São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2009

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Boyle liga seu filme ao espírito da era Obama

Inglês é o diretor de "Quem Quer Ser um Milionário?", favorito a melhor filme

"Fizemos um filme que casa com os novos tempos", afirma cineasta, que ficou conhecido por "Trainspotting" (1996)


DO ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Favorito ao Oscar de melhor filme e forte candidato ao de melhor diretor, "Quem Quer Ser um Milionário?" foi feito por um inglês de Manchester, com uma equipe formada por britânicos e indianos, falando em inglês e hindi e com muçulmanos e hindus no elenco.
É passado em Mumbai, capital financeira da Índia e palco do mais recente atentado terrorista em grande escala. Ao seguir a trajetória de três meninos de rua até a idade adulta, Danny Boyle, 52, mostra uma cidade vibrante mas profundamente desigual e uma sociedade dividida por questões religiosas e financeiras.
Por seu caráter multifacetado e ao lidar com problemas muito atuais, "Quem Quer Ser..." -com pré-estréia nas principais capitais brasileiras neste final de semana- tem sido chamado de o primeiro filme da "era Obama". A Folha falou sobre esse e outros assuntos com o diretor. (SÉRGIO DÁVILA)

 

FOLHA - O sr. concorda com a associação entre seu filme e a chegada ao poder de Barack Obama?
DANNY BOYLE
- Bem, quando começamos a fazer o filme a ideia de que ele se tornaria presidente dos Estados Unidos era inconcebível. Mas concordo num sentido mais amplo, de que fomos contaminados pelo "zeitgeist" [espírito da época], de que havia no ar um desejo por mudança nos EUA, e esse ar também estava nas locações do filme. Extrapolando um pouco mais, lembre-se que o filme se passa em Mumbai, é falado em uma língua que não o inglês, dirigido por um britânico. Nesse sentido, lembra um pouco o background internacionalista e diverso de Obama.
Mas nos beneficiamos também de outros pioneiros, chamemos assim, como "O Tigre e o Dragão", de Ang Lee [indicado a dez Oscars em 2001, ganhou quatro; foi o primeiro filme não-falado em inglês que ultrapassou US$ 100 milhões de bilheteria na história dos EUA].
Além disso, acho que fizemos um filme que casa com os novos tempos. Diferentemente de "A Praia", em que invadi a Tailândia quase como uma potência colonial, com um exército de estrangeiros, dessa vez fui à Índia com uma equipe mínima, e contratei o maior número de locais que consegui. Essa será a maneira de filmar nesse século que finalmente começa, nesses novos tempos.

FOLHA - Você foi acusado de ter se aproveitado financeiramente das crianças que atuaram, de ter pago baixos salários em comparação com o que o filme tem faturado [US$ 88 milhões nos EUA, US$ 61 milhões no resto do mundo até agora, para um orçamento de US$ 15 milhões].
BOYLE
- Nós fizemos um plano desde o início e seguimos o plano. Consistia em criar um fundo para os atores menores de idade que pagará boas escolas para eles até que cheguem à universidade. Acho que pessoas locais, provavelmente bem intencionadas, distorceram as coisas. Além disso, criamos um outro fundo, com uma porcentagem dos lucros que eu não posso revelar qual é, que investirá em entidades beneficentes de Mumbai, especialmente as que lidam com crianças de rua como as do filme.

FOLHA - E "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles. O sr. já disse que não gosta da comparação, mas a influência é evidente.
BOYLE
- Assisti ao filme três ou quatro vezes, adoro o Fernando. Mas, ao sentar para filmar, decidi: farei tudo, menos um novo "Cidade de Deus". Por um tempo, todos os filmes que se passam em contextos miseráveis queriam ser os novos "Cidade de Deus". Acho que consegui fazer algo diferente, mas posso entender o que dizem de influência se a referência for a paixão de contar uma história de gente marginalizada, que não tem suas histórias contadas frequentemente.

FOLHA - O seu é o favorito na categoria de melhor filme no Oscar. Duas perguntas: acha que vai ganhar? E conseguiu assistir a "O Curioso Caso de Benjamin Button" [166 minutos de duração] até o fim?
BOYLE
- [Risos] Você vai me colocar em confusão. Digamos que vi todos os filmes que concorrem ao Oscar. Sei que é chavão dizer isso, mas concorrer já é uma honra, porque os outros candidatos são excepcionalmente bons -e isso não é verdade em todos os anos. E claro que quero ganhar: quem diz que não quer está mentindo.
Quanto a "Benjamin Button", você pode dizer isso, eu não. Adoro [o diretor] David Fincher, "Seven", "Clube da Luta".


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