São Paulo, terça-feira, 21 de dezembro de 2010

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CRÍTICA ROCK

Aos 65, Bryan Ferry quebra jejum

Cantor resgata em CD solo parceiros e som do Roxy Music, que liderou nos anos 1970 e 1980

THALES DE MENEZES
DE SÃO PAULO

Kate Moss aparece na capa de "Olympia", 13º álbum solo do cantor Bryan Ferry. Está de cabeça para baixo, mas, ainda assim, é Kate Moss. E isso significa muito.
Não se trata de devoção à bela e polêmica modelo inglesa. Sua imagem está ali para sinalizar que desta vez Ferry tenta voltar ao rock que fazia com sua banda nos anos 1970, Roxy Music.
Surgido na esteira do glam de David Bowie e Marc Bolan em 1971, o Roxy Music deixou logo a maquiagem e focou seu trabalho na construção de rock sofisticado, elegante.
As harmonias redondas, bases de canções assobiáveis e prontas para as rádios, viraram um modelo. Sem exagero, o Duran Duran não existiria sem o Roxy Music.
Desde o álbum de estreia, uma marca do grupo era colocar nas capas dos discos fotos de modelos famosas. Não por coincidência, com certeza, praticamente todas eram namoradas do cantor.
Ferry desenvolveu uma carreira solo paralela, desde 1973, em que priorizou regravações de outros artistas e baladas românticas derramadas, como o sucesso mundial "Slave to Love".
Nos discos solo, Ferry optava por seus retratos nas capas, invariavelmente com ternos de grife muito bem cortados e o cabelo cuidadosamente (des)penteado.
Em "Olympia", pela primeira vez ele não está na capa. Kate Moss vem para resgatar os antigos fãs do Roxy Music, que não vão se decepcionar com o resultado.
Se não chega perto de discos como "Siren" e "Country Life", o novo álbum não faria feio se encaixado na discografia da banda. "Olympia" é o primeiro disco de inéditas de Ferry desde "Frantic", de 2002. Há três anos, lançou "Dylanesque", uma fraca reunião de covers de Bob Dylan.
Para a retomada de uma pegada mais rock aos 65 anos, ele reuniu no estúdio um time dos sonhos. Companheiros de Ferry no Roxy Music, Andrew Mackay, Phil Manzanera e Brian Eno participam de algumas faixas.
A lista de convidados vip tem o baixista Flea (Red Hot Chili Peppers), Dave Stewart (ex-Eurythmics) e o duo eletrônico Groove Armada. O destaque, no entanto, é Dave Gilmour (Pink Floyd), que empresta sua guitarra suave a duas ótimas baladas, "Me Oh My" e a arrepiante "Song to the Siren", regravação de um sucesso de Tim Buckley, original de 1967.
Na banda fixa, que já está em turnê com Ferry e faz as bases do disco, dois instrumentistas que todo artista pediu a Deus: Marcus Miller, no baixo, e Nile Rodgers, o guitarrista responsável pelo impecável som sacolejante do Chic no auge da disco.
Tanto craque junto rendeu coisas como "BF Bass (Ode to Olympia)", um soul pesado para levantar qualquer festa, "Reason or Rhyme" (puxada por Ferry ao piano) e "You Can Dance" (como o nome entrega, feita para dançar).
Dois grandes momentos poderiam entrar em um "greatest hits" do Roxy Music: "Heartache by Numbers", marcada pelo baixo de Flea, e "No Face, No Name, No Number", regravação de uma canção do Traffic, escrita por Steve Winwood e Jim Capaldi, que na versão de Ferry ficou pop grudento.
Rock elegante, "Olympia" é altamente indicado para fãs do melhor Duran Duran, do Bowie fase "Let's Dance" e, claro, do Roxy Music.

OLYMPIA

ARTISTA Bryan Ferry
LANÇAMENTO Virgin/EMI
QUANTO R$ 28
AVALIAÇÃO ótimo


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