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Ator retorna aos palcos depois de 55 anos
Após período na direção, José Renato, fundador do Arena, atua no espetáculo "12 Homens e Uma Sentença"
José Renato esteve por trás de montagens que revelaram Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e Vianninha
LUCAS NEVES
DE SÃO PAULO
A curva dramática do Jurado nº 9, personagem que José
Renato, 84, interpreta na peça "12 Homens e Uma Sentença", emula a da carreira
dele: uma convicção inicial
logo vai ao chão.
Em cena, ele é um dos primeiros a questionar os argumentos que sustentam a acusação de que um jovem matou o pai a facadas.
Pula do rebanho dos que
urram "culpado!" para a ala
dos que, diante da falta de
provas cabais, defende o veredicto oposto. Já na porção
não ficcional de sua vida no
teatro, ele saltou cedo do
transatlântico da atuação para o bote da direção.
Formado ator na primeira
turma da Escola de Arte Dramática da USP, em 1950, fez
sua estreia a bordo de "Os
Pássaros", do grego Aristófanes. Depois, vieram textos de
Kafka, Pirandello, Brecht e
Martins Pena. Ao fim do sétimo cruzeiro, "O Prazer da
Honestidade" (1955), desceu
da embarcação.
"Tenho um tipo físico especial", diz o senhor franzino. "Não sirvo muito para ser
ator. Precisa ter uma disposição especial, estar lá toda
noite. Mas agora estou fascinado com essa possibilidade
[de voltar]."
Para o regresso, fez exercícios de voz e postura. "A dificuldade é decorar o texto.
Quando dirijo, decoro a peça
toda nos ensaios. Aqui, fora
dessa posição, me senti meio
acuado", afirma José, aqui
sob os auspícios de Eduardo
Tolentino, do grupo Tapa.
No hiato de 55 anos, José
se fez diretor. Fundou e esteve à frente do Arena, um dos
faróis a iluminar a cena nacional na longa noite da ditadura militar. Da miúda sala
em forma de círculo na rua
Teodoro Baima, no centro de
São Paulo, vinham lampejos
sobre os impasses e gargalos
da sociedade brasileira.
As montagens também revelavam nomes como o Gianfrancesco Guarnieri de "Eles
Não Usam Black-Tie", o Augusto Boal de "Revolução na
América do Sul" e o Vianninha de "Chapetuba Futebol
Clube" (dirigido por Boal).
José deixou o timão do
Arena em 1962, mas seguiu
em águas brasileiras. Nas décadas seguintes, montou
criações de Juca de Oliveira,
Millôr Fernandes, Dias Gomes e João Bethencourt.
"CHAPETUBA"
Em 2008, na reabertura do
Arena depois de uma reforma, foi chamado pela Funarte para guiar jovens atores
em nova versão de "Chapetuba". A volta para casa foi
abreviada, no ano seguinte,
pelo lançamento de um edital para ocupação compartilhada da sala por duas companhias, durante três meses.
"Isso é uma bobagem,
uma besteira. Um teatro tem
de ficar com alguém, com um
grupo por no mínimo três
anos, como na Europa", opina, em tom de mágoa.
"A minha ideia era continuar com o elenco de "Chapetuba", formar um corpo permanente de atores. Mas as
pessoas são imediatistas,
não querem saber de mais
tempo, mais profundidade."
No mesmo período, ele dirigiu o Teatro dos Arcos, na
região central de São Paulo,
onde criou o grupo Casa da
Comédia. Há alguns meses, a
trupe teve de zarpar dali por
conta da subida do aluguel.
Mais uma desilusão.
Por ora, José prefere se deter sobre a peça com toques
de ficção científica que guarda na gaveta (sim, ele também escreve): uma fantasia
em que um grupo de homens
volta à superfície depois de
viver um século sob a terra.
Ou imaginar papeis para a
nova velha carreira. "Há personagens de [Harold] Pinter
que podem ser feitos por atores da minha idade." Tem fôlego esse marinheiro.
12 HOMENS E
UMA SENTENÇA
QUANDO de qui. a sáb., às 19h30,
dom., às 18h; até 19/12
ONDE CCBB (r. Álvares Penteado,
112, tel. 0/xx/11/3113-3651)
QUANTO R$ 15
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
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