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Panorama 99 mostra os transbordamentos da arte contemporânea
Exposição que começa hoje no MAM-SP comemora 30 anos e faz mapeamento da produção artística nacional recente
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JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha
Pintura, escultura, desenho, fotografia, performance, vídeo, objeto. Isso é tudo o que não interessa mais na arte. Quem visitar o Panorama da Arte Brasileira, mostra
que começa hoje no Museu de Arte Moderna de São Paulo, verá
que contaminação e transbordamento são noções que norteiam a
produção artística atual. E bons
parâmetros para olhar a arte.
Para o curador da exposição,
Tadeu Chiarelli, nesse final de século ocorre uma confluência de
questões que tem como resultado
um transbordamento das artes.
Um artista pode discutir especificidades da escultura com uma fotografia, por exemplo, ou obter
um resultado pictórico em uma
manipulação de negativos.
A função do Panorama, reconhecidamente o mais importante
mapeamento das artes brasileiras,
é mostrar essa pluralidade. A
mostra foi concebida em núcleos
que abordam os seguintes temas:
luz e cor na pintura e na fotografia; apropriação de imagens do repertório visual da humanidade;
papel da linha no plano e no espaço; corpo e identidade; novos estatutos da escultura; vida nas
grandes metrópoles.
Enquanto alguns núcleos dedicam-se a problemas puramente
formais (pintura, escultura), outros trazem obras temáticas, como as que discutem questões urbanas. O que seria uma tendência,
a de que os artistas voltam a dividir-se entre conteudistas e formalistas, é negado pelos trabalhos.
José Guedes, por exemplo, expõe no núcleo da pintura sua série
"Moradia": fotografias desfocadas de casebres da periferia de
Fortaleza, complementadas por
uma pintura monocromática.
Como esse núcleo do Panorama
tem como eixo a tela "Mastros",
de Volpi (cada segmento está organizado em torno de uma obra
premiada em edições anteriores,
forma de celebrar os 30 anos do
Panorama), pode-se identificar o
colorido das roupas penduradas
com as fachadas de Volpi, leitura
superficial de uma obra que discute uso da cor e saturação de luz.
A preocupação de Guedes no
trabalho é com a imagem: "Busco
a estranheza do olhar juntando
pintura e foto". É possível ainda
fazer uma leitura temática. "Desfoquei as fotos para distanciar a
obra da interpretação panfletária.
Não deixa de ser, mas evita uma
catarse imediata e acaba fazendo
pensar sobre aquela realidade." O
trabalho resume a idéia de contaminação presente na mostra. Várias obras poderiam estar em diferentes núcleos, o que comprova a
pluralidade da arte contemporânea. Ao ver a Panorama, faça você
também esses deslocamentos
conceituais.
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