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ANÁLISE
Designer chega aos 70 sem ter virado dinossauro
RICARDO OHTAKE
especial para a Folha
Alexandre Wollner é o primeiro
designer gráfico brasileiro a chegar
aos 70 anos. Dinossauro? Caindo
aos pedaços? Qual nada. A mais
lendária figura do setor continua
em plena atividade, quase meio século após seu início, em pleno vigor físico e sem medo de manejar o
computador.
Foi na década de 50 que a atividade gráfica sofreu uma mudança.
Até então estava limitada, cada peça gráfica tinha seu desempenho
específico. Aí, surgiu a noção de
sistema. O projeto gráfico adquiriu
complexidade vinda da necessidade de associar inicialmente uma
peça à outra, depois todas as peças
de uma entidade ou empresa.
Esse passo introduziu no pensamento industrial a idéia de sistema. Para isso contribuiu a abertura
do Instituto de Arte Contemporânea do Masp, em 1951, inspiração
de Lina e Pietro Bardi.
Depois, o trabalho profissional
trazido pelos recém-formados alunos da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da USP, que transportaram a idéia do racionalismo da
arquitetura para as artes gráficas.
Finalmente, os ensinamentos
trazidos da Escola Superior da Forma de Ulm, por alguns de seus alunos, entre eles o brasileiro Wollner, que montou um escritório específico de design com Rubem
Martins e Geraldo de Barros.
O ambiente era plenamente favorável a essas mudanças. Tivemos a Bienal de São Paulo, em sua
primeira versão, em 1951, sob o comando do industrial paulista
Francisco Matarazzo Sobrinho.
O concretismo ganhava suas primeiras manifestações também
nessa época. As idéias de indústria,
concretismo, racionalismo,design
se interligaram totalmente.
O racionalismo não é uma necessidade, é mais uma bandeira, um
manifesto. O paralelo na arquitetura se deu em 1930, quando Lúcio
Costa e Warchawchik introduziram o racionalismo; os modernistas de 1922 logo aderiram. Por outro lado, não se pode chamar Niemeyer de tradicional racionalista,
já que em 1942, com os projetos de
Pampulha, deu um passo libertário ao racionalismo ainda limitado
dos arquitetos de todo o mundo.
Nas artes gráficas de 50-60, o design também adquiriu diferentes
matizes: Maurício Nogueira Lima
criou figuras nas marcas das feiras;
Rubens Martins e Aloísio Magalhães deram significado a desenhos aparentemente abstratos;
Wollner, de origem na pintura
concretista e depois na Escola de
Ulm, desenvolveu forte trabalho
em que a geometria era a chave.
Os 40 anos que separam a formação dos primeiros escritórios de
hoje viram a criação das escolas de
desenho industrial e comunicação
visual, a partir de 1962 (Esdi, no
Rio, e sequências específicas dentro da FAU-USP); o desenvolvimento de trabalhos de grande envergadura com Wollner, João Carlos Cauduro-Ludovico Martino,
Aloísio Magalhães, Metro 3 (Carlos Petit e José Zaragoza); o aparecimento das primeiras gerações
formadas nos novos cursos.
A década de 70 foi um difícil momento, interregno entre o estabelecimento dos mais velhos e o ainda não aparecimento dos mais jovens. Porém, nos 80 houve, a partir
das diversas nuances do racionalismo, grandes mudanças que se
acentuaram na década seguinte,
com o advento do computador: o
uso de novas cores, imagens cheias
de significados, sobreposições, uso
de novas letras, o desenho sujo,
transparências e camadas.
O design gráfico tornou-se algo
quase popular, o que se notou na 4ª
Bienal de Design Gráfico da ADG/
Sesc, em março deste ano, pelo
grande número de expositores e
pela avalanche de público, totalmente inesperados.
Wollner viu tudo isso da janela
de seu escritório e conseguiu permanecer fiel à sua origem, mantendo a qualidade que o fez figura
lendária do design gráfico do país.
Seu primeiro profissional chegar
aos 70 anos mostra que o design
gráfico brasileiro é muito novo,
mas já está a exigir um balanço crítico e análise de seu vigor. E precisa mostrar a que veio -participar
cada vez mais da vida urbana.
Ricardo Ohtake é arquiteto e designer gráfico.
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