EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Lembranças da família, o amor e a relação com o sucesso são alguns dos temas da entrevista que o escritor argentino Jorge Luís Borges (1899-1986) concedeu, no dia 23 de abril de 1980, ao jornalista espanhol Joaquin Soler Serrano, e que vai ao ar hoje, às 13h30, no STV. A conversa aconteceu por ocasião da entrega do prêmio Miguel de Cervantes a Borges, quando o boom do interesse em torno de sua obra, iniciado nos anos 60, chegava ao seu ápice.
Na entrevista de uma hora de duração, o mestre, como é chamado por Serrano, tem recém-completados 80 anos de idade. Ele fala da alegria de estar sendo lido cada vez mais por jovens e brinca: melhor falar, como se diz em francês, que tem quatro vezes 20.
Borges conta como a biblioteca de seu pai teve importância capital na sua formação. Na juventude, ele não saía de casa e, já na vida adulta, continuou a ler alguns dos títulos que pertenciam ao pai, cuja inteligência ele ressalta. De sua mãe, o escritor fala como estranhou não tê-la mais por perto, após a sua morte, para contar seus sonhos.
Dizendo-se tímido, o autor evita falar de assuntos íntimos, quando perguntado se encontrou, ao longo da vida, uma parceira ideal, além da literatura. Mas Borges reconhece que experimentou o amor de modo incessante e constante. Instigado a dizer se prefere o amor ou o sucesso, Borges é categórico ao optar pelo primeiro: "O fracasso e o êxito são dois impostores. Ninguém tem tanto sucesso ou tanto fracasso."
O autor fala de seu interesse pelos escritores alemães, sobretudo pelo filósofo Arthur Schopenhauer (1788-1860), e relembra seu encontro com conterrâneos e contemporâneos, como Ernesto Sábato e Julio Cortázar (1914-1984). No momento mais melancólico da entrevista, quase toda feita num tom otimista, Borges, que ficou cego nos anos 50, sentencia: "a cegueira é uma forma de solidão".