São Paulo, segunda, 21 de setembro de 1998

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ANÁLISE
Designer chega aos 70 sem ter virado dinossauro

RICARDO OHTAKE
especial para a Folha

Alexandre Wollner é o primeiro designer gráfico brasileiro a chegar aos 70 anos. Dinossauro? Caindo aos pedaços? Qual nada. A mais lendária figura do setor continua em plena atividade, quase meio século após seu início, em pleno vigor físico e sem medo de manejar o computador.
Foi na década de 50 que a atividade gráfica sofreu uma mudança. Até então estava limitada, cada peça gráfica tinha seu desempenho específico. Aí, surgiu a noção de sistema. O projeto gráfico adquiriu complexidade vinda da necessidade de associar inicialmente uma peça à outra, depois todas as peças de uma entidade ou empresa.
Esse passo introduziu no pensamento industrial a idéia de sistema. Para isso contribuiu a abertura do Instituto de Arte Contemporânea do Masp, em 1951, inspiração de Lina e Pietro Bardi.
Depois, o trabalho profissional trazido pelos recém-formados alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, que transportaram a idéia do racionalismo da arquitetura para as artes gráficas.
Finalmente, os ensinamentos trazidos da Escola Superior da Forma de Ulm, por alguns de seus alunos, entre eles o brasileiro Wollner, que montou um escritório específico de design com Rubem Martins e Geraldo de Barros.
O ambiente era plenamente favorável a essas mudanças. Tivemos a Bienal de São Paulo, em sua primeira versão, em 1951, sob o comando do industrial paulista Francisco Matarazzo Sobrinho.
O concretismo ganhava suas primeiras manifestações também nessa época. As idéias de indústria, concretismo, racionalismo,design se interligaram totalmente.
O racionalismo não é uma necessidade, é mais uma bandeira, um manifesto. O paralelo na arquitetura se deu em 1930, quando Lúcio Costa e Warchawchik introduziram o racionalismo; os modernistas de 1922 logo aderiram. Por outro lado, não se pode chamar Niemeyer de tradicional racionalista, já que em 1942, com os projetos de Pampulha, deu um passo libertário ao racionalismo ainda limitado dos arquitetos de todo o mundo.
Nas artes gráficas de 50-60, o design também adquiriu diferentes matizes: Maurício Nogueira Lima criou figuras nas marcas das feiras; Rubens Martins e Aloísio Magalhães deram significado a desenhos aparentemente abstratos; Wollner, de origem na pintura concretista e depois na Escola de Ulm, desenvolveu forte trabalho em que a geometria era a chave.
Os 40 anos que separam a formação dos primeiros escritórios de hoje viram a criação das escolas de desenho industrial e comunicação visual, a partir de 1962 (Esdi, no Rio, e sequências específicas dentro da FAU-USP); o desenvolvimento de trabalhos de grande envergadura com Wollner, João Carlos Cauduro-Ludovico Martino, Aloísio Magalhães, Metro 3 (Carlos Petit e José Zaragoza); o aparecimento das primeiras gerações formadas nos novos cursos.
A década de 70 foi um difícil momento, interregno entre o estabelecimento dos mais velhos e o ainda não aparecimento dos mais jovens. Porém, nos 80 houve, a partir das diversas nuances do racionalismo, grandes mudanças que se acentuaram na década seguinte, com o advento do computador: o uso de novas cores, imagens cheias de significados, sobreposições, uso de novas letras, o desenho sujo, transparências e camadas.
O design gráfico tornou-se algo quase popular, o que se notou na 4ª Bienal de Design Gráfico da ADG/ Sesc, em março deste ano, pelo grande número de expositores e pela avalanche de público, totalmente inesperados.
Wollner viu tudo isso da janela de seu escritório e conseguiu permanecer fiel à sua origem, mantendo a qualidade que o fez figura lendária do design gráfico do país.
Seu primeiro profissional chegar aos 70 anos mostra que o design gráfico brasileiro é muito novo, mas já está a exigir um balanço crítico e análise de seu vigor. E precisa mostrar a que veio -participar cada vez mais da vida urbana.


Ricardo Ohtake é arquiteto e designer gráfico.




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