São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2001

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Perdida na crise do mercado, Universal esboça megaplano de restauração de catálogo

A rainha ferida

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Nos sete anos passados, a Universal Music foi consecutivamente "a gravadora número 1 do Brasil". Segundo dados de janeiro a novembro de 2001, continua sendo, apesar da diminuição brutal de vendagens ao longo deste ano.
A queda livre é compartilhada pelas demais gravadoras, mas tira o chão da Universal não só pela crise econômica geral e pelo avanço da pirataria (que hoje ocupa mais de 50% do mercado, segundo estimativa da Associação Brasileira dos Produtores de Discos), mas porque o pilar de faturamento da gravadora nos inflados anos 90, a axé music, foi riscado do mapa neste ano.
Se até há pouco discos de É o Tchan batiam picos de 3 milhões de cópias vendidas, em 2001 o máximo que a Universal conseguiu foi escoar 150 mil exemplares do CD do grupo As Meninas.
A crise se espalha e respinga no padre Marcelo Rossi, que, de recordista brasileiro absoluto com 3,2 milhões de cópias vendidas em 98, caiu, no CD com canções de Roberto Carlos, para 800 mil.
Em 2001, a Universal não emplacou nenhum milhão, conquistando ápice no CD de Sandy & Júnior (950 mil exemplares). A rival ascendente Abril Music declara marcas de 1,5 milhão (Bruno & Marrone) e 1,4 milhão (Falamansa), e a Sony sonha com 2 milhões do "Acústico MTV" de Roberto Carlos, ainda a serem verificados.
Coincidência ou não, a fase dos milhões, com axé, música sertaneja, pagode e pencas de CDs ao vivo, correspondeu à cruel marginalização, pela indústria, do que se chama "catálogo" -a coleção histórica de discos que cada gravadora acumulou em sua trajetória e que, em países atrasados como o Brasil, muitas vezes nem sequer foi vertida para CD.
De novo o caso é dramático para a "número 1", que acumula um dos mais volumosos e importantes catálogos da MPB pós-bossa nova, das antigas gravadoras Philips e PolyGram. Nocauteada a galinha dos ovos de ouro dos gêneros popularescos, a Universal esboça para 2002 um plano audacioso de restauração do catálogo.
De início, sete grandes séries de reedições estão programadas pela gravadora, que promete investir nos projetos cerca de R$ 300 mil -o valor do prêmio de Bárbara Paz na "Casa dos Artistas", não custa comparar-, dentro de um investimento musical total declarado de R$ 5 milhões.
A partir de março, devem sair nove caixas de reedições em CD de, nesta ordem, Nara Leão, Pixinguinha, Erasmo Carlos, Baden Powell, Gal Costa, Tom Jobim, Jorge Ben Jor, Maria Bethânia e Caetano Veloso, este também no novo formato DVD Audio.
Em CDs avulsos, devem ser relançadas as obras completas na Universal de artistas como Edu Lobo, Jair Rodrigues, João Donato, Angela Ro Ro e Marina Lima. A série Estréia promete recuperar os discos de chegada à gravadora de Rogério Duprat, Egberto Gismonti, Fagner, Alcione e outros.
O selo de bossa nova Elenco, de Aloysio de Oliveira, hoje pertencente à Universal, deve ter cem títulos originais relançados. Do selo Forma, de Roberto Quartin, voltam 12 títulos, inclusive a raríssima trilha sonora do filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (64). O músico Ed Motta deve comandar a série "Empoeirados", de investigação de raridades brasileiras. E 2002 promete ser um ano histórico no plano da memória, se tantas promessas se cumprirem.


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