São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 2002

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MÚSICA

Grupo paulistano de hardcore lança o cru e político "Onisciente Coletivo", primeiro CD só de inéditas após cinco anos

Ratos saem do porão ultrapolitizados

Beto Barata - 08.jul.2001/Folha Imagem
Jão, João Gordo, Boka e Fralda, do Ratos de Porão, que lança disco com músicas inéditas


JEAN CANUTO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Após cinco anos sem lançar álbum completo de inéditas, o grupo de hardcore paulistano Ratos de Porão volta à cena com "Onisciente Coletivo".
Com produção totalmente crua do britânico Alex Newport, politizado ao extremo e pesado, o novo trabalho faz pulsar intensamente a violenta veia thrashcore da banda veterana.
"Voltamos a fazer thrashcore, mas foi sem querer. É um "oldschool", mas passa pelo "grindcore", pelo "power violence" e bastante metal", explica João Gordo, 38, vocalista da banda.
Newport já havia trabalhado com o Ratos de Porão em 1993, no disco "Just Another Crime in Massacreland", e de lá para cá acrescentou no currículo outros nomes de impacto como At the Drive in, Melvins e Nailbomb, projeto que montou com Max Cavalera, ex-Sepultura.
"Estávamos com saudade do Alex. Ele radicalizou no estilo antigo de gravar e é totalmente contra o Protools [sistema digital que permite encobrir os erros de gravação], que pode deixar o músico mal-acostumado. Até a edição, para se ter uma idéia, ele faz com gilete", conta João Gordo.
Em pleno ano das maiores eleições diretas da história do Brasil, o vocalista diz não saber o porquê de o novo disco ter ficado com viés tão politizado.
"O Ratos de Porão é uma banda desbaratinada, mas é lógico que temos consciência política. "Onisciente Coletivo" [a música" fala disso aí. A gente tem mais é que xingar esses caras e não votar neles, como aconteceu agora, que não elegeram Maluf e não elegeram o Collor", diz.
As letras abordam desde a realidade social e política brasileira até o histórico 11 de setembro de 2001, acompanhadas por comentários críticos feitos por membros da própria banda. O encarte chega a lembrar um pequeno livreto que poderia muito bem ter sido produzido pela radical editora norte-americana AK Press.
Assim como em "Carniceria Tropical", de 1997, convidados especiais do meio do rap/hip hop voltam a aparecer. Aqui surgem Marcelo Munari, guitarrista do grupo de rap hardcore Pavilhão 9 e o rapper paulistano Rappin" Hood, ambos na faixa que dá título ao disco, além do próprio Alex Newport, em outra.
"Gosto de rap há muitos anos. Rap brasileiro, que eu entendo a letra, é muito melhor que rap gringo", defende João Gordo.
O lançamento do disco ficou por conta da divisão latina da gravadora Century Media, que faz de "Onisciente Coletivo" seu primeiro lançamento brasileiro.
"Eles [Century Media" foram os únicos que trataram a gente como deveríamos ser tratados: uma banda com 20 anos, 14 discos e conhecida no mundo todo", desabafa o vocalista.
No exterior, o disco sairá novamente pela mítica Alternative Tentacles dos EUA, selo que é capitaneado por Jello Biafra, ex-vocalista do Dead Kennedys. "Onisciente Coletivo" já está licenciado também para os selos Munster e Beat Generation da Espanha.
Para os fãs, por ora, o disco deverá bastar. Todas as datas de show para este ano foram canceladas por problemas de saúde do vocalista. "Show só ano que vem. Vou fazer uma cirurgia e preciso de repouso, não dá pra fazer isso pulando e gritando", diz ele.
O Ratos de Porão fecha o ano aparecendo ainda em duas coletâneas internacionais ("Apocalipse Always" e "We Don't Need Society", tributo ao D.I.R.) e também com um site oficial atualizado (www.ratos.com.br).



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