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LIVROS/LANÇAMENTOS
"OS MISERÁVEIS"
Romance de 1862 do francês ganha nova edição, que traz imagens ilustrando a caixa e os dois volumes
Victor Hugo engloba o espetáculo da vida
MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA
"Este livro é um drama
cujo primeiro personagem
é o infinito. O homem é o segundo", diz em certo momento o narrador de "Os Miseráveis", de Victor Hugo, uma das obras literárias
mais famosas de todos os tempos
-e que agora recebeu escrupulosa edição da Cosac & Naify.
Imagens de Géricault, Delacroix
e Toulouse-Lautrec ilustram a
caixa e os dois maciços volumes,
mas os editores não cuidaram só
do aspecto gráfico. A versão de
1957, feita para a Editora das
Américas, foi reformulada pelo
próprio tradutor, Frederico Ozanam Pessoa de Barros. Ele não só
modernizou a linguagem e afinou
o texto como ampliou o número
de notas (hoje mais de 800).
O enredo mirabolante, que fez
os leitores se digladiarem por um
exemplar na época do lançamento (1862), foi adaptado inúmeras
vezes para o cinema e o teatro. Só
o xaroposo musical da Broadway
atraiu 45 milhões de espectadores, que se emocionaram com as
aventuras de Jean Valjean, Cosette e o policial Javert, na França do
período da Restauração.
Valjean é o miserável preso e
condenado às gales pelo roubo de
um pão. Redimido pelo bispo
Myriel de seu justo ódio pela iniquidade das instituições, passa
quase dois terços do livro fugindo
do implacável Javert. Nesse meio
tempo, ajuda Cosette, que adota
informalmente após a morte da
mãe dela, a prostituta Fantine.
Mas a narrativa não se prende
só à intriga melodramática, que
inclui ainda o "affair" entre Cosette e o jovem republicano Marius,
destacando também episódios da
história da França, como a batalha de Waterloo e a Revolução de
1830 contra o rei Carlos X.
No prefácio a esta nova edição,
Renato Janine Ribeiro afirma que
uma das originalidades da obra
está no fato de Hugo ter apresentado a pobreza como tema, um
assunto novo no século 19. De fato, a ficção já procurava alargar o
espectro de representação. Stendhal e Balzac jogaram os holofotes, pela primeira vez na literatura
não satírica, sobre pessoas de baixa extração social -o que também faz Dickens, na Inglaterra.
Hugo seguiu a tendência de
alargamento de horizontes. Ladrões, policiais, prostitutas, bispos, soldados, comerciantes e revolucionários convivem num largo painel social descrito com tintas ora épicas, ora sentimentais,
ora dramáticas.
O romance como gênero literário cada vez mais tinha a ambição
de abarcar o conjunto completo
da experiência humana. Por isso,
a nos valermos da frase do narrador, apenas a representação da
pobreza é pouco. "Os Miseráveis"
procurava, na sua ambição romântica, englobar todos os aspectos do espetáculo da vida.
Os Miseráveis
Autor: Victor Hugo
Tradutor: Frederico Ozanam de Barros
Editora: Cosac & Naify
Quanto: R$ 86 (dois vols.; 1.288 págs.)
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