São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 2011

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Mentes que brilham

Diretor David Cronenberg, que tem mostra em SP, explica em entrevista por que fez um filme de época sobre a psicanálise

Fotos Divulgação
Keira Knightley e Michael Fassbender em cena do mais recente longa de Cronenberg, que tem retrospectiva em SP

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

"As pessoas às vezes acham que, na hora de filmar, sigo um tipo de lista de compras, 'preciso de imagens de corpos, horror corporal, tecnologia etc.'", diz o diretor David Cronenberg à Folha, por telefone, de Toronto.
Essa visão, é claro, deriva de uma carreira marcada por filmes como "Videodrome" (1983), "A Mosca" (1986) e "eXistenZ" (1999), que integram a mostra "O Cinema em Carne Viva: David Cronenberg - Corpo, Imagem e Tecnologia", que começa hoje no CCBB de São Paulo. Ao escolher os projetos, diz o diretor, "não penso nos meus outros filmes nem no que as pessoas esperam de mim. É intuitivo. Então, o público pode se surpreender por eu fazer um filme sobre Freud e Jung, um filme de época".
Ele se refere a "A Dangerous Method", sua obra mais recente a ser exibida no Festival do Rio (que começa em 6/10) e que ele chama de "um projeto de ressurreição".
"Quis trazer esses personagens de volta à vida para vê-los e ouvi-los. Foi um período maravilhosamente estimulante, o início da psicanálise."
A seguir, o diretor fala da carreira e diz que, após usar câmera digital, "nunca mais" quer filmar em película.

 


Folha - Olhando para sua carreira, que sensação o sr. tem?
David Cronenberg -
Sinto que mudei como cineasta, uma sensação de domínio da técnica. É preciso fazer um bom número de filmes até ter confiança para dizer "não preciso filmar aquilo". E é o que sinto, que minha direção ficou muito simples e eficiente porque tenho confiança para saber do que não preciso.

A partir de "eXistenZ" (99), o sr. parece ter se afastado do universo fantástico.
Escrevi alguns roteiros que não foram filmados e que se encaixariam nessa categoria. Então, não acho que seja correto dizer isso. Em certos momentos, explorarei diferentes formas dramáticas. Mas não é como se tivesse dito: "Não devo mais fazer filmes fantásticos". É que sinto que já contribuí tanto quanto pude, seja para o horror ou para a ficção científica.

Como vê a evolução da tecnologia no mundo e no cinema?
Vivemos num mundo de ficção científica, sem dúvida. Os ataques dos drones [aviões-robô] no Paquistão, comandados por americanos em Nevada, é inacreditável, vai além de Philip K. Dick [autor norte-americano de livros de ficção científica]. É claro que sempre há aspectos assustadores na tecnologia, mas eu a adoro. Acabei de fazer "Cosmopolis" com câmera digital e nunca mais quero filmar em película. Eu me sinto muito confortável com essas ferramentas que temos hoje em dia. São fantásticas e mais flexíveis.

E o que acha do cinema 3D?
Parece déjà vu para mim. É algo que eu vi nos anos 1950. Ele é uma possibilidade, não é essencial. Assisti a "Avatar" em Imax 3D e pensei: "OK, legal". Mas não achei que fez o filme ser melhor. Ainda não estou convencido sobre o 3D em termos criativos.

Como o sr. lida com a internet?
Uso a internet desde 1985, quando era um quadro de mensagens. É um fenômeno incrível. Como toda tecnologia, tem enorme potencial para coisas boas e ruins, e temos visto ambas. As pessoas às vezes falam de tecnologia como se fosse algo vindo do espaço, mas vem de nós, é um reflexo do que somos, uma extensão do nosso corpo.

O sr. conhece o Brasil?
Não, nunca estive na América do Sul. Estive com Ayrton Senna no México e na Austrália em 1986, assistindo aos GPs, porque queria fazer um filme sobre corridas de Fórmula 1. Era doce e gentil.

E conhece cinema brasileiro?
Alguns diretores brasileiros dos anos 1970 tiveram um grande impacto sobre mim. Não me lembro dos nomes, minha memória é ruim para isso. Quem dirigiu "Antonio das Mortes" [título internacional de "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro", de Glauber Rocha]? [ao ouvir a resposta] É, isso.

Viu produções mais recentes?
Sim, "Cidade de Deus" é um filme incrível. E conheço Walter [Salles] também.

Leia a íntegra
folha.com/no977960



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