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Boyle liga seu filme ao espírito da era Obama
Inglês é o diretor de "Quem Quer Ser
um Milionário?", favorito a melhor filme
"Fizemos um filme que
casa com os novos tempos", afirma cineasta, que
ficou conhecido por "Trainspotting" (1996)
DO ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
Favorito ao Oscar de melhor
filme e forte candidato ao de
melhor diretor, "Quem Quer
Ser um Milionário?" foi feito
por um inglês de Manchester,
com uma equipe formada por
britânicos e indianos, falando
em inglês e hindi e com muçulmanos e hindus no elenco.
É passado em Mumbai, capital financeira da Índia e palco
do mais recente atentado terrorista em grande escala. Ao seguir a trajetória de três meninos de rua até a idade adulta,
Danny Boyle, 52, mostra uma
cidade vibrante mas profundamente desigual e uma sociedade dividida por questões religiosas e financeiras.
Por seu caráter multifacetado e ao lidar com problemas
muito atuais, "Quem Quer
Ser..." -com pré-estréia nas
principais capitais brasileiras
neste final de semana- tem sido chamado de o primeiro filme da "era Obama". A Folha falou sobre esse e outros assuntos com o diretor.
(SÉRGIO DÁVILA)
FOLHA - O sr. concorda com a associação entre seu filme e a chegada
ao poder de Barack Obama?
DANNY BOYLE - Bem, quando começamos a fazer o filme a ideia
de que ele se tornaria presidente dos Estados Unidos era inconcebível. Mas concordo num
sentido mais amplo, de que fomos contaminados pelo "zeitgeist" [espírito da época], de
que havia no ar um desejo por
mudança nos EUA, e esse ar
também estava nas locações do
filme. Extrapolando um pouco
mais, lembre-se que o filme se
passa em Mumbai, é falado em
uma língua que não o inglês, dirigido por um britânico. Nesse
sentido, lembra um pouco o
background internacionalista e
diverso de Obama.
Mas nos beneficiamos também de outros pioneiros, chamemos assim, como "O Tigre e
o Dragão", de Ang Lee [indicado a dez Oscars em 2001, ganhou quatro; foi o primeiro filme não-falado em inglês que
ultrapassou US$ 100 milhões
de bilheteria na história dos
EUA].
Além disso, acho que fizemos
um filme que casa com os novos tempos. Diferentemente de
"A Praia", em que invadi a Tailândia quase como uma potência colonial, com um exército
de estrangeiros, dessa vez fui à
Índia com uma equipe mínima,
e contratei o maior número de
locais que consegui. Essa será a
maneira de filmar nesse século
que finalmente começa, nesses
novos tempos.
FOLHA - Você foi acusado de ter se
aproveitado financeiramente das
crianças que atuaram, de ter pago
baixos salários em comparação com
o que o filme tem faturado [US$ 88
milhões nos EUA, US$ 61 milhões no
resto do mundo até agora, para um
orçamento de US$ 15 milhões].
BOYLE - Nós fizemos um plano
desde o início e seguimos o plano. Consistia em criar um fundo para os atores menores de
idade que pagará boas escolas
para eles até que cheguem à
universidade. Acho que pessoas locais, provavelmente
bem intencionadas, distorceram as coisas. Além disso, criamos um outro fundo, com uma
porcentagem dos lucros que eu
não posso revelar qual é, que
investirá em entidades beneficentes de Mumbai, especialmente as que lidam com crianças de rua como as do filme.
FOLHA - E "Cidade de Deus", de
Fernando Meirelles. O sr. já disse
que não gosta da comparação, mas
a influência é evidente.
BOYLE - Assisti ao filme três ou
quatro vezes, adoro o Fernando. Mas, ao sentar para filmar,
decidi: farei tudo, menos um
novo "Cidade de Deus". Por um
tempo, todos os filmes que se
passam em contextos miseráveis queriam ser os novos "Cidade de Deus". Acho que consegui fazer algo diferente, mas
posso entender o que dizem de
influência se a referência for a
paixão de contar uma história
de gente marginalizada, que
não tem suas histórias contadas frequentemente.
FOLHA - O seu é o favorito na categoria de melhor filme no Oscar.
Duas perguntas: acha que vai ganhar? E conseguiu assistir a "O Curioso Caso de Benjamin Button"
[166 minutos de duração] até o fim?
BOYLE - [Risos] Você vai me colocar em confusão. Digamos
que vi todos os filmes que concorrem ao Oscar. Sei que é chavão dizer isso, mas concorrer já
é uma honra, porque os outros
candidatos são excepcionalmente bons -e isso não é verdade em todos os anos. E claro
que quero ganhar: quem diz
que não quer está mentindo.
Quanto a "Benjamin Button",
você pode dizer isso, eu não.
Adoro [o diretor] David Fincher, "Seven", "Clube da Luta".
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