São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2009

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Crítica/"Elvira Madigan"

Tragédia romântica discute intolerância

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

"Que belo casal!", diz a empregada de um hotel à filha quando se aproximam, com jeito de quem vai se hospedar ali, os protagonistas de "Elvira Madigan" (1967). Não há, de fato, como deixar de admirá-los.
Mais jovem, ela tem os traços delicados, cabelos loiros e muito longos; ele, moreno, ainda se mantém atlético e jovial.
Tamanha beleza e felicidade escondem, no entanto, um problema: trata-se de um casal em fuga. Ele (Thommy Berggren, de "Crianças de Domingo") é um conde casado, tenente do exército sueco, e desertou para viver idílio romântico com uma acrobata dinamarquesa (a estreante Pia Degermark, prêmio de melhor atriz em Cannes) que abandonou a família (e o circo do qual era estrela) sem nenhum aviso.
O "Concerto para Piano nº 21" de Mozart, com Géza Anda como solista, embala reiteradamente a reconstituição da história verídica ocorrida em 1889, quando talvez fosse mais implacável o cerco (policial, inclusive) a quem ousasse desafiar dessa forma leis e convenções.
A ênfase do diretor Bo Widerberg ("Joe Hill - O Desejo Final") e do fotógrafo Jörgen Persson (braço direito de Bille August em "Pelle, o Conquistador" e "As Melhores Intenções") no romantismo, que talvez pareça hoje um tanto ingênuo e exagerado, está a serviço da tentativa de compreender os porquês da história.
Como os letreiros iniciais já anunciam o desfecho, acompanha-se o idílio em busca do que possa explicá-lo -e, dadas as circunstâncias, entende-se também que Widerberg preencheu à sua maneira as lacunas deixadas pelo episódio verídico, transformando em fábula o que poderia ser argumento de telefilme norte-americano.
Contemporâneo de Ingmar Bergman (1918-2007) no cenário sueco, Widerberg (1930-1997) foi um tanto eclipsado, como outros de sua geração, pela sombra do mestre. Com "Elvira Madigan", cavou seu espaço como um diretor de grande sensibilidade para a tragédia romântica e para a denúncia da intolerância social, de que "Todas as Coisas São Belas" (1995), seu derradeiro longa, é exemplo ainda mais significativo.


ELVIRA MADIGAN
Lançamento: Versátil
Quanto: R$ 45, em média
Classificação indicativa: 14 anos
Avaliação: bom



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