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LIVRO/CRÍTICA
Com Klauss Vianna, a arte é antes de tudo um gesto de vida
INÊS BÓGEA
CRÍTICA DA FOLHA
"Não podemos aceitar técnicas prontas, porque na
verdade as técnicas de dança nunca estão prontas: têm uma forma,
mas no seu interior há espaços
para o movimento único, para as
contribuições individuais, que
mudam com o tempo." São palavras de Klauss Vianna (1928-92),
cujo livro "A Dança", em colaboração com Marco Antônio de
Carvalho, ganha reedição em boa
hora, passados 15 anos de seu lançamento. Ele resume todo um
conjunto de reflexões e inquietudes de um mestre cuja contribuição para a arte brasileira só ganha
mais relevância com a passagem
do tempo.
Klauss deixou sua lição inscrita
nos corpos e na fantasia de dezenas de artistas - entre eles, Zélia
Monteiro, Lia Robatto, Antônio
Nóbrega, Marília Pêra, Renata
Sorrah e Gracindo Junior. Klauss
foi professor de dança em Belo
Horizonte, na Bahia, no Rio e em
São Paulo e ao mesmo tempo desenvolveu um intenso trabalho
com atores, como na peça "Roda
Viva", de Chico Buarque, dirigida
por José Celso Martinez Corrêa,
ou em "Navalha na Carne", de Plínio Marcos.
Nesta nova edição, o livro traz
uma apresentação de Angel Vianna, sua parceira, que hoje dá continuidade ao trabalho original por
outro viés em sua faculdade/escola no Rio. Traz ainda um prefácio
de Neide Neves, preparadora corporal e professora da Anhembi-Morumbi e da PUC-SP e que foi
casada com seu único filho, Rainer Vianna (1958-95). No mais,
conserva na íntegra o texto da primeira edição, com a apresentação
de Luís Pellegrini e um texto de
Ana Francisca Ponzio.
A maior parte do livro consiste
num relato pessoal de Klauss, dividido em dois grandes blocos: a
vida e a técnica. Infelizmente, a
nova edição não se preocupou em
registrar alguns fatos relevantes
ocorridos de lá para cá (incluindo
a morte do autor, assim como de
outros nomes que aparecem ao
longo do texto). Por outro lado, a
inserção de fotos do trabalho de
Klauss enriquece muito a obra.
Na primeira parte, surgem suas
primeiras observações do corpo e
do gesto humano, registrando um
verdadeiro entrelaçamento da
dança com a vida; segue-se o início do aprendizado com Carlos
Leite (1914-95) e com Maria Olenewa (1896-1965), seu convívio
com artistas como Guignard,
Amílcar de Castro e Ceschiatti,
seu interesse pela dança como
pensamento e sensação de um
corpo único. Para ele, o gesto no
balé envolve não apenas a memória de um corpo, mas de todos os
homens; ou seja, deve portar um
significado humano e não se limitar à forma enquanto forma.
Na segunda parte do livro, o que
estava insinuado na primeira aparece mais forte, cercado de reflexões sobre sua metodologia
-uma indicação de caminho,
mais do que um conjunto de regras a serem seguidas. São temas
perpetuamente urgentes, mas
contingentemente precisos: o
tempo interior, a observação do
entorno e do próprio corpo, o
conflito, a liberdade, a abertura
para o novo.
Num domínio como o da nossa
dança, de bibliografia tão esparsa,
a reedição deste livro é motivo
real de alegria. Serve de modelo,
também, para o que poderia e deveria ser a inserção da dança no
debate intelectual brasileiro.
A Dança
Autor: Klauss Vianna
Editora: Summus
Quanto: R$ 29,70 (160 págs.)
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