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"Marketing da realidade" beneficia "Salve Geral"
Com orçamento de R$ 9 mi, filme sobre ataques do PCC estreia em outubro
Julgamento dos líderes da facção começa um dia antes de o longa entrar em cartaz; para promotor, "Salve Geral" pode influenciar decisões
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Era um domingo de Dia das
Mães, em 2006. O cineasta Sergio Rezende estava com a TV ligada no "Fantástico", à espera
de uma reportagem sobre o filme "Zuzu Angel". Mas, para sua
decepção, o programa fora invadido por outro tema: os ataques do PCC. "Zuzu" perdera a
vaga no horário nobre. "Não
posso reclamar. Ganhei outro
filme", diz o diretor de "Salve
Geral", ficção sobre "o dia em
que São Paulo parou", como diz
o subtítulo. Desta vez, o noticiário promete beneficiá-lo.
Escolhido para representar o
país no Oscar, o filme sairá do
casulo hoje, com exibição para
a imprensa, entrevistas e pré-estreia. Entrará em cartaz em 2
de outubro. Um dia antes, deve
começar, no Fórum Criminal
da Barra Funda, o julgamento
dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC). Os
ventos do marketing parecem
soprar a favor da produção.
"Pedi para ver o filme, mas
não consegui. Se há personagens reais, eles podem influenciar no julgamento", antecipa-se o promotor Carlos Talarico.
"Não podemos desprezar um
filme de R$ 10 milhões de
reais." Na verdade, de R$ 9 milhões -R$ 2 milhões destinados ao lançamento.
"Deixa gritarem. Só ajuda na
promoção", ensina Hector Babenco ("Pixote", "Carandiru"),
experimentado no bafafá que
filmes calcados na violência
costumam gerar. "Se um filme
pretende ser, ao menos em parte, uma obra de arte, o realizador não deve se importar com
as cobranças que possa vir a receber", completa Fernando
Meirelles ("Cidade de Deus").
O marketing do real e da polêmica, por outro lado, suscita
uma dúvida. O público não está
fatigado dos tiros e das grades?
"Uma pesquisa mostrou que o
filme baseado em fatos reais é
um dos gêneros preferidos do
brasileiro", rebate Bruno Wainer, distribuidor do filme.
Rezende, cineasta afeito aos,
digamos, "grandes temas"
("Lamarca", "Guerra de Canudos"), também está convicto de
que o real mantém o efeito-ímã. "As pessoas querem ouvir
histórias próximas a elas. Todo
mundo em São Paulo tem uma
história para contar sobre
aquele dia", diz. "A ficção joga
as pessoas numa experiência
emocional e faz com que revivam aquilo de outra maneira.
Tentei dar uma dimensão fora
da realidade para a realidade."
O "fora da realidade" é representado, sobretudo, pela personagem de Andrea Beltrão, professora de piano que, por uma
fatalidade, vê o filho ser preso.
Com o destino virado do avesso, ela se envolve com o líder do
PCC. "É uma pessoa comum
que, de repente, é tomada por
acontecimentos sobre os quais
não tem controle", define a
atriz. A história dessa mãe tentando salvar o filho alinhava o
enredo de "Salve Geral".
À parte Andrea, quase todo o
elenco -incluindo Denise
Weinberg e Lee Thalor- saiu
do teatro paulistano. Mas, curiosamente, diretor, produtor e
distribuidor são cariocas e, nas
11 semanas de filmagem, houve
apenas 12 dias em São Paulo.
Das ruas aos ataques a delegacias e ônibus, foi quase tudo feito em Paulínia e Campinas. As
bandeiras do PCC foram fincadas num presídio do Rio.
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