São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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CINEMA

Protagonista de "Capote", ator norte-americano comenta suas atuações em "Boggie Nights" e "Missão Impossível 3"

"Sou um ator que pensa", diz Hoffman

DO "NEW YORK TIMES"

O primeiro grande papel do ator Philip Seymour Hoffman, quando ainda era estudante secundário, foi nada mais, nada menos que o de Willy Loman em "A Morte de um Caixeiro Viajante".
Hoffman diz que sabia que o papel estava muito além de suas possibilidades. Mas, pergunta, qual o sentido de fazer algo que você sabe que é capaz de fazer? "É uma lei da natureza", ele explica. "Quanto maior o risco, mais você se sentirá impelido a vencer. Você procura algo que o leve a um lugar assustador, algo desconhecido, alguma coisa que ocupará todo seu tempo, sua cabeça inteira, tudo."
Para ele, "muitos professores de atuação dirão "não pense, apenas aja". Mas eu tive um professor que me disse: "Não, não, não. Pense. Pense o tempo todo. Seja um ator que pense. Por favor, não pare de pensar'".
"Sim, mas esses atores estão pensando em como vão errar", respondeu o próprio Hoffman. "Pensar não significa ficar inibido. Significa observar a bola e pensar em como ela vai descrever a curva. Assim, você tem uma chance de conseguir batê-la."
Seu primeiro grande sucesso na tela aconteceu em 1992, com "Perfume de Mulher". Hoje, Hoffman analisa suas primeiras atuações na tela e as acha agitadas demais e insuficientemente focalizadas. Mas em 1996 ele teve uma cena forte como jogador inveterado no primeiro longa de Paul Thomas Anderson, "Jogada de Risco". Foi o início de uma amizade estreita com Anderson e de papéis em todos os filmes subseqüentes do diretor.
Sua atuação no papel de agregado gentil, loucamente apaixonado pelo astro do cinema pornô representado por Mark Wahlberg em "Boogie Nights" (1997), de Anderson, marcou um avanço importante em seu processo de aprender a penetrar na cabeça de um personagem, tanto diante da câmera quanto longe dela.
"Em última análise, você precisa ganhar uma compreensão profunda de como seu personagem funciona e por que ele funciona assim, para poder ter a confiança de dar um passo à frente e abrir sua boca", diz.
E na sala de edição de "Capote" (filme que Hoffman co-produziu e que concorre a cinco Oscars), ele brigou com o diretor, Bennett Miller, para tornar seu personagem menos atraente.
"Seria fácil montar o filme e não mostrá-lo sob uma luz tão intransigente", disse Hoffman. "Eu falei: "Para suscitar empatia com esse personagem, é preciso na verdade ser o mais intransigente possível com ele. Quanto menos tolerante se é com ele, mais empatia se conquistará ao final. Ou seja, você ainda terá uma opinião muito forte dele, mas, se você realmente o ver agir de maneira repreensível, conseguirá entender por que ele estaria passando pelo sofrimento emocional que passou."
É assim, com certeza, que pensa um ator que se exige e se critica tanto: que o caminho para se tocar o coração do público passa pela auto-exposição impiedosa. É esse sacrifício, afirma Hoffman, que difere os grandes atores dos assalariados comuns.
Hoffman está tentando não pensar muito na corrida pelos prêmios da Academia, que pode acabar opondo dois tipos muito diferentes de personagens gays: o dândi loquaz representado por Hoffman e o "Marlboro Man" de poucas palavras recriado por Heath Ledger.
Enquanto isso, Hoffman está descansando, depois de encerrar seu trabalho num papel de tipo muito mais atlético: o vilão de "Missão Impossível 3", em que trabalhou com seu colega de "Magnólia", Tom Cruise. Hoffman curtiu o treinamento físico e a convivência com dublês, mas essa foi uma exceção bem paga a seu tipo de trabalho usual.
"Não é agradável viver nesses sentimentos, viver nesses pensamentos", diz Hoffman. "Isso pode resultar em dias difíceis, momentos em que você se torna alguém com quem é difícil trabalhar. A intimidade que você conquista com seu diretor e outras pessoas de um filme, quando você passa por isso, pode formar parte dos grandes momentos de sua vida."


Tradução Clara Allain

Capote
Capote
Direção: Bennett Miller
Produção: Canadá/EUA, 2005
Com: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Chris Cooper
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco, Sala UOL e circuito


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