|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Romance épico do quadrinista inglês Alan Moore, que reacende os mitos de sua cidade natal, chega ao Brasil
O Bruxo de Northampton
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
"A história é ardente, opressiva
e fatigante." As aspas são de Alan
Moore, em "A Voz do Fogo", romance tardio que é lançado no
Brasil pela Conrad e marca a estréia do quadrinista e roteirista de
"Watchmen" e "V de Vingança"
no universo da literatura.
Rodando em círculos, mais precisamente em torno da cidade inglesa de Northampton, a prosa de
Moore nos transporta ao ano
4000 a.C., para dentro da barriga/
consciência de um desterrado faminto diante das glaciações; a
2500 a.C., para ardermos com um
velho bruxo à beira da morte nos
campos de cremação; a 290 d.C. e
sua visão deturpada do imperialismo romano; às fogueiras e cruzadas religiosas do século 17 e, por
fim, a 1995, de volta à casa do escritor, de onde raramente saiu, ao
longo de seus 48 anos de vida.
O simbolismo do fogo mostra-se, para Moore, menos o da redenção que o da propagação do
sofrimento dos personagens que
habitaram a esquecida região no
coração da Inglaterra. Misturando história com ficção, encarna 13
diferentes narradores e reproduz,
na estrutura da narrativa, as evoluções da própria língua local. Assim, a escassez de signos e de articulação do narrador pré-histórico
contrasta com discursos ora ideologizados, da devota medieval,
ora erotizados, do "novo homem" renascentista etc.
Quem conhece a densidade de
suas graphic novels anteriores
-"Do Inferno", por exemplo,
mergulhou o autor em dez anos
de pesquisa sobre Jack, o Estripador- sabe que Moore não dá
ponto sem nó. Edições antigas do
jornal local "Mercury & Herald",
velhos mapas e um exemplar de
"Bruxaria em Northamptonshire
- Seis Tratados Curiosos Datados
de 1612" ajudaram-no a reconstruir parte da memória da cidade,
que, em "A Voz do Fogo", não fala, mas nos espreita continuamente a cada virada de página.
Relíquia
Lançado originalmente em
1997, pela editora inglesa Orion, o
romance de 331 páginas teve todas as suas edições esgotadas e
tornou-se rapidamente uma jóia
rara em qualquer sebo da Inglaterra e nos leilões de livros usados
frequentados pelos fãs de Alan
Moore -basicamente, leitores de
histórias em quadrinhos. Arrancou elogios de escritores como
Will Self e Iain Sinclair e teve seus
direitos adquiridos também pela
Top Shelf, que publica alguns de
seus títulos nos EUA.
Recentemente a editora americana anunciou o lançamento de
dois novos trabalhos de Moore,
para meados de 2003. O primeiro,
uma graphic novel por enquanto
batizada de "The Mirror of Love"
(O Espelho do Amor), inspirada
nas controversas disputas legais
sobre a união de homossexuais na
Grã-Bretanha e estrelada por ninguém menos do que William Shakespeare, Michelangelo, Emily
Dickinson e Oscar Wilde.
A segunda peça pregada no formalismo britânico virá com "Lost
Girls", versão ilustrada e eroticamente apimentada para personagens dos clássicos "Alice no País
das Maravilhas", "O Mágico de
Oz" e "Peter Pan - As Aventuras
na Terra do Nunca".
A VOZ DO FOGO - Autor: Alan Moore.
Editora: Conrad. Tradução: Ludimila
Hashimoto. Preço: R$ 34,80 (331 págs.)
Texto Anterior: Barbara Gancia: Xuxa ainda vai pegar Don King para empresário Próximo Texto: Trechos Índice
|