São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 2005

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DO OUTRO LADO DA PASSARELA

Modelos, maquiadores e stylists se espremem nos camarins pré-desfiles

Bastidores agrupam amor e ódio

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em cem metros quadrados de paredes pretas, luzes e espelhos, mais de cem pessoas correm de um lado para o outro com pressa. Trocam de roupa, procuram sapatos, sentam, levantam, puxam cabelos e ajeitam golas num vai-e-vem frenético que mais parece uma coreografia do caos. É nesse movimento conturbado que tudo se encaixa.
São assim -com camareiras, modelos, produtores, maquiadores, cabeleireiros, stylists, seguranças, assessores e fotógrafos- os bastidores de um grande desfile de moda.
"É muita confusão, muita loucura e muito estresse", define a modelo Yasmin Brunet, filha de Luiza Brunet. A top Caroline Ribeiro concorda: "É um dos ambientes mais estressantes que conheço. Todo mundo se ama e se odeia ao mesmo tempo".
No acesso ao camarim da Cori, modelos chegam esbaforidas do desfile que acabou de terminar, desviam do aglomerado de jornalistas que querem entrar e são conduzidas rapidamente para a sala da beleza, onde cabelos e maquiagem são providenciados. Quem espera ou já está pronta, senta no chão.
Duas, quatro, até seis mãos sobre cada uma delas dão conta, em tempo recorde, da tarefa: esticam cabelos, borrifam sprays e colorem rostos. Em um canto da sala, dois massagistas -que chegam a chacoalhar até 40 modelos por dia- amassam corpos de pouca substância. "Elas quase não têm musculatura, então é difícil massageá-las. Não dá para apertar osso. Dói", diz o fisioterapeuta Daniel Jorge, 22.
Viviane Surgek, 16, recém-saída do massagista e uma das promessas da temporada, suspira: "Você viaja no tempo. Ajuda a relaxar da tensão pré-desfile".
Hora das roupas: uma sala anexa à de cabelo e maquiagem, várias araras estão marcadas com o nome da garota que deve usar as peças ali penduradas. Cada modelo é vestida dos pés à cabeça por pelo menos duas camareiras, como se fosse uma boneca. Ficam quietas, peitos e coxas à mostra. Olham ao redor como se não estivessem ali.
Em seguida, o stylist do desfile passa de modelo em modelo ajeitando acessórios e afofando saias. "Tá bom", "tá linda" e "tá ótimo" são os códigos de que o resultado ficou a contento.
Dez minutos antes de entrar na passarela, elas passam por uma chamada que as arranja numa fila por ordem de entrada no desfile. É o prenúncio do show. Alinhadas, duas conversam, outras riem e outra boceja.
"Vamos lá, meninas, concentração, sensualidade, ritmo e, o mais importante, vocês estão lindas", grita o stylist Luciano Neves, minutos antes do desfile da Patachou, enquanto maquiadores empoam narizes e testas suados. "Nesses últimos segundos, dá um superfrio na barriga", conta a top Isabeli Fontana.
O clima é de expectativa. O silêncio finalmente reina. E elas entram na passarela.
"É um estresse enorme para uma apresentação de dez minutos. Mas vale a pena. Quando entro na passarela, esqueço de tudo", diz a top Carol Trentini, 17. Missão cumprida.


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