São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

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Música - Crítica/"White Chalk"

PJ Harvey se reinventa em novo CD

O intenso e criativo "White Chalk" é um dos álbuns do ano, mesmo sendo pouco valorizado nas listas dos melhores de 2007

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

A julgar pelas inúmeras listas de melhores do ano, 2007 será lembrado por "Sound of Silver", álbum em que o LCD Soundsystem finalmente lapidou o disco-punk; ou pela explosão de world music proporcionada por MIA em "Kala"; por "In Rainbows" e a inusitada estratégia de divulgação promovida pelo Radiohead; ou ainda por...
Bem, em 2007 alguns álbuns monopolizaram as escolhas da crítica, enquanto outros parecem não ter recebido a devida atenção. Nesse caso está "White Chalk", da inglesa PJ Harvey. Aos 38 anos, Polly Jean Harvey lançou seu oitavo disco de estúdio no início de outubro, inclusive no Brasil -à época, despertou merecidos elogios.
Desde que apareceu, no início dos anos 90, quando era apresentada com entusiasmo pelo histórico John Peel (1939-2004) em seu programa de rádio na BBC, PJ Harvey nunca pôde ser encaixada com precisão em nenhuma categoria.
Saiu da crueza de "Dry" (1992), seduziu o imaginário roqueiro com a elegância melancólica de "To Bring You My Love (1995), resolveu fazer um disco pop com "Stories from the City, Stories from the Sea" (2000), enquanto "Hu Huh Her" (2004) fora produzido em torno do vigor da guitarra.
Se no início de carreira usava-se sempre Patti Smith como comparação à música feita por Harvey, com o tempo o referencial passou a ser a variada própria obra da cantora -as autoreinvenções que Harvey vem promovendo disco a disco.
Se antes ela aparecia imponente com sua guitarra alta e cercada por uma potente banda, em "White Chalk" Harvey é uma cantora introvertida, responsável por canções que transpiram fragilidade, incerteza, insegurança. Grande parte das canções é construída apenas por piano, novidade no trabalho de PJ Harvey. São baladas em formato clássico, de apuro melódico, sem maiores concessões pop.
"When Under Ether", o primeiro single do disco, tem melodia que faz uma remota lembrança a "Down by the Water", canção de 1995 de Harvey. Mas agora ela está contida, e como em quase todo o restante do álbum, letra e música têm uma beleza quase pueril, sem adornos ou rebuscamentos.
É um minimalismo latejante que tem início logo na primeira faixa, "The Devil", em que a voz de Harvey serpenteia com desenvoltura junto ao piano. Há um clima de desespero, uma certa beleza errante e delicada em faixas como "Dear Darkness", "The Mountain" e "Broken Harp". Já "The Piano" é a mais pulsante, das poucas que têm instrumentação mais aparente. Sutil, Harvey fez um disco intenso e nada previsível.


WHITE CHALK
Artista:
PJ Harvey
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: ótimo


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