São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Televisão / Crítica

Brooks fez belo exercício de antecipação

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O título original de "O Homem com a Lente Mortal" (HBO, 0h45; não recomendado a menores de 12 anos) é, mais apropriadamente, "Wrong Is Right", ou "certo é errado". Vale, primeiro, do ponto de vista do enredo, em que um famoso jornalista de TV (Sean Connery), com ligações importantes no Oriente Médio, se vê a horas tantas aprisionado numa teia arquiperigosa, sobre a qual não tem a menor influência.
A saber: um poderoso local dispõe-se a repassar armas atômicas a terroristas, que as jogariam em Israel. Ele tomaria essa atitude como represália ao presidente dos EUA, que deseja tirá-lo do poder.
Do ponto de vista da ficção, temos aí um belo exercício de antecipação (o filme é de 1982). Ele não se detém na semelhança com aspectos da política internacional no século 21.
É o fato do repórter se ver perdido entre tantas visões da realidade, entre tantas versões do mundo que mais o aproxima de nós.
Mas o aspecto mais interessante deste filme de Richard Brooks é sua distância em relação à produção média, sua ousadia de saber se perder junto com seu herói, de não fingir que o mundo é facilmente compreensível, nem divisível de imediato em certo/errado.
Brooks contraria, com sua proverbial honestidade, as regras do sucesso cinematográfico. Regras cada vez mais explícitas. Paga um preço: o fracasso imediato. Mas faz um filme memorável.


Texto Anterior: Bia Abramo: Nova novela do SBT já nasce velha
Próximo Texto: Ferreira Gullar: Bagunça
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.