São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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BIA ABRAMO

A insistência no realismo


"Três Irmãs" cai na armadilha realista; leveza da trama pode ficar comprometida

A NOVA NOVELA das sete, "Três Irmãs", parece ter roubado dos cenários espetaculares de seus primeiros capítulos um pouco da luz do sol e da transparência do mar. Se continuar no mesmo passo da semana de estréia, pode recuperar uma certa leveza que anda ausente ou travestida em escracho.
Juventude e surfe são temas recorrentes de Antonio Calmon, que fez os clássicos "Menino do Rio" (1982) e "Garota Dourada" (1984) no cinema e, na TV, foi roteirista de algumas das melhores produções juvenis para a Globo, como a série "Armação Ilimitada" e as novelas "Top Model" (1989/1990, como colaborador de Walter Negrão) e "Vamp" (1991/1992).
"Três Irmãs" combina alguns elementos de suas predecessoras com tramas amorosas que podem se esperar de um elenco jovem e bonito. Há um certo clima fantástico nos personagens de José Wilker, o pai morto das três irmãs do título, que passa a se comunicar com a ex-mulher como um fantasma, e de Regina Duarte, uma visitante misteriosa que chega à cidade fictícia de Caramirim vestida como uma Minnie gigante e falando com sotaque de Porcina (sotaque, aliás, que só se manifestou ali pela quinta cena em que a personagem aparece...).
Há também uma aposta naquilo que parece algo que arrisco a chamar de "realismo inverossímil". É como se aquele realismo dos anos 70/80 das telenovelas tivesse de se manter a qualquer custo (Como forma de angariar prestígio para a novela? Por falta de coisa melhor?), mas que, ao mesmo tempo, recusa qualquer verossimilhança incômoda.
Explicando melhor, em "Três Irmãs" haverá um embate em torno da preservação de uma praia paradisíaca e de sua exploração turística globalizada. Mas, ao mesmo tempo, a Globo não parece querer mais se arriscar a fazer novelas que tenham de dispensar as fórmulas acertadas. Assim, o cenário da cidadezinha parece o pátio de um "mall" qualquer da Barra da Tijuca e nada com qualquer cidade litorânea do Brasil.
O mesmo pode ser dito dos personagens, quase todos tipos que poderiam, a rigor, estar em qualquer novela urbana. Aqui e ali, faz-se uma caracterização superficial nas roupas, mas, de resto, nenhum esforço.
Em relação aos personagens, o elenco simpático e com boas surpresas -Paulinho Vilhena, Cláudia Abreu de perua do bem, o trio de vigaristas Luis Gustavo, Graziella Moretto e Otávio Augusto, Vera Holtz como vilã- pode, eventualmente, emprestar graça aos tipos batidos. A tarefa mais espinhosa, entretanto, será a de se esquivar das armadilhas desse realismo de meia-tigela.

biabramo.tv@uol.com.br



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