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BIA ABRAMO
A insistência no realismo
"Três Irmãs" cai na armadilha realista; leveza da trama pode ficar comprometida
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A NOVA NOVELA das sete, "Três
Irmãs", parece ter roubado
dos cenários espetaculares de
seus primeiros capítulos um pouco
da luz do sol e da transparência do
mar. Se continuar no mesmo passo
da semana de estréia, pode recuperar uma certa leveza que anda ausente ou travestida em escracho.
Juventude e surfe são temas recorrentes de Antonio Calmon, que
fez os clássicos "Menino do Rio"
(1982) e "Garota Dourada" (1984) no
cinema e, na TV, foi roteirista de algumas das melhores produções juvenis para a Globo, como a série "Armação Ilimitada" e as novelas "Top
Model" (1989/1990, como colaborador de Walter Negrão) e "Vamp"
(1991/1992).
"Três Irmãs" combina alguns elementos de suas predecessoras com
tramas amorosas que podem se esperar de um elenco jovem e bonito.
Há um certo clima fantástico nos
personagens de José Wilker, o pai
morto das três irmãs do título, que
passa a se comunicar com a ex-mulher como um fantasma, e de Regina
Duarte, uma visitante misteriosa
que chega à cidade fictícia de Caramirim vestida como uma Minnie gigante e falando com sotaque de Porcina (sotaque, aliás, que só se manifestou ali pela quinta cena em que a
personagem aparece...).
Há também uma aposta naquilo
que parece algo que arrisco a chamar
de "realismo inverossímil". É como
se aquele realismo dos anos 70/80
das telenovelas tivesse de se manter
a qualquer custo (Como forma de
angariar prestígio para a novela? Por
falta de coisa melhor?), mas que, ao
mesmo tempo, recusa qualquer verossimilhança incômoda.
Explicando melhor, em "Três Irmãs" haverá um embate em torno da
preservação de uma praia paradisíaca e de sua exploração turística globalizada. Mas, ao mesmo tempo, a
Globo não parece querer mais se arriscar a fazer novelas que tenham de
dispensar as fórmulas acertadas. Assim, o cenário da cidadezinha parece
o pátio de um "mall" qualquer da
Barra da Tijuca e nada com qualquer
cidade litorânea do Brasil.
O mesmo pode ser dito dos personagens, quase todos tipos que poderiam, a rigor, estar em qualquer novela urbana. Aqui e ali, faz-se uma
caracterização superficial nas roupas, mas, de resto, nenhum esforço.
Em relação aos personagens, o
elenco simpático e com boas surpresas -Paulinho Vilhena, Cláudia
Abreu de perua do bem, o trio de vigaristas Luis Gustavo, Graziella Moretto e Otávio Augusto, Vera Holtz
como vilã- pode, eventualmente,
emprestar graça aos tipos batidos. A
tarefa mais espinhosa, entretanto,
será a de se esquivar das armadilhas
desse realismo de meia-tigela.
biabramo.tv@uol.com.br
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