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São Paulo, sábado, 22 de março de 2003

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LITERATURA

TODOS OS CONTOS DO MACHADO

Sete narrativas nunca lançadas em livro foram achadas na Biblioteca do Congresso

Inéditos do escritor vêm de Washington

Divulgação
O escritor Joaquim Maria Machado de Assis aos 25 anos, idade com que escreveu cinco contos


DA REPORTAGEM LOCAL

Não de muito longe do gabinete que ordenou esta semana a invasão ao Iraque é que vem os achados mais recentes na obra do maior escritor brasileiro.
Foi na Biblioteca do Congresso, em Washington, que Djalma Cavalcante encontrou sete contos de Machado de Assis que permaneciam inéditos em livros.
As narrativas em questão, que tiveram seus nomes mantidos em segredo até o dia de lançamento de "Contos Completos de Machado de Assis", foram publicadas apenas em periódicos cariocas com os quais o autor colaborava.
Quase toda a obra de Machado de Assis saiu originalmente dessa forma, fonte de sustento primária para um dos nossos primeiros escritores profissionais -de acordo com Cavalcante, apenas oito contos machadianos não foram publicados em imprensa antes de chegarem aos livros.
Foi nessas publicações efêmeras, assim, que o pesquisador enfiou o nariz ao decidir compilar toda a narrativa breve do escritor.
Ao "se enterrar" na Biblioteca Nacional (RJ), porém, Cavalcante se deu conta de alguns buracos inquietantes nas prateleiras.
A coleção do "Jornal das Famílias", para o qual Machado escrevia mensalmente, não estava completa. Checando o "Dicionário Bibliográfico de Machado de Assis", de J. Galante de Souza, de 1958, levantamento mais exaustivo sobre a obra do bruxo, vislumbrou uma "heureca".
Não estavam listados contos nos mesmos meses em que a BN tinha lacunas do periódico carioca. "Como bom colonizado cultural que sou, decidi ir atrás dessas publicações na Biblioteca do Congresso de Washington", diz Cavalcante, entre risadas, ajeitando seus óculos à Machado de Assis.
"Fiquei estarrecido", relembra. "Eles tinham tudo. Tudo. De todos os periódicos da época, eles têm cópias microfilmadas, em perfeito estado." Bingo.
Das sete histórias inéditas que encontrou, não só no "Jornal da Família", mas também em periódicos como "A Marmota" e "A Época", o pesquisador diz ter provas concretas da autenticidade de apenas cinco. Às outras duas, Cavalcante atribui 70% de possibilidade de serem legítimos relatos machadianos.
"Tudo, do ponto de vista estílistico, sintático, temático, leva a crer que são dele a história."
Para chegar a essas conclusões se baseia no "estudo obsessivo" que fez de cada uma das histórias.
Nas suas seis viagens à capital norte-americana para a pesquisa, quando era professor da Universidade de Roma, Cavalcante, que têm todas as primeiras edições de Machado, copiou os microfilmes de todas as histórias que saíram originalmente na imprensa.
Foi o próprio pesquisador que redigitou, letra a letra, os 218 contos reunidos nos volumes que organiza. Célia Lima, revisora, foi a única assistente do escritor nesse projeto quixotesco.
Cavalcante, que também organizou (com a pesquisadora Cecília de Lara) os contos completos de Alcântara Machado para a editora Ática, pretende se voltar agora para esse autor modernista, de quem vem fazendo uma detalhada biografia. "Não falemos nisso agora. Cada Machado na sua vez", brinca Cavalcante.
(CASSIANO ELEK MACHADO)

CONTOS COMPLETOS DE MACHADO DE ASSIS. Organização: Djalma Cavalcante. Lançamento: editora da Universidade Federal de Juiz de Fora/ Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/ABL. Quando: dia 4 de abril, às 17h (haverá lançamento em São Paulo em 14 de abril). Onde: Academia Brasileira de Letras (av. Presidente Wilson, 203, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21/2524-8230). Quanto: preços ainda não definidos.


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