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Crítica/"Braços Cruzados Máquinas Paradas"
Filme registra movimento grevista de 1978 em pleno olho do furacão
Documentário impressiona pelas imagens de trabalhadores e discursos
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Roberto Gervitz ("Feliz
Ano Velho", "Jogo Subterrâneo") e Sérgio Toledo ("Vera") tinham pouco
mais de 20 anos e eram universitários de classe média quando
fizeram o documentário "Braços Cruzados Máquinas Paradas", em 1978.
Inicialmente concebido para
registrar a eleição para a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, dominado havia 14 anos pelo "pelego" Joaquim dos Santos Andrade (o
Joaquinzão), o filme foi colhido
no olho do furacão do primeiro
grande movimento grevista
paulistano desde o golpe militar de 1964.
Na esteira das greves metalúrgicas do ABC, cujo principal
líder era um certo Lula, as fábricas de São Paulo começaram
a parar por reajustes salariais,
melhores condições de trabalho e liberdade sindical. Os jovens Toledo e Gervitz, excitados com o movimento, optaram por fazer de seu filme um
instrumento, dando voz aos
operários e seus líderes.
Visto hoje, 30 anos depois,
"Braços Cruzados" ainda impressiona por seu frescor e vitalidade, mas também por documentar um certo mundo operário que parece não existir
mais, o das grandes massas de
trabalhadores braçais operando máquinas semi-manuais.
Como diz, nos extras do
DVD, um dos líderes do movimento de 78, as fábricas hoje
"parecem laboratórios", onde
"se bobear os operários trabalham de terno".
Como os cineastas estavam
envolvidos de corpo e alma na
luta da oposição para reconquistar o sindicato, grande parte do filme se concentra na
campanha eleitoral, nas eleições fraudadas, anuladas pela
Justiça e depois revalidadas pelo governo militar. Embora haja tensão no processo, é algo
que hoje soa distante e datado.
Filme de amor
O que fica de mais precioso
são as imagens dos trabalhadores nas fábricas, nos ônibus e
trens, nas moradias precárias.
A fala dos não-militantes são
quase sempre mais interessantes do que a dos sindicalistas.
Uma operária diz, indignada,
na porta de uma fábrica: "Não é
à toa que tem cada vez mais ladrão e gente pedindo esmola.
Vale mais roubar ou mendigar
do que acordar às três da madrugada para trabalhar na Philco e ganhar uma porcaria".
A câmera de Aloysio Raulino
capta com extrema sensibilidade o balé de rostos e corpos que
pela primeira vez se viam como
atores da história, e não apenas
como vítimas ou espectadores.
Nos extras, além de entrevistas de Gervitz e Raulino, o destaque são os depoimentos de
cinco líderes das greves de 78,
três décadas depois. Ao se rever
na tela e contextualizar o movimento, eles dão uma demonstração de lucidez, coerência e
alegria que chega a comover.
Um deles diz a certa altura a
palavra "amor" para definir o
que os une. Para além da política, Gervitz e Toledo fizeram isso mesmo: um filme de amor.
BRAÇOS CRUZADOS
MÁQUINAS PARADAS
Lançamento: VideoFilmes
Quanto: R$ 45, em média
Classificação: livre
Avaliação: ótimo
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