São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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CINEMA

Obra documental do cineasta alemão é tema de retrospectiva que o É Tudo Verdade exibe em São Paulo e no Rio

Mostra traz a realidade segundo Herzog

Divulgação
Cena do filme belga "Rio Congo", um dos 16 títulos da disputa internacional do 11º Festival de Documentários - É Tudo Verdade


DA REPORTAGEM LOCAL

O alemão Werner Herzog fez no cinema um caminho às avessas. Depois de conquistar prestígio como autor de ficção, com filmes como "Aguirre, a Cólera dos Deuses" (1972) e "Nosferatu, o Vampiro da Noite" (1978), ele retornou ao documentário.
É a porção não-ficcional da obra de Herzog, 65, que o Festival Internacional de Documentários - É Tudo Verdade enfoca na Retrospectiva Internacional de sua 11ª edição, em São Paulo (23/3 a 2/4) e no Rio de Janeiro (24/3 a 2/4).
A seção trará dez títulos do cineasta, desde "Fata Morgana", segundo longa-metragem de sua carreira, realizado entre o fim dos anos 60 e o início de 1970, até o recente e desafiador "O Homem-Urso" (2005), saudado pela crítica (leia texto abaixo).
Amir Labaki, diretor e curador do É Tudo Verdade, destaca que Herzog é "um radical opositor da escola do cinema direto", vertente que o festival "celebrou no ano passado, na homenagem a Robert Drew [diretor norte-americano]".
Labaki faz a comparação entre os cineastas para afirmar que "essa é mais uma prova de que o cinema não-ficcional é tão rico e variado quanto o cinema de ficção".
Herzog é um conhecedor do Brasil e da cultura brasileira. Nos anos 80, ele filmou na Amazônia o épico "Fitzcarraldo". A atriz italiana Claudia Cardinale, estrela do filme, voltou a Manaus do ano passado, e lembrou as "dificuldades extremas" de produção, superadas, segundo ela, pela persistência de Herzog, "um homem que adora as coisas impossíveis".
O diretor passou novas temporadas no Brasil em 1992, quando dirigiu uma montagem da peça "Sonho de uma Noite de Verão", de Shakespeare; e em 2001, como diretor da ópera "Tannhäuser", de Wagner.
A retrospectiva exibirá também "Meu Melhor Inimigo" (1999), em que ele aborda sua tumultuada relação artística com o ator Klaus Kinski (1926-1991).

"Compromisso ético"
A relação que o documentarista estabelece com os personagens (reais) de seus filmes é o aspecto que está no centro do cinema documental, na opinião do professor de história do documentário e cineasta João Moreira Salles.
Na perspectiva de Moreira Salles, o "compromisso ético" entre o documentarista e o sujeito documentado não é uma questão, senão "a" questão do documentário, que "cada um irá resolver à sua maneira", como observou em palestra do programa Folha Documenta, em novembro passado.
A maneira como Herzog resolve essa questão estará clara ao espectador do festival nos três filmes já citados e também nos demais que compõem a mostra: "O Grande Êxtase do Entalhador Steiner" sobre o campeão de esqui Walter Steiner; "Lições da Escuridão", sobre a Guerra do Golfo; "Sinos do Abismo: Fé e Superstição na Rússia"; "Pequeno Dieter Precisa Voar", sobre o prisioneiro de guerra alemão Dieter Dengler; "Juliane Cai na Selva", sobre uma sobrevivente de desastre aéreo; "O Diamante Branco", que reconstitui um experimento científico; e "Além do Infinito Azul", que trata a hipótese de a Terra tornar-se inabitável.
Além da retrospectiva dedicada a Herzog, o É Tudo Verdade divulgou ontem os 16 títulos que estarão na disputa internacional. "É a competição internacional mais forte da história do festival", diz Labaki, ressaltando "a volta de cineastas que marcaram outras edições: Yoav Shamir, Peter Forgácz, Kim Longinotto, Juan Carlos Rulfo, Erik Gandini e Tarik Saleh, vencedores com "Sacrifício'".


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