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Dominguinhos comemora 70 anos com disco inédito
Mesmo com problemas pulmonares, músico entoou canto forte em show no Festival da Sanfona há dez dias
Artista prepara álbum com 20 canções novas e registro ao vivo como parte de comemorações em fevereiro de 2011
PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A JUAZEIRO
O pernambucano José Domingos de Moraes, o Dominguinhos, prestes a completar
70 anos, entoa forte os versos
de "Quem me Levará Sou
Eu": "Se o calendário acabar,
eu faço contar o tempo outra
vez, sim, tudo outra vez a
passar...".
Tendo retirado um pulmão, com problemas no que
restou, é comum vê-lo carregar uma sacola de remédios.
Mas encontra forças para
cantar, como fez dez dias
atrás no 2º Festival Internacional da Sanfona, em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA).
Às margens do rio São
Francisco, a Folha conversou com Dominguinhos e
com o curador do festival,
Targino Gondim, 37.
Folha - Aos 70 anos, o sr. vai
começar a contar o tempo outra vez?
Dominguinhos - É engraçado, ouvi meu pai com 70
anos dizer que o Brasil era o
país do futuro. Ouvi o mesmo
de Tinoco [da dupla com Tonico]. Agora é a minha vez de
chegar à mesma idade e dizer
o mesmo.
O que prepara para a comemoração em fevereiro?
Dominguinhos - Tenho um
disco com 20 músicas novas
gravadas em Fortaleza e um
que não foi lançado, gravado
ao vivo em São Paulo.
Targino Gondim - Dominguinhos, uma coisa que deixa a maioria dos músicos curiosa é que, pelo que se sabe,
você não lê partitura. Mas dá
show em qualquer um na
gravação. Como chega nisso?
Dominguinhos - É verdade. Pelo instrumento estar
aliado a mim há anos, desenvolvi uma forma de tocar minha, como Sivuca fazia. Dedilhado diferente, ajustando
as coisas.
Sivuca teve muita força de
vontade, aprendeu a ler, fazer arranjo. Eu não pude. Fui
pai muito cedo, aos 17... Tive
que me virar. Tocava com
Gonzaga, tocava nas boates
de dança e fui pegando os estilos de música. Isso ajudou a
pegar um jeito especial de tocar, ouvindo todo mundo.
Mas como o sr. compõe?
Dominguinhos - Faço como repentista. É só ligar um
gravadorzinho e depois reproduzir as melodias...
O Nordeste apoia Lula, seu
conterrâneo de Garanhuns,
mas o sr. está desgarrado dessa turma.
Dominguinhos - O papel
dele é este: o novo coronel do
voto de cabresto. Tudo aconteceu nesse sentindo. A gente vê menina nova tendo filho para ter dinheiro. Não
gosto disso. O nordestino é
muito trabalhador se não tiver moleza. Se achar uma
moleza, não trabalha mais.
Hoje em dia nem roupa
usa. A moçada bota um
short, uma camiseta, fica de
sandália. Só quer aquela mixaria ali para sobreviver.
O jornalista PLÍNIO FRAGA viajou a
convite da organização do festival
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