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CINEMA
Protagonista de "Capote", ator norte-americano comenta suas atuações em "Boggie Nights" e "Missão Impossível 3"
"Sou um ator que pensa", diz Hoffman
DO "NEW YORK TIMES"
O primeiro grande papel do
ator Philip Seymour Hoffman,
quando ainda era estudante secundário, foi nada mais, nada menos que o de Willy Loman em "A
Morte de um Caixeiro Viajante".
Hoffman diz que sabia que o papel estava muito além de suas
possibilidades. Mas, pergunta,
qual o sentido de fazer algo que
você sabe que é capaz de fazer? "É
uma lei da natureza", ele explica.
"Quanto maior o risco, mais você
se sentirá impelido a vencer. Você
procura algo que o leve a um lugar
assustador, algo desconhecido, alguma coisa que ocupará todo seu
tempo, sua cabeça inteira, tudo."
Para ele, "muitos professores de
atuação dirão "não pense, apenas
aja". Mas eu tive um professor que
me disse: "Não, não, não. Pense.
Pense o tempo todo. Seja um ator
que pense. Por favor, não pare de
pensar'".
"Sim, mas esses atores estão
pensando em como vão errar",
respondeu o próprio Hoffman.
"Pensar não significa ficar inibido. Significa observar a bola e
pensar em como ela vai descrever
a curva. Assim, você tem uma
chance de conseguir batê-la."
Seu primeiro grande sucesso na
tela aconteceu em 1992, com "Perfume de Mulher". Hoje, Hoffman
analisa suas primeiras atuações
na tela e as acha agitadas demais e
insuficientemente focalizadas.
Mas em 1996 ele teve uma cena
forte como jogador inveterado no
primeiro longa de Paul Thomas
Anderson, "Jogada de Risco". Foi
o início de uma amizade estreita
com Anderson e de papéis em todos os filmes subseqüentes do diretor.
Sua atuação no papel de agregado gentil, loucamente apaixonado
pelo astro do cinema pornô representado por Mark Wahlberg
em "Boogie Nights" (1997), de
Anderson, marcou um avanço
importante em seu processo de
aprender a penetrar na cabeça de
um personagem, tanto diante da
câmera quanto longe dela.
"Em última análise, você precisa
ganhar uma compreensão profunda de como seu personagem
funciona e por que ele funciona
assim, para poder ter a confiança
de dar um passo à frente e abrir
sua boca", diz.
E na sala de edição de "Capote"
(filme que Hoffman co-produziu
e que concorre a cinco Oscars), ele
brigou com o diretor, Bennett Miller, para tornar seu personagem
menos atraente.
"Seria fácil montar o filme e não
mostrá-lo sob uma luz tão intransigente", disse Hoffman. "Eu falei:
"Para suscitar empatia com esse
personagem, é preciso na verdade
ser o mais intransigente possível
com ele. Quanto menos tolerante
se é com ele, mais empatia se conquistará ao final. Ou seja, você
ainda terá uma opinião muito forte dele, mas, se você realmente o
ver agir de maneira repreensível,
conseguirá entender por que ele
estaria passando pelo sofrimento
emocional que passou."
É assim, com certeza, que pensa
um ator que se exige e se critica
tanto: que o caminho para se tocar o coração do público passa pela auto-exposição impiedosa. É
esse sacrifício, afirma Hoffman,
que difere os grandes atores dos
assalariados comuns.
Hoffman está tentando não
pensar muito na corrida pelos
prêmios da Academia, que pode
acabar opondo dois tipos muito
diferentes de personagens gays: o
dândi loquaz representado por
Hoffman e o "Marlboro Man" de
poucas palavras recriado por
Heath Ledger.
Enquanto isso, Hoffman está
descansando, depois de encerrar
seu trabalho num papel de tipo
muito mais atlético: o vilão de
"Missão Impossível 3", em que
trabalhou com seu colega de
"Magnólia", Tom Cruise. Hoffman curtiu o treinamento físico e
a convivência com dublês, mas
essa foi uma exceção bem paga a
seu tipo de trabalho usual.
"Não é agradável viver nesses
sentimentos, viver nesses pensamentos", diz Hoffman. "Isso pode
resultar em dias difíceis, momentos em que você se torna alguém
com quem é difícil trabalhar. A intimidade que você conquista com
seu diretor e outras pessoas de um
filme, quando você passa por isso,
pode formar parte dos grandes
momentos de sua vida."
Tradução Clara Allain
Capote
Capote
Direção: Bennett Miller
Produção: Canadá/EUA, 2005
Com: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Chris Cooper
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco, Sala UOL e circuito
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