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Crítica/"Elvira Madigan"
Tragédia romântica discute intolerância
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
"Que belo casal!", diz
a empregada de
um hotel à filha
quando se aproximam, com jeito de quem vai se hospedar ali,
os protagonistas de "Elvira Madigan" (1967). Não há, de fato,
como deixar de admirá-los.
Mais jovem, ela tem os traços
delicados, cabelos loiros e muito longos; ele, moreno, ainda se
mantém atlético e jovial.
Tamanha beleza e felicidade
escondem, no entanto, um problema: trata-se de um casal em
fuga. Ele (Thommy Berggren,
de "Crianças de Domingo") é
um conde casado, tenente do
exército sueco, e desertou para
viver idílio romântico com uma
acrobata dinamarquesa (a estreante Pia Degermark, prêmio
de melhor atriz em Cannes)
que abandonou a família (e o
circo do qual era estrela) sem
nenhum aviso.
O "Concerto para Piano nº
21" de Mozart, com Géza Anda
como solista, embala reiteradamente a reconstituição da história verídica ocorrida em 1889,
quando talvez fosse mais implacável o cerco (policial, inclusive) a quem ousasse desafiar
dessa forma leis e convenções.
A ênfase do diretor Bo Widerberg ("Joe Hill - O Desejo
Final") e do fotógrafo Jörgen
Persson (braço direito de Bille
August em "Pelle, o Conquistador" e "As Melhores Intenções") no romantismo, que talvez pareça hoje um tanto ingênuo e exagerado, está a serviço
da tentativa de compreender os
porquês da história.
Como os letreiros iniciais já
anunciam o desfecho, acompanha-se o idílio em busca do que
possa explicá-lo -e, dadas as
circunstâncias, entende-se
também que Widerberg preencheu à sua maneira as lacunas
deixadas pelo episódio verídico, transformando em fábula o
que poderia ser argumento de
telefilme norte-americano.
Contemporâneo de Ingmar
Bergman (1918-2007) no cenário sueco, Widerberg (1930-1997) foi um tanto eclipsado,
como outros de sua geração,
pela sombra do mestre. Com
"Elvira Madigan", cavou seu espaço como um diretor de grande sensibilidade para a tragédia
romântica e para a denúncia da
intolerância social, de que "Todas as Coisas São Belas" (1995),
seu derradeiro longa, é exemplo ainda mais significativo.
ELVIRA MADIGAN
Lançamento: Versátil
Quanto: R$ 45, em média
Classificação indicativa: 14 anos
Avaliação: bom
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