|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Música - Crítica/"White Chalk"
PJ Harvey se reinventa em novo CD
O intenso e criativo "White Chalk" é um dos álbuns do ano, mesmo sendo pouco valorizado nas listas dos melhores de 2007
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
A julgar pelas inúmeras
listas de melhores do
ano, 2007 será lembrado por "Sound of Silver", álbum
em que o LCD Soundsystem finalmente lapidou o disco-punk; ou pela explosão de
world music proporcionada
por MIA em "Kala"; por "In
Rainbows" e a inusitada estratégia de divulgação promovida
pelo Radiohead; ou ainda por...
Bem, em 2007 alguns álbuns
monopolizaram as escolhas da
crítica, enquanto outros parecem não ter recebido a devida
atenção. Nesse caso está "White Chalk", da inglesa PJ Harvey.
Aos 38 anos, Polly Jean Harvey lançou seu oitavo disco de
estúdio no início de outubro,
inclusive no Brasil -à época,
despertou merecidos elogios.
Desde que apareceu, no início dos anos 90, quando era
apresentada com entusiasmo
pelo histórico John Peel (1939-2004) em seu programa de rádio na BBC, PJ Harvey nunca
pôde ser encaixada com precisão em nenhuma categoria.
Saiu da crueza de "Dry"
(1992), seduziu o imaginário
roqueiro com a elegância melancólica de "To Bring You My
Love (1995), resolveu fazer um
disco pop com "Stories from
the City, Stories from the Sea"
(2000), enquanto "Hu Huh
Her" (2004) fora produzido em
torno do vigor da guitarra.
Se no início de carreira usava-se sempre Patti Smith como
comparação à música feita por
Harvey, com o tempo o referencial passou a ser a variada
própria obra da cantora -as
autoreinvenções que Harvey
vem promovendo disco a disco.
Se antes ela aparecia imponente com sua guitarra alta e
cercada por uma potente banda, em "White Chalk" Harvey é
uma cantora introvertida, responsável por canções que
transpiram fragilidade, incerteza, insegurança.
Grande parte das canções é
construída apenas por piano,
novidade no trabalho de PJ
Harvey. São baladas em formato clássico, de apuro melódico,
sem maiores concessões pop.
"When Under Ether", o primeiro single do disco, tem melodia que faz uma remota lembrança a "Down by the Water",
canção de 1995 de Harvey. Mas
agora ela está contida, e como
em quase todo o restante do álbum, letra e música têm uma
beleza quase pueril, sem adornos ou rebuscamentos.
É um minimalismo latejante
que tem início logo na primeira
faixa, "The Devil", em que a voz
de Harvey serpenteia com desenvoltura junto ao piano.
Há um clima de desespero,
uma certa beleza errante e delicada em faixas como "Dear
Darkness", "The Mountain" e
"Broken Harp". Já "The Piano"
é a mais pulsante, das poucas
que têm instrumentação mais
aparente. Sutil, Harvey fez um
disco intenso e nada previsível.
WHITE CHALK
Artista: PJ Harvey
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: ótimo
Texto Anterior: Última Moda - Alcino Leite Neto: Com os pés na vanguarda Próximo Texto: Quinteto traz panorama do erudito no Brasil Índice
|