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LITERATURA
Autor best-seller comenta a construção de suas tramas e afirma não se importar com críticas negativas
"Livros podem ser terapêuticos", diz Sheldon
JULIÁN FUKS
DA REPORTAGEM LOCAL
Dedique-se o leitor a descobrir a
razão para a existência dos fenômenos editoriais e, por vezes, a
explicação não soará tão complexa. No caso do norte-americano
Sidney Sheldon, havia um sonho,
e ele estava disposto a fazer tudo
para alcançá-lo -qualquer semelhança com um conselho de auto-ajuda não será mera coincidência.
Um sonho simples por sua indefinição: tornar-se famoso.
Não foi pouco, entretanto, o que
o jovem Sidney Shechtel, auto-convertido Sheldon, teve de fazer
para alcançar sua sina. Não é pouco o que narra, agora aos 88 anos,
em sua recém-lançada autobiografia "O Outro Lado de Mim": o
concurso que iniciava sua carreira
de radialista, a ida a Nova York na
tentativa de se tornar um compositor de sucesso, os contatos na
Broadway para se converter em
dramaturgo de sucesso, os anos
de vivência intensa em Hollywood até ser roteirista de sucesso.
O apreço recebido pela série de
TV de sua autoria "Jeannie é um
Gênio" e o Oscar de melhor roteiro que recebeu por "Solteirão Cobiçado" (1948) anteciparam as estrondosas marcas que obteria
com seus romances. Sidney Sheldon é simplesmente o autor mais
traduzido de toda a história, para
51 línguas, tendo vendido, em 180
países, cerca de 350 milhões de
exemplares de seus 18 romances.
Diante desse universo de números elevados, difícil descrever a
surpresa que resulta de contrastá-los com outros: das 378 páginas
da autobiografia, apenas 20, e
com interrupções, são dedicadas
a sua aventura de romancista.
Surpresa ingênua, é preciso confessar. Afinal, para que explicar a
natureza de sua criação se tudo
pode se resumir a uma idéia: o desejo de escapar do anonimato, o
desejo de que "as pessoas saibam
que Sidney Sheldon esteve aqui"?
Pois sim, ingenuidade maior
ainda por outro aspecto. Se há algo que ninguém pode negar a
Sheldon é a capacidade de saber o
que querem seus leitores: para
que falar de literatura, se pode
contar histórias de seu convívio
com outros famosos, de Marilyn
Monroe a Groucho Marx, de Cary
Grant a Judy Garland? Sim, o melhor é deixar falar o autor de
"Lembranças da Meia-Noite", "A
Ira dos Anjos" e "Quem Tem Medo de Escuro?", entre muitos outros. Como na entrevista a seguir.
Folha - Por que dar tão pouco espaço, em sua autobiografia, aos romances que escreveu, se são eles os
que lhe proporcionaram o reconhecimento ambicionado?
Sidney Sheldon - Em "O Outro
Lado de Mim", escrevi sobre
meus primeiros anos na Broadway e em Hollywood. Eu só comecei a escrever romances quando
tinha 50 anos de idade.
Folha - Julgando por essas histórias, parece que o essencial era obter sucesso, não importando em
que área. Era uma necessidade?
Sheldon - Não sei se sucesso é a
palavra certa. Era sempre importante para mim fazer o melhor
que podia em qualquer coisa que
empreendesse. Mesmo quando
fui trabalhar nos estúdios de cinema, o mais importante era fazer
um bom trabalho.
Folha - Como o senhor explica a
fama que obteve?
Sheldon - Creio que meu sucesso
se deve ao fato de que escrevo histórias que cativam a imaginação
dos leitores. Meus romances têm
personagens que o público costuma considerar interessantes, se
passam em lugares glamourosos e
geralmente são divertidos.
Folha - O senhor acredita que os
americanos, de modo geral, são vítimas de uma cultura do sucesso?
Sheldon - A cultura do sucesso,
nos EUA, se aplica a um grupo limitado de pessoas. E todo país
tem cidadãos que se vangloriam
de serem bem-sucedidos.
Folha - No livro, o senhor parece
dar certa importância às críticas
que recebe, citando-as com freqüência. Como sente o fato de elas
nem sempre serem positivas?
Sheldon - A opinião dos leitores
é muito mais importante do que a
opinião dos críticos. O fato de 350
milhões de pessoas terem comprado meus livros é, para mim,
reconhecimento suficiente.
Folha - Por que o senhor escreve?
Como cria suas histórias?
Sheldon - Escrevo simplesmente
porque gosto de escrever. Começo com um personagem e construo a trama a partir dele. Na verdade, meus personagens é que escrevem as histórias.
Folha - O seu problema psicológico, descrito na autobiografia, afetou de alguma forma sua escrita?
Sheldon - Acredito que os problemas psicológicos de alguns dos
meus personagens são resultado
direto do transtorno bipolar de
que sofro, que me dá um melhor
entendimento dessas questões
[no livro, o autor conta que, em
1948, um psiquiatra diagnosticou
um transtorno bipolar ou doença
maníaco-depressiva].
Folha - O senhor acredita que sua
família um tanto problemática o
conduziu a se tornar um escritor?
Sheldon - Se minha família contribuiu de alguma forma nisso, foi
uma contribuição negativa.
Folha - O senhor conta que, quando seus pais brigavam, ia para a livraria para encontrar nos livros alguns "mundos pacíficos e serenos". A literatura deve ser assim?
Sheldon - Os livros podem ser terapêuticos. Acredito que a maneira como meus personagens resolvem seus problemas pode ajudar
os leitores a resolver os deles.
Folha - Por que quis fazer uma autobiografia? Tudo o que senhor escreveu até aqui, todas as vidas que
inventou, foram para justificar a
existência deste específico livro,
em que conta a sua vida?
Sheldon - Escrevi minhas memórias porque decidi fazê-lo enquanto sou jovem! Os romances
que eu escrevi não existem para
justificar nada -eles foram feitos
para entreter o leitor.
O Outro Lado de Mim
Autor: Sidney Sheldon
Editora: Record
Quanto: R$ 39,90 (378 págs.)
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