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ARTES PLÁSTICAS
Museu Oscar Niemeyer reúne, em Curitiba, 184 trabalhos de pacientes de um manicômio nos anos 40 a 60
Exposição resgata a pura arte vinda do inconsciente
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Pretensas análises clínicas do
que ia pela mente perturbada dos
seus autores, os profissionais da
psiquiatria só vão encontrar nas
informações fotográficas, nos documentários e em palestras paralelas. Nos 184 trabalhos reservados para a exposição "Imagens do
Inconsciente", que o MON (Museu Oscar Niemeyer), de Curitiba,
inaugura hoje, predominou o critério da arte, essencialmente.
A mostra reúne trabalhos inéditos de oito artistas consagrados
do acervo do Museu da Imagem
do Inconsciente, do Rio, todos pacientes de um manicômio nos
anos 1940 a 1960.
Fernando Diniz, Adelina Gomes, Emygdio de Barros, Carlos
Pertuis, Raphael Domingues e Arthur Amora, artistas plásticos
com reconhecimento histórico na
área no Brasil, são os autores da
maioria das obras reservadas nesta série. Geraldo Aragão e Abelardo Corrêa completam a relação de
escolhidos. Em setembro, a mesma seleção será levada para o Museu de Arte Bruta, de Paris.
Terapia
As obras são fruto da revelação
desses artistas nos ateliês de terapia ocupacional que a psiquiatra
Nise da Silveira montou em 1946,
no Centro Psiquiátrico Pedro 2º,
do Rio. À frente do seu tempo, a
médica tratou dos distúrbios da
mente de seus pacientes dando a
eles as condições para se manifestar artisticamente ou desenvolver
um ofício. Precisou enfrentar o
preconceito e a resistência da sociedade médica para continuar.
"A psiquiatria da época via no
louco uma pessoa em ruína, com
perda da inteligência, da afetividade, da criatividade. Esses trabalhos comprovam que estava errada", diz o curador da mostra e diretor do museu do Rio, Luiz Carlos Mello, 53. Ele trabalhou 27
anos com Nise da Silveira.
O museu que Mello dirige detém um acervo de 251 mil obras
de artistas revelados nas telas e na
moldagem de barro. No ano passado, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) reconheceu sua importância cultural ao tombar 126 mil trabalhos. As peças reservadas para
o MON fazem parte desse acervo.
Ao percorrer o hall e as duas salas que a exposição ocupa, o visitante terá contato com trabalhos
de equilíbrio estético e beleza. Nenhum dos pacientes de Nise da
Silveira teve formação acadêmica
antes da terapia no hospital. Tudo
é resultado da intuição.
Jung
Os trabalhos dos pacientes de
Nise da Silveira basearam estudos
científicos sobre a tese do potencial autocurativo da mente humana que ela debateu com Carl Gustav Jung. A médica morreu em
1999; faria cem anos neste mês.
Para a exposição, Mello reservou de Carlos Pertuis a série de telas geométricas que retratam o
circo. De Raphael Domingues, os
desenhos que ele fazia dispensando esboços. Os painéis geométricos feitos de velhas colchas do
hospital por Fernando Diniz são
as obras de maior dimensão. De
Adelina Gomes, o curador trouxe
telas de formas espontâneas de
mandalas e réplicas de esculturas
em barro que lembram imagens
pré-históricas.
Mais surpreendente é a arte de
Emygdio de Barros. Em contato
com a arte só aos 52 anos, e após
23 anos de internação, ele é considerado um dos gênios da pintura
brasileira pelo poeta Ferreira Gullar.
IMAGENS DO INCONSCIENTE. Onde:
MON - Museu Oscar Niemeyer (r.
Marechal Hermes, 999, Curitiba, PR, tel.
0/xx/41/350-4400). Quando: de hoje a
22/5, de ter. a dom., das 10h às 18h30.
Quanto: de R$ 2 a R$ 4.
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