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Perdida na crise do mercado, Universal esboça megaplano de restauração de catálogo
A rainha ferida
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Nos sete anos passados, a Universal Music foi consecutivamente "a gravadora número 1 do Brasil". Segundo dados de janeiro a
novembro de 2001, continua sendo, apesar da diminuição brutal
de vendagens ao longo deste ano.
A queda livre é compartilhada
pelas demais gravadoras, mas tira
o chão da Universal não só pela
crise econômica geral e pelo avanço da pirataria (que hoje ocupa
mais de 50% do mercado, segundo estimativa da Associação Brasileira dos Produtores de Discos),
mas porque o pilar de faturamento da gravadora nos inflados anos
90, a axé music, foi riscado do mapa neste ano.
Se até há pouco discos de É o
Tchan batiam picos de 3 milhões
de cópias vendidas, em 2001 o
máximo que a Universal conseguiu foi escoar 150 mil exemplares
do CD do grupo As Meninas.
A crise se espalha e respinga no
padre Marcelo Rossi, que, de recordista brasileiro absoluto com
3,2 milhões de cópias vendidas
em 98, caiu, no CD com canções
de Roberto Carlos, para 800 mil.
Em 2001, a Universal não emplacou nenhum milhão, conquistando ápice no CD de Sandy & Júnior (950 mil exemplares). A rival
ascendente Abril Music declara
marcas de 1,5 milhão (Bruno &
Marrone) e 1,4 milhão (Falamansa), e a Sony sonha com 2 milhões
do "Acústico MTV" de Roberto
Carlos, ainda a serem verificados.
Coincidência ou não, a fase dos
milhões, com axé, música sertaneja, pagode e pencas de CDs ao
vivo, correspondeu à cruel marginalização, pela indústria, do que
se chama "catálogo" -a coleção
histórica de discos que cada gravadora acumulou em sua trajetória e que, em países atrasados como o Brasil, muitas vezes nem sequer foi vertida para CD.
De novo o caso é dramático para a "número 1", que acumula um
dos mais volumosos e importantes catálogos da MPB pós-bossa
nova, das antigas gravadoras Philips e PolyGram. Nocauteada a
galinha dos ovos de ouro dos gêneros popularescos, a Universal
esboça para 2002 um plano audacioso de restauração do catálogo.
De início, sete grandes séries de
reedições estão programadas pela
gravadora, que promete investir
nos projetos cerca de R$ 300 mil
-o valor do prêmio de Bárbara
Paz na "Casa dos Artistas", não
custa comparar-, dentro de um
investimento musical total declarado de R$ 5 milhões.
A partir de março, devem sair
nove caixas de reedições em CD
de, nesta ordem, Nara Leão, Pixinguinha, Erasmo Carlos, Baden
Powell, Gal Costa, Tom Jobim,
Jorge Ben Jor, Maria Bethânia e
Caetano Veloso, este também no
novo formato DVD Audio.
Em CDs avulsos, devem ser relançadas as obras completas na
Universal de artistas como Edu
Lobo, Jair Rodrigues, João Donato, Angela Ro Ro e Marina Lima.
A série Estréia promete recuperar
os discos de chegada à gravadora
de Rogério Duprat, Egberto Gismonti, Fagner, Alcione e outros.
O selo de bossa nova Elenco, de
Aloysio de Oliveira, hoje pertencente à Universal, deve ter cem títulos originais relançados. Do selo
Forma, de Roberto Quartin, voltam 12 títulos, inclusive a raríssima trilha sonora do filme "Deus e
o Diabo na Terra do Sol" (64). O
músico Ed Motta deve comandar
a série "Empoeirados", de investigação de raridades brasileiras. E
2002 promete ser um ano histórico no plano da memória, se tantas
promessas se cumprirem.
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