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CONEXÃO POP
Quase memória
Uma parte dos meus CDs está em casa; outra, na de minha mãe; alguns foram emprestados; e perdi vários
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
NESTA SEMANA, chegou a notícia de que uma cópia do "Álbum Branco" dos Beatles vai
a leilão na Inglaterra em 4 de março.
Trata-se de um item precioso para
colecionadores, já que esse vinil vem
com número de série "sete". (As cópias com número de um a quatro ficaram com os integrantes da banda;
as de cinco a dez foram entregues
para parentes e amigos.) A história
me chamou a atenção não porque eu
seja colecionador, pelo contrário:
por ser incapaz de colecionar qualquer coisa, fico fascinado ao me deparar com esses obstinados.
Como o norte-americano Paul
Mawhinney, que colocou à venda,
no eBay, coleção de 3 milhões de discos de vinil. Três milhões. Não tenho
capacidade para imaginar o que isso
significa, quanto tempo esse cara levou para juntar tantos LPs, onde ele
guarda, como faz para limpá-los...
Esses episódios me levaram a "Tudo se Ilumina", de Jonathan Safran
Foer. Sem querer estragar muito do
livro, mas ali temos um personagem
que coleciona os mais diversos objetos como uma necessidade de manter acesa a memória de fatos e pessoas ligadas à sua vida.
Por esse ponto de vista (mas não
apenas), sou um desastre.
Não sei se por desapego ou por
desleixo mesmo, não consigo colecionar nada, muito menos discos. E
minha memória é tão confiável
quanto as promessas de construção
de um estádio para o Corinthians.
Não faço a menor idéia de quantos
CDs eu tenha. Não sei nem onde eles
estão. Uma parte, em casa; outra, na
de minha mãe; tenho a impressão de
que alguns foram emprestados; e
perdi vários, muitos.
Quando me perguntam qual o primeiro disco que comprei, fico com
cara de bobo. Não lembro. Acho que
foi uma coletânea do Supertramp (a
"The Autobiography", cuja propaganda era martelada nas FMs dos
anos 1980), mas é provável que eu
esteja enganado -pode ser também
uma compilação do selo Islands que
tinha música do U2. Me recordo
apenas que comprei esses álbuns em
vinil. Onde eles estão? Tenho certeza de que em algum lugar.
É um descomprometimento que
muitos amigos apaixonados por
música consideram herético.
Hoje, com iPod, com a facilidade
de em dois ou três cliques ouvir música nova em blogs de MP3, com
MySpace etc., desisti, meio resignado, de iniciar uma coleção minimamente decente de discos.
Mas não me arrependo. É uma relação (a minha) emocional com a
música pop, mais instintiva do que
racional. O que faz meus amigos colecionadores e de memória afiada
me xingarem por eu achar "Young
Love", música nova dos Mystery
Jets, tão sensacional e indispensável. Veja no YouTube se é exagero.
O primeiro show de Nasi após a saída do Ira! será em 15/3, no clube
Clash, em SP. A briga do vocalista
com os ex-integrantes do grupo parece ter sido (parcialmente) resolvida. No show, Nasi será acompanhado pelo ex-baixista do Ira!, Gaspa.
thiago@folhasp.com.br
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