São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

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Crítica/"Sombras de Goya"

Longa dá tratamento artificial à Inquisição

CRÍTICO DA FOLHA

O peso de encenar uma reconstituição histórica não deveria mais atrapalhar um veterano como o tcheco Milos Forman, que já se virou bem com esse gênero de pompa e circunstância em "Amadeus" (1984) e "Valmont" (1989), mas ele não consegue escapar das armadilhas que a suntuosidade de "Sombras de Goya" lhe preparou.
Lançado na Espanha em 2006 e com resultado pífio de bilheteria nos EUA, o filme -escrito por Forman e pelo francês Jean-Claude Carrière- só agora chega ao Brasil, em sua versão "internacional": os personagens principais são espanhóis, mas falam em inglês; ao fundo de diversas cenas e no meio de alguns diálogos, no entanto, ouvem-se expressões em espanhol.
Seria um detalhe irrelevante se não destacasse, com essa pequena Babel imposta por leis de mercado associadas exclusivamente ao interesse do público norte-americano, o tratamento artificial e pomposo empregado para tratar dos abusos cometidos pelo Santo Ofício da Inquisição no final do século 18, na Espanha.

Fantasmas
No título original, tanto em inglês quanto em espanhol, as tais "sombras" de Goya são, na verdade, fantasmas: os que aparecem em suas gravuras como figuras deformadas e sofredoras, que escandalizavam a igreja, e os de alguns personagens de seus retratos, que caíam pouco depois em desgraça.
Interpretado pelo sueco Stellan Skarsgard ("Dançando no Escuro", "Dogville"), o pintor da corte espanhola funciona como conexão entre os dois personagens centrais da trama: um monge próximo ao comando da Inquisição (o espanhol Javier Bardem, de "Mar Adentro") e uma jovem torturada sob a acusação de ser "judaizante" (Natalie Portman).
Na primeira parte da trama, que emparelha com a Revolução Francesa, ambos se conhecem em circunstâncias desfavoráveis e parecem selar seus destinos.
Na segunda parte, 15 anos depois, Goya está surdo e os demais personagens, cada qual à sua maneira, se tornaram fantasmas.
As reviravoltas da história européia no período causam pequenas surpresas, que o filme explora sem se concentrar em nada a contento (seus 113 minutos soam, nesse sentido, apressados), exceto na riqueza de detalhes da suposta fidelidade histórica (e, nesse quesito carnavalesco, seus 113 minutos parecem arrastados). (SR)

SOMBRAS DE GOYA
Direção:
Milos Forman
Produção: EUA/Espanha, 2006
Com: Javier Bardem, Natalie Portman e Stellan Skarsgard
Onde: estréia hoje nos Cine Bombril, Frei Caneca Unibanco, Kinoplex e circuito
Avaliação: regular


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