São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

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ARTES PLÁSTICAS

Museu Oscar Niemeyer reúne, em Curitiba, 184 trabalhos de pacientes de um manicômio nos anos 40 a 60

Exposição resgata a pura arte vinda do inconsciente

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Pretensas análises clínicas do que ia pela mente perturbada dos seus autores, os profissionais da psiquiatria só vão encontrar nas informações fotográficas, nos documentários e em palestras paralelas. Nos 184 trabalhos reservados para a exposição "Imagens do Inconsciente", que o MON (Museu Oscar Niemeyer), de Curitiba, inaugura hoje, predominou o critério da arte, essencialmente.
A mostra reúne trabalhos inéditos de oito artistas consagrados do acervo do Museu da Imagem do Inconsciente, do Rio, todos pacientes de um manicômio nos anos 1940 a 1960.
Fernando Diniz, Adelina Gomes, Emygdio de Barros, Carlos Pertuis, Raphael Domingues e Arthur Amora, artistas plásticos com reconhecimento histórico na área no Brasil, são os autores da maioria das obras reservadas nesta série. Geraldo Aragão e Abelardo Corrêa completam a relação de escolhidos. Em setembro, a mesma seleção será levada para o Museu de Arte Bruta, de Paris.

Terapia
As obras são fruto da revelação desses artistas nos ateliês de terapia ocupacional que a psiquiatra Nise da Silveira montou em 1946, no Centro Psiquiátrico Pedro 2º, do Rio. À frente do seu tempo, a médica tratou dos distúrbios da mente de seus pacientes dando a eles as condições para se manifestar artisticamente ou desenvolver um ofício. Precisou enfrentar o preconceito e a resistência da sociedade médica para continuar.
"A psiquiatria da época via no louco uma pessoa em ruína, com perda da inteligência, da afetividade, da criatividade. Esses trabalhos comprovam que estava errada", diz o curador da mostra e diretor do museu do Rio, Luiz Carlos Mello, 53. Ele trabalhou 27 anos com Nise da Silveira.
O museu que Mello dirige detém um acervo de 251 mil obras de artistas revelados nas telas e na moldagem de barro. No ano passado, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) reconheceu sua importância cultural ao tombar 126 mil trabalhos. As peças reservadas para o MON fazem parte desse acervo.
Ao percorrer o hall e as duas salas que a exposição ocupa, o visitante terá contato com trabalhos de equilíbrio estético e beleza. Nenhum dos pacientes de Nise da Silveira teve formação acadêmica antes da terapia no hospital. Tudo é resultado da intuição.

Jung
Os trabalhos dos pacientes de Nise da Silveira basearam estudos científicos sobre a tese do potencial autocurativo da mente humana que ela debateu com Carl Gustav Jung. A médica morreu em 1999; faria cem anos neste mês.
Para a exposição, Mello reservou de Carlos Pertuis a série de telas geométricas que retratam o circo. De Raphael Domingues, os desenhos que ele fazia dispensando esboços. Os painéis geométricos feitos de velhas colchas do hospital por Fernando Diniz são as obras de maior dimensão. De Adelina Gomes, o curador trouxe telas de formas espontâneas de mandalas e réplicas de esculturas em barro que lembram imagens pré-históricas.
Mais surpreendente é a arte de Emygdio de Barros. Em contato com a arte só aos 52 anos, e após 23 anos de internação, ele é considerado um dos gênios da pintura brasileira pelo poeta Ferreira Gullar.


IMAGENS DO INCONSCIENTE. Onde: MON - Museu Oscar Niemeyer (r. Marechal Hermes, 999, Curitiba, PR, tel. 0/xx/41/350-4400). Quando: de hoje a 22/5, de ter. a dom., das 10h às 18h30. Quanto: de R$ 2 a R$ 4.

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