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"AUTO DA PAIXÃO E DA ALEGRIA"
Tempestade desafia teatro brasileiro da Fraternal
SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Com as águas de março fechando o verão e bombas
caindo sobre o Iraque, a Fraternal
Cia. de Artes e Malas-Artes abriu
anteontem o 12º Festival de Teatro de Curitiba sem se intimidar.
Raios atravessavam a translúcida
Ópera de Arame, goteiras tamborilavam em irônicos guarda-chuvas na platéia, mas nada, nem o ribombar dos trovões, lembretes da
estupidez da guerra, tirou a concentração da companhia.
Afinal estavam lá para defender
a solar parábola de Luís Alberto
de Abreu de que "o homem é a
utopia de Deus". Com paixão e
alegria, ostentando a fome de vida
de João Teité, o arlequim nordestino, 13º apóstolo de Cristo, neste
auto profano e cheio de fé que é o
"Auto da Paixão e da Alegria".
Uma tempestade assim, a Ópera
de Arame só viu na sua inauguração, quando Cacá Rosset abriu o
primeiro festival com seu "Sonho
de uma Noite de Verão", dando
início a um ciclo de aberturas espetaculares, de grandes diretores
e orçamentos. Em época de economia de guerra, a tempestade de
anteontem começa um outro ciclo talvez, o das montagens de orçamento enxuto, cujos atores assumem a responsabilidade pelo
resultado contando com pouco
mais do que a cara e a coragem.
Quase ingênuo no esforço de
preencher com suas cores a Ópera
de Arame, o estandarte da Fraternal tornou-se o emblema de um
teatro brasileiro que está não tanto na Mostra Oficial, mas sobretudo no Fringe, a mostra paralela,
com grupos prontos a contornar
qualquer precariedade em nome
do direito de dar a cara a bater.
Este novo ciclo remete a 1947,
em Avignon, França, quando Jean
Vilar improvisou um palco diante
do Palácio dos Papas, dando início ao que é hoje o mais prestigioso festival de teatro do mundo. Será que um dia Curitiba vai se tornar um Avignon tropical? Não
perca o próximo capítulo.
ilustrada online
Confira a programação completa do festival em www.folha.com.br/especial/2003/festivaldeteatrodecuritiba/
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