São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

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Cineasta "independente" filma Xuxa

Lagemann pretende fazer "entretenimento com reflexão" e diz que apresentadora é vítima de preconceito

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

O mundo alegre de Xuxa está nas mãos do cineasta que filmou o mundo cão da prostituição infantil no Brasil. Rudi Lagemann, que lançou em 2006 o duro "Anjos do Sol", concluiu na última quarta-feira as filmagens de "Xuxa em Sonho de Menina", produto da apresentadora para o próximo verão.
Ele diz que precisou pensar dois dias para aceitar o convite.
"Refleti de que modo poderia influenciar em meus projetos, porque quase todos os filmes autorais são produzidos a partir de editais, decididos por uma comissão formada por profissionais da área, e eles poderiam pensar que, por eu dirigir a Xuxa, não precisaria dos editais. Mas vi que eu estava me armando de preconceitos. Aí decidi, pois tenho ojeriza à sacralização do cinema, como se ele fosse destinado só a nichos intelectuais e acadêmicos", diz.
Foguinho, como é conhecido, diz que nunca se preocupou em pedir para Xuxa ver "Anjos do Sol". Ela diz que não teve tempo, mas que verá em DVD. "Só vou ao cinema com a Sasha [sua filha de 9 anos], porque ela pergunta: "Como você vai sem mim?". E esse filme não dá para ela ver", explica a loira, 44, que abriu exceção para "Tropa de Elite" -de que gostou muito.
Orçado em R$ 6 milhões, "Sonho de Menina" é daqueles casos em que um cineasta de projetos não comerciais é incumbido de comandar um grande projeto comercial. "Anjos do Sol" teve 80 mil espectadores, bom resultado para um filme com crianças violentadas, exploradas, assassinadas. Mas os filmes de Xuxa costumam vender cerca de 2 milhões de ingressos. O anterior, "Xuxa Gêmeas", vendeu "só" 1 milhão e foi considerado um fracasso.

"Humor elegante"
"Quero fazer entretenimento puro com reflexão, para que o público se divirta com um humor elegante, e não rasteiro ou óbvio", professa Lagemann, 47, para quem "é mais difícil fazer um filme fácil que um difícil".
E ele não é um guerrilheiro. Sua escola é a da publicidade -dirigiu dois comerciais com Xuxa, aliás. Ele não a vê como uma bruxinha dos baixinhos.
"Ela se preocupa com o estado de coisas em que vive grande parte da infância brasileira. Sua carreira foi construída como são as carreiras destinadas ao público infantil no mundo, numa relação muito estreita com o mercado de consumo. Seu sucesso alimenta dúzias de preconceitos. E, como todo preconceito, é mais fácil exercê-lo do que indagá-lo", defende.
Após 11 filmes com o produtor Diler Trindade, Xuxa se associou à Conspiração para contar a história de uma professora do interior que vira apresentadora de TV. Mas o novo longa ainda não foi feito como ela sonha. "Ainda está com cara de pizza, porque tivemos de fazer correndo [em 24 dias]. Quero fazer o próximo com calma, durante um ano", planeja.
Ela já convidou o diretor para bisar a parceria em 2008, mas ele ainda não aceitou. Sabe-se que é uma adaptação de um clássico da literatura infantil brasileira, mas os direitos ainda não foram comprados. "É filme para ser inscrito em festivais internacionais", diz Lagemann.

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