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Arte ambígua é aposta de nova sede de museu de arte contemporânea
Exposição "Unmonumental", do New Museum, renega o conceito de obra
MARCO GIANNOTTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM NOVA YORK
O New Museum of Contemporary Art, projetado pelos arquitetos Kazuyo Sejima e Ryue
Nishizawa, foi inaugurado no
final do ano passado, celebrando os 30 anos desta instituição
inovadora em Nova York. A nova sede está em Little Italy, entre a Houston e a Canal Street,
sul de Manhattan, e traz agora a
segunda exposição da série
"Unmonumental" -"Collage:
The Unmonumental Picture".
O local já é em si uma colagem pela variedade cultural:
restaurantes italianos e chineses, vendinhas, lojas de cozinha
industrial e uma infinidade de
passantes de níveis sociais e
procedências diversas. Em
"Unmonumental", o fio condutor é a colagem em vários
meios, como fotografia, pintura, escultura, instalação, música e novas mídias.
A colagem, técnica que surge
a partir do cubismo sintético,
quando Picasso e Braque em
1911 passam a utilizar materiais
como jornal, papel de parede
etc., permite novos arranjos espaciais a partir da fragmentação. Desse novo raciocínio
construtivo surgem movimentos derivados, como o construtivismo e a arte concreta.
O projeto do prédio do New
Museum se inspira neste princípio. O edifício parece um conjunto sobreposto de cubos,
uma construção instável de peças de Lego, que é contundente,
bela, dinâmica, inovadora. Os
interiores celebram o cubo
branco, mas a volumetria moderna guarda surpresas, onde o
espaço se recorta em saídas e
rampas inesperadas. O elevador já é uma obra de arte. Dentro da caixa enorme de metal
verde, tem-se a impressão de
estar em uma peça do artista
minimalista Donald Judd, mas
em movimento contínuo.
O mesmo não pode ser dito
do que está exposto ali. Encabeçado por Richard Flood, o
projeto curatorial parece ir na
contramão da arquitetura, e a
arte não contraria o título "Unmonumental". A colagem, pela
utilização de materiais até então alheios à arte, como jornal,
terra e vidro, alimentou a fusão
entre a alta cultura e o popular.
Aqui, o aspecto das obras nos
leva ao ponto de não sabermos
o que faz uma obra ser arte. Por
outro lado, se a incorporação
do kitsch nas primeiras colagens modernas revela irreverência e humor, o kitsch parece
ser o objetivo final das obras.
O aspecto crítico da obra se
esvai, sua precariedade passa a
ser fundamentada por um discurso multicultural que não é
nem antropologia, nem sociologia, mas uma espécie de palavreado conceitual que só alguns curadores de última geração são capazes de articular.
O aspecto negativo da obra
de arte já aparece com os
"ready-mades" de Duchamp,
mas, como o próprio artista
afirmava, a novidade do "readymade" está em colocar o próprio aspecto da obra em questão. Hoje em dia, apenas pelo
fato de as obras estarem no museu e em belos projetos arquitetônicos como este, tornam-se
peças de arte. A negação da dimensão estética é notável, ao
ponto de não sabermos se o
plástico jogado no chão é arte.
Certa vez, Hannah Arendt
disse que a essência da cultura
frente à barbárie está na preservação dos objetos artísticos.
Se os arquitetos do New Museum souberam fazer deste espaço uma experiência contemporânea, o mesmo não pode ser
dito das obras ali presentes.
Salvaguardadas pelo discurso
conceitual e pela presença
magnífica do próprio museu, as
obras são como crianças mimadas, renegam o próprio espaço
onde estão.
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