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Crítica
Filme dos Coen é reciclagem oportunista
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Filmes podem enganar. A
primeira visão, e também a segunda, de "Onde os Fracos
Não Têm Vez" (TC Pipoca,
20h; não recomendado a menores de 16 anos) me impressionaram vivamente: o filme
dos Coen parecia vibrar a cada
cena e, embora a situação central (sujeito acha dinheiro que
não lhe cabe e é perseguido implacavelmente) seja banal, a figura de Javier Bardem, o demoníaco perseguidor, é memorável.
Com o tempo, no entanto, as
virtudes se distanciaram. A
memória me restitui um filme
bem à moda dos Coen: reciclagem oportunista de um cinema
antigo, sem nada de novo em
especial a dizer.
Já seu filme seguinte, a comédia "Queime Depois de
Ler", me impressionou muito
menos, mas com o tempo cresce na lembrança e na estima, e
a situação central (mulher arma um grande golpe apenas para fazer as mil plásticas a que a
induz seu médico) parece dizer
muito mais sobre o mundo de
hoje do que o outro.
É uma experiência absolutamente subjetiva, mas talvez
nem tanto: quem chega hoje ao
cinema mal pode acreditar no
prestígio que um dia teve William Wyler e nem desconfia
que Hitchcock era, para todos
os efeitos, só um cineasta comercial. Hoje a publicidade é
agressiva na busca da mitificação de "autores". Mas muita
água vai rolar antes que saibamos qual o lugar dos Coen nessa história (a do cinema).
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