São Paulo, segunda-feira, 21 de setembro de 2009

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"Marketing da realidade" beneficia "Salve Geral"

Com orçamento de R$ 9 mi, filme sobre ataques do PCC estreia em outubro

Julgamento dos líderes da facção começa um dia antes de o longa entrar em cartaz; para promotor, "Salve Geral" pode influenciar decisões

ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Era um domingo de Dia das Mães, em 2006. O cineasta Sergio Rezende estava com a TV ligada no "Fantástico", à espera de uma reportagem sobre o filme "Zuzu Angel". Mas, para sua decepção, o programa fora invadido por outro tema: os ataques do PCC. "Zuzu" perdera a vaga no horário nobre. "Não posso reclamar. Ganhei outro filme", diz o diretor de "Salve Geral", ficção sobre "o dia em que São Paulo parou", como diz o subtítulo. Desta vez, o noticiário promete beneficiá-lo.
Escolhido para representar o país no Oscar, o filme sairá do casulo hoje, com exibição para a imprensa, entrevistas e pré-estreia. Entrará em cartaz em 2 de outubro. Um dia antes, deve começar, no Fórum Criminal da Barra Funda, o julgamento dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Os ventos do marketing parecem soprar a favor da produção.
"Pedi para ver o filme, mas não consegui. Se há personagens reais, eles podem influenciar no julgamento", antecipa-se o promotor Carlos Talarico. "Não podemos desprezar um filme de R$ 10 milhões de reais." Na verdade, de R$ 9 milhões -R$ 2 milhões destinados ao lançamento.
"Deixa gritarem. Só ajuda na promoção", ensina Hector Babenco ("Pixote", "Carandiru"), experimentado no bafafá que filmes calcados na violência costumam gerar. "Se um filme pretende ser, ao menos em parte, uma obra de arte, o realizador não deve se importar com as cobranças que possa vir a receber", completa Fernando Meirelles ("Cidade de Deus").
O marketing do real e da polêmica, por outro lado, suscita uma dúvida. O público não está fatigado dos tiros e das grades? "Uma pesquisa mostrou que o filme baseado em fatos reais é um dos gêneros preferidos do brasileiro", rebate Bruno Wainer, distribuidor do filme.
Rezende, cineasta afeito aos, digamos, "grandes temas" ("Lamarca", "Guerra de Canudos"), também está convicto de que o real mantém o efeito-ímã. "As pessoas querem ouvir histórias próximas a elas. Todo mundo em São Paulo tem uma história para contar sobre aquele dia", diz. "A ficção joga as pessoas numa experiência emocional e faz com que revivam aquilo de outra maneira. Tentei dar uma dimensão fora da realidade para a realidade."
O "fora da realidade" é representado, sobretudo, pela personagem de Andrea Beltrão, professora de piano que, por uma fatalidade, vê o filho ser preso. Com o destino virado do avesso, ela se envolve com o líder do PCC. "É uma pessoa comum que, de repente, é tomada por acontecimentos sobre os quais não tem controle", define a atriz. A história dessa mãe tentando salvar o filho alinhava o enredo de "Salve Geral".
À parte Andrea, quase todo o elenco -incluindo Denise Weinberg e Lee Thalor- saiu do teatro paulistano. Mas, curiosamente, diretor, produtor e distribuidor são cariocas e, nas 11 semanas de filmagem, houve apenas 12 dias em São Paulo. Das ruas aos ataques a delegacias e ônibus, foi quase tudo feito em Paulínia e Campinas. As bandeiras do PCC foram fincadas num presídio do Rio.


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