torno de Walter Avancini

MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Como estaria a desafortunada Sol (Deborah Secco) -a protagonista de "América", que não obteve aprovação pública- nas mãos de Walter Avancini (1935-2001), um dos mais controversos magos da televisão brasileira, se estivesse vivo e na direção da novela?
Eis a reação à leitura de "Walter Avancini - O Último Artesão" (326 págs., ed. Gryphus, R$ 49), uma "biografia" estabelecida a partir de mais de 50 depoimentos de amor e ódio ao diretor das históricas "Gabriela", "Selva de Pedra", "Saramandaia", "Grande Sertão: Veredas" e "Xica da Silva".
"Ele eliminava quem não gostava, mas eu não acompanho a novela porque tenho que ver a reprise de "Xica da Silva'; não sei se ele mataria a Sol ou investiria nela por causa da atriz", diz a autora Ângela Britto, 37.
Os textos trazem respaldo para a afirmação. Quando ele não gostava do desempenho ou travava alguma rivalidade com o ator, demitia e mandava matar o personagem -ou o colocava doente numa cama pelo resto da novela.
Numa época em que não se seguia roteiro definido e que se experimentava, Avancini era respeitado. A maioria dos depoimentos revela que o diretor assombrava elencos e equipes técnicas.
Entrou para a história pela ousadia na realização de projetos com baixo orçamento, especialmente na extinta Manchete, e pela forma natural de fazer televisão.
É o que conta, abaixo, a autora do livro, que será lançado hoje em São Paulo na Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena).

 

Folha - Por que Walter Avancini?
Ângela Britto -
Ele foi um gênio. Disciplinador; anjo e demônio; generoso e extremamente duro; fascinante e irritante; insubstituível. Tudo o que temos de linguagem e estética na TV é graças a ele.

Folha - Que marca ele deixou?
Britto -
Ele foi o maior formador de atores da televisão brasileira. Ele batia o olho em meninas que viraram grandes atrizes como Regina Duarte, Nívea Maria e Lucinha Lins, entre outras. É uma oportunidade de novos atores buscarem nele a disciplina, a relação de trabalho e como se posicionar no set. Ele não gostava que o ator se deslumbrasse com o sucesso, porque isso atrapalhava o ambiente de trabalho.

Folha - A TV mudou depois de sua morte?
Britto -
Hoje em dia a coisa ficou muito industrial. As novelas vão muito pelo ibope. Se o Avancini acreditava no que estava fazendo, ele continuava. Ele tinha coragem e coerência. Mas tem muita gente que segue bem a cartilha dele, é caprichosa.

Folha - Ele era um carrasco dos estúdios, como contam os artistas?
Britto -
Era, mas não gratuitamente. Se a cena não acontecia, ele puxava pelo lado pessoal e fazia o ator se superar.

Folha - Você falou apenas com profissionais. Por que não procurou familiares?
Britto -
Conheci o Avancini quando eu era repórter na Manchete. Nunca fomos amigos, mas éramos encantados um com o outro. Quando a Manchete acabou, voltei ao teatro e busquei ter aulas com quem aprendeu com o Avancini. Escrevi o livro para mim. Fui buscá-lo na memória de quem trabalhou com ele, profissionalmente. Acho que ele merece mais que um livro. Não tive a pretensão de fazer uma biografia.


Texto Anterior: Outro lado: Autora lembra ataques sofridos pela internet
Próximo Texto: Patrimônio: Memorial sinaliza revitalização em meio às rachaduras
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.