São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2009

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Crítica

Filme dos Coen é reciclagem oportunista

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Filmes podem enganar. A primeira visão, e também a segunda, de "Onde os Fracos Não Têm Vez" (TC Pipoca, 20h; não recomendado a menores de 16 anos) me impressionaram vivamente: o filme dos Coen parecia vibrar a cada cena e, embora a situação central (sujeito acha dinheiro que não lhe cabe e é perseguido implacavelmente) seja banal, a figura de Javier Bardem, o demoníaco perseguidor, é memorável.
Com o tempo, no entanto, as virtudes se distanciaram. A memória me restitui um filme bem à moda dos Coen: reciclagem oportunista de um cinema antigo, sem nada de novo em especial a dizer.
Já seu filme seguinte, a comédia "Queime Depois de Ler", me impressionou muito menos, mas com o tempo cresce na lembrança e na estima, e a situação central (mulher arma um grande golpe apenas para fazer as mil plásticas a que a induz seu médico) parece dizer muito mais sobre o mundo de hoje do que o outro.
É uma experiência absolutamente subjetiva, mas talvez nem tanto: quem chega hoje ao cinema mal pode acreditar no prestígio que um dia teve William Wyler e nem desconfia que Hitchcock era, para todos os efeitos, só um cineasta comercial. Hoje a publicidade é agressiva na busca da mitificação de "autores". Mas muita água vai rolar antes que saibamos qual o lugar dos Coen nessa história (a do cinema).


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