São Paulo, Quinta-feira, 21 de Outubro de 1999
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Panorama 99 mostra os transbordamentos da arte contemporânea


Exposição que começa hoje no MAM-SP comemora 30 anos e faz mapeamento da produção artística nacional recente


JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha


Pintura, escultura, desenho, fotografia, performance, vídeo, objeto. Isso é tudo o que não interessa mais na arte. Quem visitar o Panorama da Arte Brasileira, mostra que começa hoje no Museu de Arte Moderna de São Paulo, verá que contaminação e transbordamento são noções que norteiam a produção artística atual. E bons parâmetros para olhar a arte.
Para o curador da exposição, Tadeu Chiarelli, nesse final de século ocorre uma confluência de questões que tem como resultado um transbordamento das artes. Um artista pode discutir especificidades da escultura com uma fotografia, por exemplo, ou obter um resultado pictórico em uma manipulação de negativos.
A função do Panorama, reconhecidamente o mais importante mapeamento das artes brasileiras, é mostrar essa pluralidade. A mostra foi concebida em núcleos que abordam os seguintes temas: luz e cor na pintura e na fotografia; apropriação de imagens do repertório visual da humanidade; papel da linha no plano e no espaço; corpo e identidade; novos estatutos da escultura; vida nas grandes metrópoles.
Enquanto alguns núcleos dedicam-se a problemas puramente formais (pintura, escultura), outros trazem obras temáticas, como as que discutem questões urbanas. O que seria uma tendência, a de que os artistas voltam a dividir-se entre conteudistas e formalistas, é negado pelos trabalhos.
José Guedes, por exemplo, expõe no núcleo da pintura sua série "Moradia": fotografias desfocadas de casebres da periferia de Fortaleza, complementadas por uma pintura monocromática.
Como esse núcleo do Panorama tem como eixo a tela "Mastros", de Volpi (cada segmento está organizado em torno de uma obra premiada em edições anteriores, forma de celebrar os 30 anos do Panorama), pode-se identificar o colorido das roupas penduradas com as fachadas de Volpi, leitura superficial de uma obra que discute uso da cor e saturação de luz.
A preocupação de Guedes no trabalho é com a imagem: "Busco a estranheza do olhar juntando pintura e foto". É possível ainda fazer uma leitura temática. "Desfoquei as fotos para distanciar a obra da interpretação panfletária. Não deixa de ser, mas evita uma catarse imediata e acaba fazendo pensar sobre aquela realidade." O trabalho resume a idéia de contaminação presente na mostra. Várias obras poderiam estar em diferentes núcleos, o que comprova a pluralidade da arte contemporânea. Ao ver a Panorama, faça você também esses deslocamentos conceituais.


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