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OPINIÃO LEGIÃO URBANA
Força do grupo é sua poesia fácil e encantadora que dispensa o rock
THALES DE MENEZES
EDITOR-ASSISTENTE DA SÃOPAULO
Brasileiro adora violão.
A MPB foi construída em
cima do instrumento. Samba, seresta, moda caipira,
bossa-nova, João Gilberto,
Chico Buarque, seguindo,
hoje, até uma Ana Carolina.
Renato Russo era poeta. E
adorava um violão.
Entre os representantes do
rock brasileiro nos anos
1980, a Legião Urbana era a
banda "menos rock". Sua
música fala de amor, seja sublime ou cotidiano, sem precisar de pedal de distorção.
Enquanto os outros meninos de Brasília pediam guitarras e teclados de Natal, o
jovem Renato era o "freak" do
violão, essa figurinha conhecida em muitos colégios por
aí. Aquele tipo que gosta do
Lô Borges, do Vandré.
Legião Urbana era MPB?
Não. Seria fácil imaginar
Renato Russo sentado num
banquinho e dedilhando
"Pais e Filhos" ou "Eduardo
e Mônica" em um dos festivais da Record. Dispensar a
moldura rock dos discos da
Legião não causaria dano algum à letra ou à melodia.
Mas Renato estava impregnado de cultura pop e
rock. A cada faixa, sua banda
passava atestado claro de influências. Podia soar como
U2, Smiths ou Neil Young,
sem nenhum pudor.
Não poderia, então, ser
MPB. Era mais. De modo
grosseiro, é possível colocar
Renato Russo perto da intersecção entre Chico Buarque e
Bob Dylan. Tem do primeiro
o refinamento poético, a carpintaria da palavra. Do segundo, a missão de tocar as
pessoas e o total desprezo pelo refrão e pela rima fácil.
Para que se preocupar com
um refrão descolado se a força quase cinematográfica
das letras faz todo mundo
querer decorar os 168 versos
de "Faroeste Caboclo"?
Legião faz sucesso com gerações contínuas por três motivos: encantamento, identificação e acessibilidade.
As letras encantam, literalmente. Renato Russo tinha a
sensibilidade de tratar temas
que, mais do que adolescentes, falam do que sobra da
adolescência pelo resto da vida, como a vocação para
amar errado ou a certeza de
não se encaixar no mundo.
A identificação do público
com o cantor é intensa. Como
o próprio Renato insistia em
dizer, se alguém morando no
cerrado e feioso como ele pode se transformar em astro
pop, você também pode.
E o universo musical da
Legião é facilmente acessível
a todos, bom de cantarolar,
pelo formato despojado.
Reproduzir no quarto ou
na garagem as músicas de
"Cabeça Dinossauro" ou
"Selvagem?" requer equipamento e iniciação musical.
Mas tirar no violão as canções de "As Quatro Estações"
é tarefa possível para quem
ainda arranha o violão.
De novo, o violão.
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