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Cineasta "independente" filma Xuxa
Lagemann pretende fazer "entretenimento com reflexão" e diz que apresentadora é vítima de preconceito
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
O mundo alegre de Xuxa está
nas mãos do cineasta que filmou o mundo cão da prostituição infantil no Brasil. Rudi Lagemann, que lançou em 2006 o
duro "Anjos do Sol", concluiu
na última quarta-feira as filmagens de "Xuxa em Sonho de
Menina", produto da apresentadora para o próximo verão.
Ele diz que precisou pensar
dois dias para aceitar o convite.
"Refleti de que modo poderia
influenciar em meus projetos,
porque quase todos os filmes
autorais são produzidos a partir de editais, decididos por
uma comissão formada por
profissionais da área, e eles poderiam pensar que, por eu dirigir a Xuxa, não precisaria dos
editais. Mas vi que eu estava me
armando de preconceitos. Aí
decidi, pois tenho ojeriza à sacralização do cinema, como se
ele fosse destinado só a nichos
intelectuais e acadêmicos", diz.
Foguinho, como é conhecido,
diz que nunca se preocupou em
pedir para Xuxa ver "Anjos do
Sol". Ela diz que não teve tempo, mas que verá em DVD. "Só
vou ao cinema com a Sasha [sua
filha de 9 anos], porque ela pergunta: "Como você vai sem
mim?". E esse filme não dá para
ela ver", explica a loira, 44, que
abriu exceção para "Tropa de
Elite" -de que gostou muito.
Orçado em R$ 6 milhões,
"Sonho de Menina" é daqueles
casos em que um cineasta de
projetos não comerciais é incumbido de comandar um
grande projeto comercial. "Anjos do Sol" teve 80 mil espectadores, bom resultado para um
filme com crianças violentadas,
exploradas, assassinadas. Mas
os filmes de Xuxa costumam
vender cerca de 2 milhões de
ingressos. O anterior, "Xuxa
Gêmeas", vendeu "só" 1 milhão
e foi considerado um fracasso.
"Humor elegante"
"Quero fazer entretenimento puro com reflexão, para que
o público se divirta com um humor elegante, e não rasteiro ou
óbvio", professa Lagemann, 47,
para quem "é mais difícil fazer
um filme fácil que um difícil".
E ele não é um guerrilheiro.
Sua escola é a da publicidade
-dirigiu dois comerciais com
Xuxa, aliás. Ele não a vê como
uma bruxinha dos baixinhos.
"Ela se preocupa com o estado de coisas em que vive grande
parte da infância brasileira. Sua
carreira foi construída como
são as carreiras destinadas ao
público infantil no mundo, numa relação muito estreita com
o mercado de consumo. Seu sucesso alimenta dúzias de preconceitos. E, como todo preconceito, é mais fácil exercê-lo
do que indagá-lo", defende.
Após 11 filmes com o produtor Diler Trindade, Xuxa se associou à Conspiração para contar a história de uma professora
do interior que vira apresentadora de TV. Mas o novo longa
ainda não foi feito como ela sonha. "Ainda está com cara de
pizza, porque tivemos de fazer
correndo [em 24 dias]. Quero
fazer o próximo com calma, durante um ano", planeja.
Ela já convidou o diretor para
bisar a parceria em 2008, mas
ele ainda não aceitou. Sabe-se
que é uma adaptação de um
clássico da literatura infantil
brasileira, mas os direitos ainda
não foram comprados. "É filme
para ser inscrito em festivais
internacionais", diz Lagemann.
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